sábado, 20/04/2024
FGV IBRES
Rodolpho Tobler: "O FGV IBRE está começando a se instalar na região Nordeste, onde deve ser lançado um escritório em Fortaleza"

Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE: “O mercado de trabalho nordestino tem indicado resultados piores em relação ao resto do país”

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Ter um emprego formal neste país não é uma tarefa fácil. O último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em janeiro deste ano, mas referente aos últimos três meses até novembro de 2022, mostrou que a taxa de desemprego caiu 8,1%. Para completar, os efeitos do aumento da taxa de juros podem pesar no mercado de trabalho este ano. Na região Nordeste essa situação não é nada confortável, porque o salário médio é menor que em outras regiões, há um alto número de desalentados.

O desemprego é muito forte no Nordeste Foto: Agência Brasília

A alegria de viver, a satisfação,  foram constadas na Sondagem do Mercado de Trabalho da Fundação Getulio Vargas IBRE como dados inéditos sobre a região Nordeste. Essa apresentação aconteceu esta semana em Fortaleza, no Ceará. Aliás, foi a primeira vez que a FGV foi para o Nordeste e agora será instado um escritório na capital cearense para ter um olhar mais apurado nesta região composta por nove Estados e com mais de 57 milhões de habitantes.

Essa satisfação surpreendeu o pesquisador, porque “a dinâmica do mercado de trabalho nordestino tem mostrado números mais frágeis, indicado resultados piores em relação ao resto do país”, ressaltou. “O Nordeste tem a maior taxa de desemprego, alto número de desalentados e renda média inferior às demais regiões”, completou.

Na pesquisa apresentada pelo economista Rodolpho Tobler, coordenador das Sondagens do Comércio e de Investimentos da Superintendência Adjunta para Ciclos Econômicos do  FGV IBRE , um dos pontos que chama a atenção no trabalho é que os trabalhadores nordestinos reclamaram da carga horária elevada e baixa remuneração. “Indica um problema estrutural de produtividade na região, onde pode estar se trabalhando muito, mas com uma remuneração aquém”, pontuou.

Essa Sondagem inédita no Nordeste tem como objetivo aprofundar temas sobre o mercado de trabalho, complementando as informações atualmente disponíveis pelas pesquisas já existentes. “A dinâmica do mercado de trabalho vem mudando muito e a necessidade de mais informações se torna mais importante para basear políticas públicas”, disse Rodolpho Tobler.

Mestrando em Economia e Finanças pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV EPGE), Rodolpho Tobler conversou esta semana com o Só Sergipe .

Confira.

SÓ SERGIPE –   Na última quarta-feira, o FGV IBRE lançou uma pesquisa inédita com dados sobre o mercado de trabalho na região Nordeste e a apresentação foi em Fortaleza, no Ceará. De agora em diante essa será uma prática? Ou seja, a apresentação de dados em capitais nordestinas?

FGV
Flávio Ataliba e Rodolpho Tobler, durante lançamento da Sondagem Foto: Youtube

RODOLPHO TOBLER – O FGV IBRE está começando a se instalar na região Nordeste, onde deve ser lançado um escritório em Fortaleza em breve, com uma equipe local dedicada. A ideia é que o FGV IBRE participe cada vez mais em dados regionais, não só sobre mercado de trabalho, como outros temas.

SÓ SERGIPE – De que forma a Sondagem poderá nortear os governadores, que tomaram posse este ano, para que desenvolvam políticas públicas em benefício da população?

RODOLPHO TOBLER – A Sondagem tem como objetivo aprofundar temas sobre o mercado de trabalho, complementando as informações atualmente disponíveis pelas pesquisas já existentes. A dinâmica do mercado de trabalho vem mudando muito e a necessidade de mais informações se torna mais importante para basear políticas públicas.

SÓ SERGIPE – O número de pessoas consultas – duas mil com mais de 14 anos – em todo o país, não é pequeno, diante do tamanho do Brasil?

RODOLPHO TOBLER – Essa amostra é feita para ter uma margem de erro satisfatória, respeitando as regras estatísticas de amostragem e permitem observar dados nacionais e alguns recortes regionais com segurança estatística.

SÓ SERGIPE – Se os pesquisados têm mais de 14 anos, muitos estão em idade escolar e podem estar na escola sem trabalhar. O contrário também acontece. Não seria interessante um recorte somente com essa faixa etária, para saber se estão ou não no mercado de trabalho formal ou informal?

RODOLPHO TOBLER – A pesquisa coleta informações com mais de 14 anos de idade, porque é a idade permitida para se começar a trabalhar, mas não necessariamente as pessoas nessa idade estão trabalhando. Eles participam da pesquisa e podem responder que não estão trabalhando. O recorte por faixa de idade fica restrito pelo tamanho da amostra. Nesse nível de detalhamento é necessária uma amostra maior nessa categoria.

SÓ SERGIPE – O fato de ter pessoas pesquisadas a partir de 14 anos, não prejudica para mostrar realmente quem estava ou não trabalhando?

RODOLPHO TOBLER – A partir de 14 anos de idade, pelos conceitos internacionais, são pessoas em idade ativa, que podem estar trabalhando. Todas as pesquisas sobre mercado de trabalho mapeiam essa categoria, mas não necessariamente eles estão trabalhando.

SÓ SERGIPE – Em até que idade foi aplicada a pesquisa? 

RODOLPHO TOBLER – Não tem um limite superior. Todas as idades acima de 14 anos podem ser coletadas na pesquisa.

SÓ SERGIPE – O que mais chamou a atenção na Sondagem do Mercado de Trabalho? E por quê?

RODOLPHO TOBLER – Chama a atenção as diferenças regionais que a pesquisa mostra. A sondagem captou informações sobre satisfação com o trabalho, insegurança com trabalho ou renda, bem-estar e um detalhamento dos trabalhadores por conta própria que vem ganhando importância no mercado de trabalho brasileiro.

SÓ SERGIPE – Durante a apresentação da Sondagem, o economista Flávio Ataliba ficou impressionado com o último dado que retrata o bem-estar dos entrevistados nordestinos. Pelo menos  7,6% deles disseram que estão satisfeitos com a vida. Qual sua reação diante desse dado?

RODOLPHO TOBLER – É um resultado de certa forma surpreendente porque a dinâmica do mercado de trabalho nordestino tem mostrado números mais frágeis, indicado resultados piores em relação ao resto do país. O Nordeste tem a maior taxa de desemprego, alto número de desalentados e renda média inferior às demais regiões. Mas ainda assim com uma satisfação com a vida superior, o que mostra que outras variáveis podem estar sendo consideradas na conta dessas pessoas, e que talvez a base de comparação entre as pessoas de cada região possa ser diferente.

SÓ SERGIPE – Numa nova Sondagem, valerá a pena ter um aprofundamento sobre essa questão do bem-estar do nordestino?

RODOLPLHO TOBLER – É um objetivo da pesquisa, em outras edições conseguir complementar esses dados e buscar entender os principais fatores.

SÓ SERGIPE – Outro detalhe importante é que 77,5% dos pesquisados no Nordeste disseram estar satisfeitos com o trabalho, mas 90,2% desejam a formalização sendo CNPJ ou tendo carteira assinada. Não parece contraditório olhando os percentuais? O senhor poderia explicar?

RODOLPHO TOBLER – Um fator que pode ajudar a explicar esse dado alto de satisfação é que o mercado de trabalho na região Nordeste parece muito difícil. As pessoas têm tido dificuldade para conseguir emprego e muitas vezes com baixa remuneração e alta informalidade. Então, nessa região, o fato de conseguir um emprego já pode gerar uma satisfação maior que em outras regiões. Mas mesmo com essa satisfação, eles não deixam de mirar questões que os empregos formais possuem, como rendimento fixo e benefícios que as empresas costumam dar. Então, apesar de satisfeitos, eles têm também o desejo de formalização.

SÓ SERGIPE – Nesta Sondagem, antes de trabalharem por conta própria, 24,7% dos pesquisados estavam desempregados. Qual, então, o número de nordestinos desempregados? Não é bastante significativo, já que são nove estados na Região Nordeste?

RODOLPHO TOBLER – A região Nordeste tem hoje 12,0% de taxa de desemprego. A maior do país, e isso ocorre em todos os trimestres divulgados pelo IBGE, desde 2012.

SÓ SERGIPE – Ao trabalhar por conta própria, o percentual de nordestinos que sonha com a independência financeira é de 33,5%, maior que a média brasileira que foi de 22,9%. Mas somente 1,9% deles tem CNPJ.  O que o trabalhador precisa fazer para conquistar essa independência, na sua opinião?

RODOLPHO TOBLER – Os trabalhadores por conta própria muitas vezes são associados com trabalhos precários e de necessidade mais urgente. De fato, essa parece ser boa parte da dinâmica desse grupo ocupacional, mas o que observamos é que tem uma motivação grande das pessoas em buscar independência e flexibilidade ao buscar esse tipo de ocupação. Sugerindo que além da necessidade, tem uma parte que parece estar nessa categoria por vontade própria.

 SÓ SERGIPE – Pelo menos 26,8% disseram que estavam desempregados e precisavam de um bom emprego. A pesquisa não diz, no entanto, que trabalho por conta própria as pessoas têm. Isso poderá ser aprofundado?

RODOLPHO TOBLER – A pesquisa tenta mapear melhor os trabalhadores por conta própria e deve ter novas edições sobre o tema devido a relevância dessa categoria no mercado de trabalho nacional e regional.

SÓ SERGIPE – O risco de conseguir um bom salário leva as pessoas a trabalharem por conta própria – 5,8% no Nordeste. Neste item a baixa escolaridade destas pessoas é preponderante para não estarem numa boa posição no mercado de trabalho?

RODOLPHO TOBLER – Tem uma relação muito grande em informalidade e baixa escolaridade, isso ajuda a explicar em parte esse resultado maior de trabalhadores informais nessas regiões e que gostariam de deixar essa categoria, mas nem sempre conseguem.

SÓ SERGIPE – Quando a pesquisa questiona por quanto tempo a pessoa se sustentaria caso perdesse o emprego ou a fonte de renda, 73,4% dos nordestinos disseram que em até três meses.  Foi questionado quanto essas pessoas ganham por mês? Esse percentual de 73,4% não lhe parece alto?

RODOLPHO TOBLER – Esse percentual mais concentrado em 3 meses vai muito em linha com a dinâmica do mercado de trabalho local. A alta informalidade e o percentual maior de trabalhadores por conta própria não permitem esses trabalhadores adquirirem benefícios como auxílio desemprego e fundo de garantia, o que permitiria apenas poucos meses de sustento caso perdessem a ocupação ou fonte de renda.

SÓ SERGIPE – Ainda que felizes, os nordestinos estão insatisfeitos com a baixa remuneração, pouco com nenhum  benefício, carga elevada de trabalho.  E a satisfação é grande no Nordeste: 77,5%. Não é um tanto contraditório, se olharmos a satisfação e insatisfação?

RODOLPHO TOBLER – Os tópicos de insatisfação foram respondidos apenas pelas pessoas que estavam insatisfeitas, que representam um percentual menor. Dentro dessa categoria, chama a atenção as reclamações de carga horária elevada e baixa remuneração, indicando um problema estrutural de produtividade na região, onde pode estar se trabalhando muito, mas com uma remuneração aquém.

SÓ SERGIPE – O senhor tem algum recorte da situação em Sergipe?

RODOLPHO TOBLER – Ainda não possuímos dados por unidade da federação, pode ser algo no futuro com o incremento da meta amostral.

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