quinta-feira, 25/04/2024
SOMA”, uma droga distribuída pelo governo para garantir o controle sobre os indivíduos (Admirável Mundo Novo)

Soma

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Marcus Éverson Santos (*)

 

Qualquer sociedade que esteja sob o controle patológico de um líder totalitário encontra-se em Guerra Psicopolítica. Para compreender o status desse tipo especial de guerra promovida pelo aparato do Estado contra o próprio tecido social, faz-se necessário analisá-lo a partir de uma nova categoria psicopolítica: a Patocracia. Numa “sociedade patocrática” todo o sistema de governança, bem como as relações sociais, encontram-se completamente corroídos pela ação de psicopatas no poder. Define-se uma Patocracia um tipo peculiar de sociedade tomada pela violência, pela insensibilidade e por uma intensa desproporcionalidade nas instâncias de poder.

No Brasil, como se não bastassem os graves problemas de âmbito social e econômico, quando bem imaginávamos ter chegado ao fundo do poço, eis que encontramos um alçapão. O atoleiro de insensatez brasileira ganhou novos contornos com a votação de 5 (cinco) dos 11 (onze) ministros do Supremo Tribunal Federal favoráveis à descriminalização do porte da maconha para uso próprio. A votação abre caminho para uma das mais poderosas e destrutivas ferramentas de guerra psicológica: a drogadização da sociedade com fins de controle e lavagem cerebral das massas.

O Recurso Extraordinário de número 635.659 da Defensoria Pública de São Paulo que reacendeu a discussão sobre descriminalização e o porte de drogas, especialmente da maconha, mas, que também pode estender as demais drogas, conta com o apoio incondicional de partidos políticos de esquerda tais como o PSOL e o PCO (Partido da Causa Operária). O projeto de 2014 foi protocolado pelo ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) que prevê também a produção, o consumo e o comércio da droga.

O relator do projeto no STF, o ministro Gilmar Mendes, reconfigurou seu voto que descriminalizava todas as drogas para o uso próprio para que a restrição da declaração de inconstitucionalidade pudesse adequar-se às exorbitantes apreensões da maconha. A decisão do ministro Gilmar incorporou os parâmetros que foram propostos pelo ministro Alexandre de Moraes para que fossem tipificados como usuários pessoas que estiverem portando entre 25g a 65g de maconha ou até seis plantas fêmeas. Claro que, com um mínimo de leitura da realidade, esse tipo de parametrização em um país mergulhado até as tampas num lodaçal de desrespeito à Constituição, jamais será realmente aferido. No fim das contas, alguns gramas a mais ou a menos, não significam nada diante do que “o bom jeitinho brasileiro” não possa resolver.

Ainda não houve decisão final sobre o tema, mas, tudo vem sendo preparado para que o Ato final da “Ópera do Malandro” não decepcione a plateia dos que militam na causa da descriminalização. A votação final foi interrompida, supreendentemente, pelo pedido de vista do ministro Cristiano Zanin que, com o mínimo de lucidez, divergiu do colegiado afirmando que a decisão de descriminalizar contraria a razão de ser da lei, além de contribuir para agravar mais ainda o já dramático problema de saúde pública relacionado ao vício.

Se a decisão final for pela descriminalização, os únicos parâmetros jurídicos objetivos existentes na legislação vigente oferecerão poucas condições de diferenciar claramente quem é o usuário ou traficante. No Brasil, as chances de um salto qualitativo de usuário para traficante não é muito difícil de acontecer. No âmbito jurídico, com o  entendimento de que todos são interpretes da constituição, teoria proposta por Peter Häberle em seu livro Hermenêutica Constitucional – tese que muito entusiasma a Suprema Corte –  quanto mais aberta a interpretação do texto legal mais justas e democráticas serão as decisões jurídicas. Não sem razão, o Brasil tornou-se um país exposto ao ativismo e à subversão jurídica.

Na Lei 11.343/2006, que dispõe sobre o porte de droga para consumo próprio, permanece a despenalização, mas, não a descriminalização. Despenalizar significa afastar a pena de privação de liberdade. Portar drogas permanece crime, mas, sem pena de privação da liberdade. Quaisquer que sejam as decisões, quanto mais abertas do ponto de vista jurídico mais “democráticas”. O judiciário brasileiro, sustentando-se na tese de Häberle de que, numa democracia participativa e aberta, devemos permitir a ampla participação da sociedade, nos coloca diante de uma total insegurança frente às decisões jurídicas. Tornamo-nos num país com onze constituições; uma para cada ministro do STF. Se envolvermos, como defende Häberle, os demais movimentos sociais, políticos e midiáticos como interpretes da Constituição, a esquizofrenia atinge um nível incalculável.

No Brasil estamos vivenciando uma guerra por meios não convencionais. O alvo dessa guerra não é somente a saúde pública, mas, também, um ataque à inteligência das pessoas. Vivenciamos uma guerra hibrida orquestrada por psicopatas no poder. Por meio dessa estratégia maléfica, psicopatas encontraram um meio sustentável para financiar suas sandices. O livro Da Guerra de Carl von Clausewitz esclarece muito bem que “a guerra é a política por outros meios”. A drogadização social é uma estratégia política (de guerra) para subverter e escravizar a população. A drogadização é uma dentre tantas estratégias de guerra psicológica; trata-se de um meio muito eficaz de vulnerabilização programática de gerações inteiras, sobretudo, as das camadas mais populares e de vulnerabilidade social.

Há no Brasil um plano deliberado de drogadização como meio de controle político, social e psicológico. Desde o alto escalão do sistema judiciário passando pela classe política, todos estão muito empenhados em condenar gerações inteiras de jovens por meio de atos e decisões que atentam contra a saúde pública. Usuários de drogas, alienados pela propaganda estatal costumam questionar o seguinte:

Por que não criminalizar também o álcool?”  Respondo peremptoriamente o seguinte: “Já temos problemas suficientemente graves com o uso do álcool e outras drogas; em vista disso, não há qualquer justificativa plausível para liberar mais uma droga”.

Note que não isento o álcool de ser também uma droga que traz sérios problemas sociais. Mas, por hora, não é essa a droga em discussão. A discussão que desejo levantar aqui é da total drogadização patocrática da sociedade, isto é, o uso programático de decisões políticas de descriminalização de drogas como arma de destruição psicossocial. O controle social por meio da liberação das drogas não é uma novidade. No Brasil, a drogadização patocrática tornou-se um novo imperativo categórico em nossas relações sociais. Não há limites morais, tão pouco psicológicos que impeçam um psicopata de usar a drogadização como arma de controle social.

A presença massiva de psicopatas no poder não é um tema desconhecido da psiquiatria. O psiquiatra polonês Andrzej Lobaczewki, em seu livro Ponelorologia: psicopatas no poder”, ocupou-se em estudar como psicopatas influenciam as relações sociais entre as pessoas e abrem caminho para acumular mais poder, criando uma sociedade patologicamente tomada pelo interesse próprio e insensível aos direitos e ao bem-estar alheios. Andrzej Lobaczewki afirma que:

Em uma civilização deficiente no conhecimento psicológico, indivíduos hiperativos direcionados pelas suas dúvidas internas, que são causadas pela sensação de ser diferente, encontram facilmente um eco pronto nas consciências pouco desenvolvidas de outras pessoas. Tais indivíduos sonham impor seu poder e seus diferentes modos de experimentar sobre seus ambientes e sua sociedade. Infelizmente, em uma sociedade ignorante psicologicamente seus sonhos têm uma boa chance de se tornar realidade para eles e um pesadelo para os outros.

(Lobaczewki, 2014, pág.32)

No Brasil, a cada nova eleição, o efeito contagioso da maldade política, na forma de uma avalanche de insensibilidade, invade rapidamente as entranhas da vida social destruindo qualquer esperança em dias melhores. Quando introduz o estudo da Ponerologia no âmbito dos estudos sociais, Lobaczewki deseja mostrar a natureza do mal no contexto da política. Ao estudar a natureza da maldade (Ponerologia) e como a ignorância acerca desse fenômeno pode minar em definitivo o tecido social, o pesquisador a trata sob uma ótica interdisciplinar. No âmbito dos estudos psicopatológicos, a Ponerologia dialoga com ciências tais como, a Sociologia, História, Política, Antropologia e a Psiquiatria. Quem quer que se dedique ao estudo da Ponerologia não demorará muito até perceber que, quando uma sociedade encontra-se patologizada, isto é, ao se permitir ser governada por indivíduos maléficos no poder, os efeitos dessa escolha terão um custo altíssimo.

O termo Ponerologia proposto por Lobaczewki tem sua origem a partir do grego antigo derivado da palavra “ponëros”, que significa “mal” ou “vil” e somado ao sufixo “logia”, referindo-se ao “estudo”, ao “sentido” ou estudo mal. Trata-se de um estudo sobre o sentido e as causas da maldade tanto nos sistemas políticos quanto nos sociais. A descriminalização do uso de drogas, embora pareça ser uma atitude altruísta e humanitária para, como dizem alguns, “acabar com o poder do tráfico”, não quer dizer que haja de fato um interesse genuíno em resolver esse grave problema de saúde pública.

O poder patocrático cria o problema para depois oferecer uma solução também patocrática. Vejamos, por exemplo, com que “argumento patocrático” a agora aposentada ex-ministra do STF a Rosa Weber defende a descriminalização. Segundo ela, a decisão de criminalizar a conduta de um usuário é desproporcional por atingir a autonomia privada, estigmatizar e impedir os efeitos da lei quando prescreve o tratamento e a reinserção social dos dependentes. Disse a ex-ministra:

Essa incongruência normativa, alinhada à ausência de objetividade para diferenciar usuário de traficante, fomenta a condenação de usuários como se traficantes fossem”

(Rosa Weber).

Bastaríamos perguntar à ex-ministra o seguinte: “Que tipo de autonomia um dependente químico tem quando está em crise?”. Insistamos:  “Mesmo que certo usuário nunca tenha entrado em crise, quem assegurará que – com uso contumaz da droga – ele não irá sucumbir e perder a autonomia?” Reflitamos ainda:  “Nesses casos de perda total de autonomia, o que devemos então salvaguardar, a lei ou a recomposição da saúde do usuário?”

Não é difícil compreender que a questão da “reinserção social” do usuário só poderá de fato acontecer se este for realmente recuperado das drogas. Isso implica dizer que a mera prescrição legal da reinserção social, sem uma real construção social a qual possamos reinserí-lo, não vale nada. Estamos colocando a “carroça na frente dos bois” ao liberar as drogas, sem resolver os problemas econômico-sociais que fragilizam e precipitam muitos ao abismo. Mais urgente que a descriminalização das drogas é a reconstrução econômica e social, sem a qual, não há como fazer com que o ex-usuário, uma vez recuperado, possa encontrar objetivamente uma nova alternativa de vida.

O que a ex-ministra não consegue perceber, bem como os demais ministros que votaram favorável à descriminalização, é que, para além da mera prescrição jurídica, há uma imbricação muito forte entre o usuário e o traficante, sobretudo, em países como o Brasil marcado por um profundo fosso social. Assim, tal como na dialética do senhor e do escravo” em Hegel, não haveria o usuário sem a existência do traficante. Se, do ponto de vista dialético-social um deixar de existir, o outro também deixará de existir.

Defensores da descriminalização argumentam dizendo: “Se descriminalizarmos, o traficante passará por maus bocados financeiros”. Retruco dizendo o seguinte: “Ledo engano; se descriminalizarmos em pouco tempo, traficantes pedirão anistia na Justiça para que tenham seus crimes por tráfico desfeitos e, além disso, veríamos também muitos desses novos “empresários” das drogas se transformarem numa nova oligarquia política e econômica”. Teríamos então mais uma oligarquia dentre tantas que já existem em nosso país. Veríamos surgir um esquema altamente sustentável para a maquinaria estatal patocrática. De um lado usuários livres para consumir e aumentar os cofres dos empresários das drogas e, por outro, criminosos anistiados vendendo e pagando impostos ao governo que, para zero surpresa, passaria a ter duas fontes de recolhimento de impostos para, com eles, continuar propagandeando políticas públicas ineficientes de falso combate às drogas.

Antes que a “turminha da ciência” esbraveje que estou sendo “negacionista” por me imiscuir em falar dos “benefícios terapêuticos da maconha”, peço licença ao leitor para expor na íntegra uma Nota de Esclarecimento de 2019 do CFM (Conselho Federal de Medicina) e do CFP (Conselho Federal de Psiquiatria) contestando a posição da ANVISA quanto ao plantio da Cannabis com fins medicinais:

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) declaram apoio ao posicionamento do ministro Osmar Terra (Cidadania) que criticou, publicamente, declarações do diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Renato Porto, que, em entrevista, manifestou seu desejo de “deslanchar” a regulação para o plantio da Cannabis com “fins medicinais” no Brasil.

Assim como o ministro Osmar Terra, o CFM e a ABP entendem que medida nesse sentido é prejudicial ao País. O uso da Cannabis (maconha) ainda não possui evidências científicas consistentes que demonstrem sua eficácia e segurança aos pacientes. Desse modo, a regulação do plantio e uso dessa droga coloca em risco esse grupo, além de causar forte impacto na sociedade em sua luta contra o narcotráfico e suas consequências.

No entendimento do CFM e da ABP, até o momento, somente o canabidiol, um dos derivados da Cannabis Sativa L., tem a autorização para sua prescrição de modo compassivo no tratamento de epilepsias em crianças e adolescentes refratários aos métodos convencionais. Isso decorre da existência de mínimos estudos em forma de pesquisa que atestam essa possibilidade.

Ressalte-se que a Resolução CFM nº 2.113/2014, na qual essa autorização está prevista, por sua vez, proíbe aos médicos a prescrição da Cannabis in natura para uso medicinal, bem como de quaisquer outros derivados que não o canabidiol.

Finalmente, é importante lembrar que, além dos aspectos clínicos deletérios citados, uma possível regulação do plantio da Cannabis com “fins medicinais” no Brasil conflita com o Decreto nº 9.761/2019, que propõe uma nova Política Nacional Sobre Drogas (PNAD).

Essa nova sistemática de assistência psiquiátrica aos dependentes químicos, que recentemente foi aprovada, se baseia no fortalecimento da rede de atenção psicossocial no País, no reconhecimento do papel dos médicos nas ações antidrogas e na percepção de que a dependência química é uma condição que necessita de tratamentos clínico e social dignos ao invés de uma abordagem focada na redução de danos.

Diante desses fatos, o CFM e a ABP solicitam à Anvisa que suspenda qualquer iniciativa visando a regulação para plantio e comercialização da Cannabis com “fins medicinais”, o que depende de uma análise técnica e clínica com a participação do Conselho, conforme prevê a Lei do Ato Médico (nº 12.842/2013), e de um amplo debate com a sociedade.

No Brasil, não há um amplo debate sobre os pontos exposto nessa Nota de Esclarecimento. Com a investida criminosa de psicopatas no poder, dissimulada de falso humanitarismo público, o tema jamais foi discutido livre de arroubos políticos e ideológicos. Não podemos esperar muito de uma Patocracia. Psicopatas no poder jamais discutem quebrar o pote de ouro que alimenta sua casta política e partidária. Psicopatas no poder são insensíveis às repercussões criminosas de suas decisões. O real escopo das políticas de descriminalização é a destruição gradual da capacidade de julgamento e cognição da população usando um expediente ideológico e, como se contata com frequência, anticientífico. Nesse sentido, o colapso programático da sociedade brasileira encontra-se às vésperas de abrir mais um alçapão no fundo do poço com as tais políticas públicas de descriminalização da Cannabis.

Listemos agora alguns estudos de referência para que a “turminha da ciência” não encha meu saco.

Alguns mostram, por exemplo, a profunda relação entre o uso da Cannabis e o aumento de casos de depressão e suicídio: Madruga CS, Miguel AQC, Massaro LTDS, Caetano R, Laranjeira R. Cannabis Consumption Onset and Addiction: Data from the Second Brazilian Drugs and Alcohol Survey (BNADS). J Psychoactive Drugs. 2022; Gobbi G, Atkin T, Zytynski T, Wang S, Askari S, Boruff J, Ware M, Marmorstein N, Cipriani A, Dendukuri N, Mayo N. Association of Cannabis Use in Adolescence and Risk of Depression, Anxiety, and Suicidality in Young Adulthood: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Psychiatry. 2019.

Sobre o uso da cannabis e o baixo desempenho escolar e universitário sugiro a leitura dos estudos: Silins E, Horwood LJ, Patton GC, Fergusson DM, Olsson CA, Hutchinson DM, Spry E, Toumbourou JW, Degenhardt L, Swift W, Coffey C, Tait RJ, Letcher P, Copeland J, Mattick RP; Cannabis Cohorts Research Consortium. Young adult sequelae of adolescent cannabis use: an integrative analysis. Lancet Psychiatry. 2014; Hines LA, Freeman TP, Gage SH, Zammit S, Hickman M, Cannon M, Munafo M, MacLeod J, Heron J. Association of High-Potency Cannabis Use With Mental Health and Substance Use in Adolescence. JAMA Psychiatry. 2020.

Sobre os casos de uso de cannabis e aumento de casos de automutilação sugiro a leitura do estudo: Fontanella CA, Steelesmith DL, Brock G, Bridge JA, Campo JV, Fristad MA. Association of Cannabis Use With Self-harm and Mortality Risk Among Youths With Mood Disorders. JAMA Pediatr. 2021. Alguns estudos apontam que o uso contumaz de drogas pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo tais como a inteligência, a memória e o controle dos impulsos tais como: Morin JG, Afzali MH, Bourque J, Stewart SH, Séguin JR, O’Leary-Barrett M, Conrod PJ. A Population-Based Analysis of the Relationship Between Substance Use and Adolescent Cognitive Development. Am J Psychiatry. 2019; Conrod PJ. Cannabis and Brain Health: What Is Next for Developmental Cohort Studies? Am J Psychiatry. 2022.

Sobre as consequências após leis de descriminalização para uso medicinal da cannabis recomendo a leitura do artigo: Hasin DS, Sarvet AL, Cerdá M, Keyes KM, Stohl M, Galea S, Wall MM. US Adult Illicit Cannabis Use, Cannabis Use Disorder, and Medical Marijuana Laws: 1991-1992 to 2012-2013. JAMA Psychiatry. 2017.

Vejamos o que nos diz a Associação Brasileira de Psiquiatria:

O uso e abuso das substâncias psicoativas presentes na cannabis causam dependência química, podem desencadear quadros psiquiátricos e, ainda, piorar os sintomas de doenças mentais já diagnosticadas. Esse é o caso da esquizofrenia – estima-se que o risco para desenvolvimento da doença seja quatro vezes maior e o uso de cannabis piora o prognóstico da doença. O uso de cannabis também está associado à alteração basal de humor, à depressão, ao transtorno bipolar, aos transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e à ideação suicida. […] Alguns veículos midiáticos brasileiros têm endossado estudos sobre os possíveis “benefícios” da cannabis, corroborando para interpretações equivocadas e contribuindo para a impressão de que a maconha é um produto totalmente seguro e inofensivo para o consumo, sobretudo pelos mais jovens. Essa “publicidade” positiva remete à época em que os cigarros eram comercializados com chancela da mídia e até mesmo de parte da comunidade médica para atender interesses financeiros.

Revista da Associação Brasileira de Psiquiatria (https://doi.org/10.25118/2763-9037.2022.v12.393)

A drogadização programática da sociedade é uma verdadeira arma de Guerra Psicopolítica. No Brasil estamos replicando uma tática comum entre governos autoritários mundo afora. Invariavelmente, governos usaram estratégias sistemáticas de drogadização da sociedade como arma de guerra. O leitor pode objetar o seguinte: “Mas, por que um governo usaria uma arma de destruição em massa contra seu próprio povo? Quem, em sã consciência, usaria tal expediente contra seu próprio país?” A resposta às tais perguntas é: “Somente um governo psicopata é capaz de travestir suas sandices usando uma consistente aparência de normalidade em suas ações para melhor atingir seus objetivos.

Robert D. Hare em seu livro “Sem Consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós”, muitos psicopatas aproveitam-se da confiança que depositam nele para melhor atender às suas próprias necessidades. Usam sua posição de poder e confiança intencionalmente para cometer abusos. No Brasil, não precisamos ir tão longe para suspeitar que, com raríssimas exceções, esse é o motivo pelo qual tantos estão na política, no judiciário dentre tantos outros cargos de poder. Psicopatas sempre estão de olho naqueles que são mais vulneráveis. Não há medida mais perniciosa de vulnerabilização de uma população do que destruir sua capacidade de cognição por meio de mecanismos propagandísticos de dessensibilização e descriminalização.

No livro (Red Cocaine) Cocaína Vermelha: Drogadização da América e do Ocidente de Joseph D Douglass, uma das maiores autoridades sobre o uso político das drogas, são expostos os planos de drogadização levadas a cabo por ditaduras tais como na URSS, na China, Vietnã e, para zero surpresa, na América Latina.  O livro de Joseph D Douglas nos mostra que políticas de dessensibilização tinham como instrumento o uso de drogas como meio de degradar a sociedade em geral. Numa ofensiva com meios não convencionais de guerra com o uso de drogas, o principal alvo são os jovens de uma sociedade. Uma vez assumindo cargos políticos, sociais e educacionais, com seus valores já corroídos, muitos desses jovens e futuros profissionais estarão contribuindo (com suas ideias) para a subversão total da sociedade.

Segundo Joseph D Douglas, sob o Efeito Psicopolítico dessa ação deliberada, os jovens são constantemente aliciados a fazerem parte desse séquito de ativistas. Quando bem organizados os ativistas farão marcha e coro pró-drogadização exigindo das autoridades a descriminalização. Esse é o momento mais esperado pelos Patocratas, posto que, com o apelo das massas, ele enxerga uma excelente oportunidade para simular empatia com a causa e encorajar os indivíduos a caminharem para o abismo. Ao elogiar a coragem política dos jovens, ao estimular as massas com farta propaganda, a estratégia de Guerra Psicopolítica estará completa.

Aldous Huxley Foto: Wikipedia

Sob o efeito anestésico das drogas, alguns dirão que, recreativamente, sentem-se mais felizes com seu uso. Se, por ventura, com o consumo e venda de drogas, a cota de felicidade pública for bem distribuída, o patocrata não precisará ser perturbado com pautas prioritárias como educação pública de qualidade, saneamento básico e segurança. A distribuição da “felicidade” estatal como instrumento de controle psicológico ganhou, na literatura distópica, uma excelente representação. No livro “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, para garantir a felicidade das massas, todos se encontram sob o efeito de “SOMA”, uma droga distribuída pelo governo para garantir o controle sobre os indivíduos. A droga estatal da distopia de Huxley tem a finalidade de espargir felicidade coletiva e impedir que os indivíduos percebam a maquinaria totalitária que os cercam.

Quando agentes públicos e representantes do povo, mancomunados com o judiciário, movimentos políticos e sociais se unem para defender a descriminalização e impulsionar a drogadização da sociedade, camuflando seus efeitos maléficos e destrutivos, estão usando uma das principais estratégias da Psicopolítica.

No Brasil, se abrirmos o alçapão no fundo do poço, nos daremos conta de que a maior parte dos nossos jovens são usuários de drogas, e, aqueles que ainda não usaram, acham a descriminalização uma ação razoável em termos de política pública. Fato que confirma a forma eficiente da propaganda positiva de dessensibilização e camuflagem impetrada por psicopatas no poder.

Tal como nos mostra o livro de Joseph D Douglass, a Guerra Psicopolítica foi largamente aplicada por regimes totalitários sob o Comunismo, o Fascismo, o Nazifascismo e o Imperialismo. Afinal de contas, na visão patocrática de líderes como Stalin, Mao Tsé Tung e Nicolas Maduro, destruir a saúde do filho de um burguês é um modo muito razoável de expropriação. Destruir completamente a capacidade cognitiva do filho de um burguês impedindo-o de seguir adiante com seu status é uma maneira “politicamente saudável” de acabar com o “capitalismo selvagem”. Demolindo seu vínculo familiar e deixá-lo exposto à maquinaria do tráfico de drogas é uma maneira “razoavelmente aceitável” em guerra psicopolítica.

Sob o efeito da drogadização, nenhum individuo alvo da “SOMA” estatal será capaz de administrar seus bens, de constituir família, tampouco ter uma vida digna. No livro de Neil Morton, “Guerra Psicológica: La guia fundamental para entender el comportamiento humano”, um dos maiores manuais de guerra psicológica lemos o seguinte:

“[…] Guerra psicológica se utiliza para manipular o público para que aprove as políticas governamentais que de outra maneira seriam rechaçadas.”

Sob o efeito psicológico dessa guerra, a sociedade não se dá conta de que está sob uma ação orquestrada de subversão. Os defensores da descriminalização comemoraram nas ruas o voto de cinco dos ministros do STF pró-drogadização movidos pela fissura da “Soma” Estatal.  Essa comemoração denuncia que, parte significativamente grande da sociedade brasileira ainda não se deu conta que estamos em guerra. A cabeça dos que estão expostos a drogadização são meras buchas de canhão da guerra psicopolítica. Com punho em riste e sob o olhar reprovador dos defensores da descriminalização, escuto palavras de ordem revolucionária e gritos fissurados a julgar que estou fazendo um Bicho de Sete Cabeças”! A “SOMA” do poder totalitário descrito por Huxley em seu “Admirável Mundo Novo” deixou de ser distópica, e seu suposto efeito salutar é mera propaganda para nos controlar melhor.

 

 

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Sobre Marcus Everson Santos

Marcus Everson
Professor, Palestrante, Licenciado em Filosofia, licenciado em Filosofia, Mestre e Doutor em Educação: membro da Academia Maçônica de Ciências, Artes e Letras. Colunista do Portal Só Sergipe.

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5 comentários

  1. Parabéns pelo trabalho, professor!

  2. Muito bom o texto!!

  3. Excelente artigo, professor!!

  4. Eis que são prepostos do grande mal, e seu nome é legião.

    Estas primeira linhas acima bem que podem servir de epígrafe às considerações, ato temerário, que ora teço ao artigo ensaístico do professor doutor Marcus Éverson.

    Devo, antes de tudo, manter em mente que estou a responder, sob a forma de comentário, ao texto intenso, rigoroso do professor Éverson. Digo isto a mim mesmo. Para que não me deixe levar pela inclinação caprichosa de estender ad libitum impressões e mais impressões. Quem deve brilhar é o brilhante articulista, não o pouco versado comentador.

    Abordar tão terrível realidade a acontecer debaixo dos nossos narizes, os quais se recusam, por medo e inércia, a lhe sentir a fedentina, é levar a efeito ato nobre e corajoso. Reações contrárias e virulentas sao uma possibilidade. professor Éverson sabe muito bem disso, e não se acovardou.

    Manifesta-se, o bravo articulista, pela nobreza, também, sim, pois, de maneira generosa, elaborou um texto, o qual, ainda que acondicionado ao formato “artigo”, opera na seara ensaística, a oferecer ao leitor, hábil exercício epistemológico e hermenêutico.

    O professor Éverson recusa-se à pirotecnia da bibliografia gratuita. Ou, sarcasticamente dizendo, não cede ao recurso barato de incluir referências a mancheias. Os autores selecionados para aporte e respectivas citações são inseridos de modo cirúrgico.

    Assim, devidamente fundamentado, sem, contudo, abrir mão da assinatura pessoal, o autor segue em direção ao mais semovente campo de confronto: o das ideias.

    “SOMA”, é alerta e indignação. O professor Éverson está a apontar para um muito próximo futuro distópico. E, tanto mais grave, por ser agora, neste presente, que estamos a engolir doses cada vez maiores de “soma”, nos mantendo num bizarro estado de sono, traduzindo tal condição como felicidade, calmaria…

    E, sem que percebamos, uma tormenta se aproxima.

  5. José marcos de Andrade Júnior

    Excelente texto!

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