sexta-feira, 03/05/2024

“É preciso criar um conjunto de medidas que possa reestimular a contratação”, diz Alexandre Porto

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“Eu espero não ficar apenas na expectativa se, de fato, teremos algo de concreto e expressivo”. A afirmação é do empresário e publicitário Alexandre Porto ao se referir ao anúncio de medidas que o governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, disse que fará no dia 15 para alavancar a economia do Estado. Ele destaca que “Sergipe sofreu muito com a crise e não vimos, nos últimos seis anos, nenhum programa de estímulo e de retomada da atividade econômica”.

 Alexandre, que desde 2019 é comentarista do quadro Ideias e Negócios no Bom Dia Sergipe, da TV Sergipe, todas as quartas-feiras, alerta que nessa retomada de trabalho os empresários tenham muito cuidado e ressalta que “fluxo de caixa é importantíssimo”. Ele sugere, ainda, que aqueles que durante o início da pandemia migraram para o e-commerce ou delivery, com a reabertura das lojas físicas, mantenham as lojas virtuais.

“Não pode, porque voltou a atividade presencial, esquecer da atividade virtual. Pelo contrário, tem que potencializar a atividade virtual, porque nela se consegue ter um custo menor que na loja física”, recomenda.

Essa semana, Alexandre Porto, que administra a Êxito Eventos e APorto Associados,  sendo esta última uma empresa especializada em Consultoria Empresarial e Política, conversou com o Só Sergipe.

SÓ SERGIPE – Sergipe começa a diminuir os números da pandemia e o governo vem, gradativamente, liberando o funcionamento de vários estabelecimentos. O senhor acha que essa é uma perspectiva promissora?

ALEXANDRE PORTO – É uma questão gradual. Naturalmente, como estava, com o fechamento total das atividades, não havia nada de promissor naquilo. Com a retomada, é importante primeiro destacar e considerar a segurança sanitária.  Ou seja, as atividades que retornaram e as que estão retornando têm que seguir os protocolos sanitários e a tendência é que, quando o público ganhar essa confiança de retornar, as atividades comerciais, aos poucos, vão voltando as vendas. A melhor perspectiva que nós temos é agora, porque antes era nenhuma.

SS – Ao longo destes seis meses, muitas empresas que foram fechadas não reabriram e inúmeras pessoas foram demitidas. O que o senhor vislumbra para que os postos de trabalho sejam preenchidos?

Alexandre, na TV Sergipe, tem público cativo

AP – Primeiro é preciso falar do que ocorreu neste período de pandemia, do ponto de vista de fechamento e demissões.  Muitos fechamentos não ocorreram somente em função da pandemia, mas porque as empresas já vinham desequilibradas. Aí, qualquer sinal de tempestade ou crise, a empresa quebra. Então, há uma parcela de empresas dessa natureza. Outra parcela não foi por isso, mas, por exemplo, não tinha fluxo de caixa e não conseguiu se manter. E vêm os fatores efetivos da pandemia, que provocaram esse fechamento, mas não dá para nós quantificarmos de uma ou de outra. De modo aparente, não conseguimos medir quais foram os motivos. As demissões ocorreram numa proporção muito grande. Sergipe já vem numa escalada negativa e no primeiro semestre de 2019, quase cinco mil pessoas foram demitidas.  No primeiro semestre deste ano subiu para 15 mil. Nós tivemos aí um acréscimo de três vezes se comparado como o ano passado. Naturalmente que é um número expressivo, mas quando você trata da economia sergipana, isso é algo que pode ser recuperado, desde que haja políticas de fomento na economia. É preciso uma ação nacional, mas não podemos ter o Estados e os municípios de braços cruzados. Eles podem construir políticas de estímulo à atividade econômica.  Em um outro cenário, é preciso facilitar a vida do empreendedor, encontrar uma fórmula de reduzir tributos, de estimular a contratação. Faz-se necessário criar um conjunto de medidas que possam reestimular a contratação, pois hoje ninguém vai contratar se a economia não estiver girando, se não houver consumo. Por isso, temos que ter medidas de estímulo ao consumo, a exemplo da construção civil responsável por uma cadeia grande, das classes de menor renda que continuarão recebendo o auxílio emergencial, pois mesmo com a redução da parcela, mantém esse público consumindo. E ao mesmo tempo, aquelas pessoas que têm dinheiro, apesar de ter deixado de circular. Os funcionários públicos não deixaram de receber dinheiro, não foram penalizados, e, no entanto, tiveram as despesas reduzidas, pois, tudo estava fechado. Então, essas pessoas têm dinheiro.

SS – Mas o consumo, certamente, não será rápido.

AP – Sim, vai demorar um pouco, pois ninguém tem certeza do amanhã, do futuro.

SS – Como os empresários devem pensar nesse período de transição?

AP – As pessoas acham que o pior já passou nessa pandemia, do ponto de vista econômico. Talvez não tenha passado, pois no momento que o comércio estava fechado, o custo operacional reduziu, se renegociou aluguel, contratos. O empresário se valeu dos benefícios de redução de jornada, então conseguiu diminuir alguns custos.  No momento que volta à atividade, retornam os custos, os fornecedores vão querer receber o atrasado, o aluguel volta ao preço que era, com o funcionário você volta a arcar com os custos. Ou seja, os custos voltam para um patamar maior e muitos não terão o mesmo faturamento de antes, como vem ocorrendo. É preciso que as empresas tenham muito cuidado nesse período. Fluxo de caixa é importantíssimo, assim como ter as contas financeiras bem definidas, delimitadas. Vai ser preciso, talvez, recorrer ao capital de giro externo. E é importante que as empresas estejam muito atentas a isso, como também, sobre permanecer ao sistema de vendas virtuais, delivery. Não pode, porque voltou à atividade presencial, esquecer da atividade virtual. Pelo contrário, tem que potencializar a atividade virtual, porque nela se consegue ter um custo menor que na loja física.

SS – Os micro empreendedores individuais (MEIs) cresceram muito nesse período.

AP – E vai crescer mais, seja porque iniciou aquela atividade, seja porque era micro e pequena empresa e precisou regredir. Todas as empresas, de um modo geral, vão regredir pelo menos um degrau, do ponto de vista do faturamento. Muitas empresas que tinham dois ou três funcionários, vão migrar para não ter nenhum e o próprio dono virar o administrador e executor junto com esposa e outros familiares. A meu ver acontecerá uma migração: as empresas, ao invés de crescerem no porte, vão reduzir até um período em que haja uma estabilização e elas voltem a crescer de forma sustentável.

SS – No próximo dia 15, o governador Belivaldo Chagas vai anunciar um programa de reaquecimento da economia e, por enquanto, não deu detalhes. O que se pode esperar desse programa, ao mesmo tempo que Belivaldo era criticado por manter o comércio fechado?

AP – Confesso que não sei o que virá desse pacote. Eu tenho esperança que venham medidas efetivas de aumento do consumo, de estímulo à pequena empresa, de créditos viáveis. É a expectativa que tenho. Sergipe sofreu muito com a crise, e não vimos nos últimos seis anos nenhum programa de estímulo e de retomada da atividade econômica. Até agora não aconteceu. Espero que aconteça e que possamos elogiar o governo por isso. Tenho expectativa que seja positiva. Eu espero não ficar apenas na expectativa se, de fato, teremos algo de concreto e expressivo.

SS – Ao longo desse período de pandemia, muitas pessoas se reinventaram. 

AP – Muitas vezes, as pessoas foram obrigadas a sair da zona de conforto, que na pandemia virou zona de desespero para alguns.  As pessoas foram obrigadas e precisaram reagir como o filhote da águia. A mãe joga o filhote do alto de um penhasco para que ele descubra que tem asas e pode voar. E foi isso que aconteceu com os pequenos empreendedores que, de uma hora para outra, foram jogados de um penhasco e muitos não conseguiram voar, mas outros conseguiram se reinventar, bater asas, encontraram uma nova atividade, sobreviveram, passaram sem grandes consequências e foi muito positivo para alguns. Mas muitas empresas ainda fecharão, mesmo com a retomada, porém é importante que não se perca o incentivo de empreender. Mesmo na pandemia há negócios que têm funcionado e dado bons resultados. A economia é como uma roda: sempre tem alguém que está por cima e outro que não. Temos que buscar por atividades que sempre nos deixem numa posição mediana ou por cima.

Alexandre questiona: “Por que um teatro não pode abrir?”

SS – Entre os setores que ainda aguardam a retomada é o de eventos, que nessa segunda faz um manifesto na praia da Atalaia. Qual a sua expectativa, pois o senhor atua neste setor?

AP – É natural que o setor de eventos seja o último a abrir, pois, em sua maioria, os grandes eventos provocam aglomerações.  Mas podemos realizar pequenos eventos. O que não dá é querer colocar na mesma caixa todos os tipos, cujo setor tem uma cadeia imensa. Poucas pessoas têm dimensão do número de empregos que gera, do número de empresas, dos mais variados tipos que são impactados. Acho possível voltar, pois vemos aí vários estados liberando. Naturalmente é importante medir que tipo de evento pode voltar, limitar, exigir os protocolos sanitários para que possamos, gradativamente, voltar. Mesmo que retornem eventos pequenos, a cadeia começa a girar e já é um benefício. Eventos corporativos, sociais, não vejo o porquê de não voltar. Ora, se permite que as igrejas abram com 50% do público, por que um teatro não pode, o que diferencia? Por que um salão de festas não pode ser aberto?  Os restaurantes podem abrir, mas se alguém quiser comemorar aniversário num restaurante com a capacidade permitida, com distanciamento social, o decreto veta.  Um evento não se faz da noite para o dia e precisa de planejamento. As pessoas ainda não estão cofiando de voltar à rotina normal.  Então, quando houver uma festa, muita gente não vai. E pode fazer eventos híbridos.

SS – Mas mesmo com o decreto proibindo eventos, o próprio Governo do Estado permitiu a inauguração à termoelétrica. Não é contraditório?

AP – Sim. O Governo do Estado tem feito inaugurações, como o estádio de futebol, em Lagarto; o da termoelétrica que mostrou que é possível fazer. E você tem vários pequenos eventos que acontecem mesmo com a proibição. Então, ao invés de manter essa proibição, não é melhor regulamentar para que aconteça com segurança?

SS – Uma coisa que cresceu com o isolamento social foi a reunião virtual. Ela veio para ficar?

AP – Essas ferramentas já vêm evoluindo e crescendo nos últimos anos e houve um estouro, uma aceleração nesse processo de modernização. Nós evoluímos, talvez, 10 ou 20 anos em quatro meses.  Isso veio e vai ficar. Naturalmente nada substitui o contato físico, a sociedade precisa disso, porque ninguém vive sozinho, isolado dentro de casa, apenas pelo meio virtual. Isso cria um problema psicológico e as pessoas vão precisar de tratamento.

SS – Mas hoje muitos negócios acontecem em reuniões virtuais.

AP – Sim. Você pode ter reuniões presenciais e outras virtuais, que vão permitir comodidade, que as pessoas não percam muito tempo no trânsito.E se não há muitos carros nas ruas, isso melhora a mobilidade porque muita gente está fazendo home office. E mesmo que esteja na empresa, as pessoas se locomovem menos. Acho que vai agilizar as tratativas de negócios.  Uma reunião de negócios com pessoas em São Paulo, eu posso fazer de maneira virtual. Mas, um detalhe:  o Brasil precisa evoluir muito na transmissão de dados, pois temos muitas falhas, nossa banda larga ainda é insuficiente. Vamos ter um grande boom com a 5G quando se tornar real, pois vai aumentar ainda mais o e-commerce, eventos, festas, lives, etc. Tudo isso vai continuar existindo, mas será preciso melhorar a estrutura de internet.

 

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