segunda-feira, 22/04/2024
A felicidade é um caminho individual Foto: Pixabay

O que é mesmo felicidade?

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Petruska Menezes (*)

O que é felicidade? Pergunta oportuna para a época. Muitas pessoas têm a falsa crença de que a felicidade é um objetivo a ser alcançado e é preciso estabelecer metas para atingi-la. Talvez para coisas mais palpáveis este, realmente, seja o caminho. Mas a felicidade, conforme definida no dicionário do Google é: “1. qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar. 2. boa fortuna; sorte.”

Não precisa ir muito longe para perceber que esse estado não pode se manter plenamente, embora seja o nosso desejo. Assim, gostaria de convidar o/a querido/a leitor/a para uma nova interpretação da felicidade não utópica e, portanto, ao alcance das mãos.

E se pudermos pensar que podemos ter uma consciência plenamente satisfeita em alguns momentos, se aprendermos a vivenciar e sentir o presente? Todos os processos e trabalhos psicoterapêuticos e o trabalho psicanalítico têm o objetivo de deixar a pessoa no tempo presente. Cada uma das técnicas, teorias e ferramentas específicas tentam trazer a pessoa para viver momento atual. O mindfulness [atenção plena] é mais claro quando tenta corporificar a sensação de estar no presente com a intensificação dos sentidos e foco, se desprendendo de pensamentos repetitivos. Técnica desenvolvida e herdada da meditação oriental e implementada como uma das ferramentas utilizadas por alguns terapeutas cognitivos comportamentais.

A Psicanálise, ao contrário do que muita gente pensa, não vive do passado das pessoas. As pessoas que vivem o presente como se estivessem no passado, transformam o presente em passado pela repetição inconsciente de ações. Assim, cabe ao psicanalista auxiliar a romper essa repetição “involuntária” de um passado não elaborado de forma adequada, para que o sujeito seja livre para viver o seu presente, construindo e se transformando com sua vivência.

Entendendo que muitas coisas acabam por desencadear emoções, sentimentos e lembranças (conscientes e inconscientes) aos quais nos prendemos, sugiro que a felicidade seja o instante em que permitimos nos libertar, mesmo que temporariamente, desses sentimentos e lembranças, contemplando o momento presente.

Também cabe, aqui, um outro ponto. Há pessoas que têm sentimentos que eu chamaria de “antecipatórios”, ou seja, querem prever o futuro, planejar e ter estratégias para todas as possíveis circunstâncias que possam aparecer. Isso é muito diferente, por exemplo, de um planejamento de pequeno, médio e longo prazo usado nas empresas. Simplesmente algumas pessoas sofrem, pensando no que pode vir a acontecer com elas. Normalmente, também estão envolvidas em sentimentos que as levam a construir um cenário, em geral pavoroso, de futuro. Sentimentos como insegurança, medo, desamparo, sensações de abandono e de que algo ruim se repita são os principais responsáveis para esse tipo de sofrimento.

Assim, volto a convidá-lo/a para experimentar esse novo conceito de felicidade, como algo passageiro, quando – por alguma eventualidade ou propriedade do nosso modelo de funcionamento mental – nos permitimos renunciar a vivências traumáticas do passado ou empurradas para o futuro. Acredito ser essa a chave para ser feliz: compreender que a felicidade não é um estado onipresente, que se atinge e se permanece nele, mas ela está no caminho que se percorre e que, com esforço, dedicação e capacidade de autoconhecimento é possível encontrá-la, assim como quando sentados ao ar livre sentimos uma leve brisa a nos tocar, aliviando o calor e nos envolvendo levemente, trazendo sensação de paz.

Os momentos de desapego da dor podem estar presentes a qualquer instante e em qualquer lugar. É possível acordar feliz, trabalhar feliz, conviver com a família harmoniosamente e feliz neste jogo do tempo em que a razão é somente uma das variáveis, mas pode nos ajudar a buscar os sentimentos que cada um julga ser a “felicidade”.

Para mim, a felicidade está em tomar um cappuccino com as amigas, falando bobagens e rindo das peculiaridades de cada uma; em assistir a um lindo filme; de superar a apreensão de como cuidar de seus sentimentos e de si; estar junto com algum filhote de quatro patas; terminar de ler um livro, depois de tê-lo grifado e escrito todinho, na certeza de que compreendi o que precisava aprender. Também fico feliz quando recebo flores (feministas podem receber flores), ouço músicas da minha adolescência ou quando estou trabalhando/estudando em grupo. Talvez não seja uma explosão afetiva, como você acredita que deveria ser a felicidade, mas quem disse que o amor o é? Se o amor não é uma explosão afetiva (deixamos isso para a paixão), por que a felicidade haveria de ser?

(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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