quarta-feira, 11/09/2024
Educação
Educação é um direito de todos Foto: Agência Brasil

Competição em desequilíbrio

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Por Manuel Luiz Figueiroa (*)

 

Era uma vez duas crianças de classe média alta que tinham 6 e 7 anos. O pai advogado e a mãe médica, como todos os pais, tinham como prioridade a educação das crianças.

Os dois filhos estudavam numa das melhores escolas particulares da cidade, pois a escola pública não é a mais indicada e, consequentemente, a mensalidade que pagavam comprometia uma boa percentagem dos rendimentos do casal. Ocorre que, também, os meninos frequentavam o futebol, natação, curso de violão, de judô etc. Dessa forma, todas essas atividades faziam parte da formação educacional das crianças.

Registre-se que apenas a despesa com a escola regular é que goza benefício do Imposto de Renda, deixando um vazio que o legislador poderia corrigir. Não há dúvida de que a sugestão acima, uma vez colocada em prática, traria benefícios sociais para os pais e, também, para os empresários daqueles serviços, com aumento da demanda, que ajudam na formação das crianças.

A rotina semanal dos meninos é de segunda a sexta-feira pela manhã na escola, à tarde futebol, judô ou natação. O estudo do violão é feito  às segundas, quartas e sextas nas primeiras horas do anoitecer.

Eles, os meninos, ainda têm obrigações domésticas como cuidar do jardim da casa, ajudar na cozinha nos fins-de-semana que a empregada folga. Essas crianças, ainda, dispõem de algumas horas, depois de cumpridas as obrigações de rotina, incluindo as tarefas escolares, para assistir à TV e participar de jogos eletrônicos. Esta rotina, provavelmente, é desenvolvida por todas as crianças da classe social privilegiada. A primeira indagação é que devido à condição social, esses estudantes não precisam de projetos específicos de ajuda.

Em comparação, considere-se as crianças Manés, numa alusão à fala indevida da autoridade, e Marias de famílias da periferia, o pai empregado da construção civil ou desempregado, e a mãe empregada doméstica ou dona de casa.

A rotina destas crianças por não possuírem calçados não podem ir à escola, segundo Zé Ramalho na canção Cidadão: “…Minha filha inocente / Vem para mim toda contente / Pai, vou mim matricular / Mas mim diz um cidadão / Criança de pé no chão / Aqui não pode estudar…”

O que lhes restam senão perambular pelas ruas fazendo traquinagens?

Alguns programas governamentais tendem a minorar essas dificuldades das famílias de baixa renda como exemplificam-se: Bolsa Família, Auxílio Gás, Benefício de Prestação Continuada, Tarifa Social de Energia Elétrica, Carteira de Pessoa Idosa, Minha Casa Minha Vida etc.

Ressalte-se da importância desses programas de assistência que estão aí e devem continuar independentemente de qualquer ideologia partidária que assuma o poder.

A única objeção é que eles não transferem as famílias de classe social correndo o risco da acomodação da permanência do status quo.

A mudança entre classes sociais passa pela escola e culturalmente todos sonham em formar os filhos numa universidade.

O ingresso na universidade pública com o critério existencial do melhor aproveitamento nos exames vestibulares, anteriormente, ou nas provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – atualmente, são os meios que selecionam os candidatos para o curso superior.

É claro que essa disputa por uma classificação no exame do ENEM, entre jovens oriundos de classes sociais distintas, apresenta resultado desfavorável aos estudantes oriundos de classe inferior.

Por que a estrutura social leva a busca de um curso superior como fator de sucesso econômico familiar?

É também claro que existem outras atividades que não precisam passar pelos bancos de uma universidade que levam a resultados de estabilidade financeira considerável.

Fica como reflexão a possibilidade de acrescentar mais um objetivo das famílias para direcionar os seus filhos aos cursos técnicos e, consequentemente, os governos se sentiriam pressionados a atender mais essa demanda social.

A expansão dos cursos técnicos, com certeza, seria mais um fator para permitir fluxo entre as classes sociais, e, ainda, proporcionaria uma disputa mais igualitária entre os candidatos da classe baixa, pois os filhos dos doutores continuariam almejando a universidade.

Não se está aqui a defender que as universidades devem ser destinadas as classes superiores, elas continuariam abertas aos estudantes de todas as classes sociais. O que se argumenta é a necessidade da abrangência dos cursos técnicos que abririam oportunidades de elevação da classe social, uma vez que se sabe, ser fato, que o diploma de curso superior não garante estabilidade econômica a todos. O que se está a refletir é que o sistema educacional é um fator importante na formação de uma sociedade mais igualitária que irá contribuir num melhor bem-estar social. Até o presente fundamentou-se acima na melhoria de vida através da mobilização social.

Um outro enfoque para se melhorar o bem-estar social seria manter a economia em processo de crescimento, permitindo que o poder aquisitivo das pessoas crescesse. Essa seria uma discussão vinculada a princípios ideológicos, pois como é concordante que não se deve viver num processo de endividamento numa economia familiar, também tem a mesma validade para a economia global. Ocorre que todos os países considerados subdesenvolvidos, pobres, insistem, por diversas razões, a gastarem mais do que arrecadam, trazendo consequências desestabilizadoras da economia e, ainda, alimentado o estrato social dos mais pobres.

Por outro lado, o que se busca na mobilização social para o cume da pirâmide? Busca-se poder aquisitivo de bens materiais que momentaneamente se gratifica pelo que se denomina sucesso na vida.

Os grupos sociais abastados de bens vivem com um vazio, faltando-lhe paz; paz na família, paz na comunidade, paz espiritual.

Crê-se que falta durante o processo do cuidar do bem-estar material associar o trabalho intrínseco da pessoa humana que se tem e que se deseja construir para as próximas gerações.

Conclui-se que o razoável seria elevar a eficiência dos trabalhadores, permitindo maior oferta de bens e serviços, com estabilidade econômica, garantidora do poder aquisitivo da produção.

Em resumo, o que se deseja é um combate profundo das desigualdades sociais buscando uma competividade mais igualitária na construção da formação educacional dos jovens.

 

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Sobre Manuel Luiz Figueiroa

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Professor Manuel Luiz Figueiroa é aprendiz maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva

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