quinta-feira, 28/11/2024
O bode Imagem: Pixabay

A ponte e o bode

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Por Nilton Santana (*)

 

O Proletário vivia com sua família à margem do rio e usava sua canoa para atravessar as águas e ir até a cidade que ficava do outro lado. Um dia, o Diabo, louco para irritar o Proletário, que agradava tanto a Deus, fura a sua canoa enquanto o Proletário estava em casa. Ao tentar ir para a cidade, o Proletário identifica a sua canoa furada, o Diabo aparece, chega para ele e diz:

— Sua canoa está furada. Hahahaha. Não vais mais para a cidade.

— Que pena! Queria fazer uma proposta a você.

O Diabo com tom debochado continua:

— Qual proposta? Somente aceito se eu levar a sua alma. Hahahaha.

O Proletário o ignora e diz:

— Construa uma ponte para mim e o primeiro ser que cruzar a ponte, será seu. O ser terá que cruzar a ponte sem a sua interferência. Nada de assustar ou impedir o ser.

— Por que eu iria impedir?

— Vai que seja um ser cuja alma você não queira?

— Eu quero a alma de todos!

O Proletário querendo ir direto ao ponto diz:

— Você aceita ou não?

— Aceito.

— Mas terá outra condição.

— Mais uma? Qual?

— Depois da ponte construída, jamais você poderá destruí-la. Terá que ficar sempre ali, e você mesmo terá que repará-la de tempos em tempos.

O Diabo diz:

— Trato aceito!

Ambos fazem um contrato assinado e reconhecido por cartório. Os próprios Anjos celestiais, apesar de terem dito ao Proletário para mudar de ideia, foram as testemunhas do acordo.

O Diabo construiu com euforia a ponte e estava louco para mostrar a Deus como um seguidor fiel o abandonava. E pensava consigo: “Que Proletário idiota, vendeu a alma dele e da sua mulher.”

Após ter construído a ponte o Diabo chamou o Proletário:

— Veja, aí está a ponte! Quando vai atravessar?

— Em breve, antes vou ao terreno pegar um bode.

E assim, o fez. O Proletário soltou o seu bode na ponte que a atravessou rapidamente sem problemas.

— Eu não quero a alma deste bode! Tome este bode para você de volta! Quero a alma do Proletário!

O Diabo se enfureceu, o bode para ele não tinha serventia. O bode poderia ter serventia aos homens e a Deus! Mas não ao Diabo. O Diabo irritou-se grandemente após ter sido ludibriado. O Diabo estava pronto para sacudir a sua fúria, quando Deus resolveu proteger o astuto Proletário.

Os Céus se abriram e de lá Anjos desceram com espadas flamejantes. O Diabo conteve sua ira. Um dos Arcanjos entrega um pequeno bilhete escrito pelo punho do próprio Deus que dizia: “Tu se lascou! Cumpra o contrato!”

O Proletário recolhe o seu bode que passa a ser o animal que sempre lembrará a todos a ocasião em que o Diabo foi enganado. E ainda diz:

— Os bodes servem para enganar os diabos que estão aí.

O Diabo retira-se irritado e o Céu cai na maior gargalhada! Inclusive o próprio Deus!

 

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Sobre Nilton Santana

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Nascido em Aracaju, professor de História, membro da Loja Estrela de Davi e amante dos estudos sobre religiosidades e mitologia

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