sexta-feira, 26/04/2024
Ilustração: Rildo Bezerra

O peru da discórdia

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Para Salete Kuwer

Pare e pense o seguinte: você está numa festa repleta de crianças, correndo de um lado para outro, quando, de repente, alguém solta um grito, você olha para a criatura e vê a seguinte cena: muito óleo de comida escorrendo pelos cabelos recém-torturados num salão de beleza, destruindo as pinturas do rosto que levaram horas para serem feitas, e ainda sujando o vestido encomendado para a ocasião.   Sim, ali estava uma mulher atarantada, com um olhar fuzilante à procura de alguém que teria derrubado das suas mãos, a bandeja com um peru assado que ela levava para a mesa principal da festa.

A primeira pessoa que ela enxergou por entre a graxa que deslizava no rosto e atrapalhava sua visão, foi a culpada por tamanha tragédia. E apesar das defesas insistentes, com provas irrefutáveis de que o acusado era inocente, a matrona seguia a desfiar seus rosários de impropérios contra o convidado.  Consciente da sua inocência, o jovem acusado, ainda que constrangido, continuou na festa.

Por vários motivos: primeiro, o jovem foi levado para o local por uma pessoa maravilhosa que o defendeu como uma leoa. Falou firme, mas não perdeu a ternura para dizer que o rapazola estava bem junto a ela e era impossível que ele tivesse empurrado a matrona.  O outro, é que coube a defensora aclamá-lo e garantir que nada lhe aconteceria, pois ela era a testemunha ocular de que ele não tinha nada a ver com aquela história inverossímil.

Por fim, como sair de local onde tinham tantas comidas gostosas? Um peru, certamente, não faria falta. Vale lembrar que a matrona era uma excelente cozinheira, trabalhava com doces e salgados sob encomenda e, tenha certeza, numa festa na própria casa ela não ia deixar por menos. Não lhe faltava competência para desvendar os segredos do forno e do fogão.

Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu: se alguém derrubou a bandeja com o peru ou se a matrona se atrapalhou quando passava entre um convidado e outro, e, solenemente, o galináceo foi ao chão.

Também não se sabe quem fim levou o peru da discórdia. Para alguns, lavou está novo. Mas não sei se a sabedoria popular se aplica a esse caso.

O certo é que quando saí daquela casa, tudo indica que a festa prosseguiu até altas horas, com a matrona quase refeita de episódio tão insólito: estava de roupa limpa, maquiada, tudo quase em ordem.

Quase. Naquela noite, seus cabelos nunca mais seriam os mesmos!

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Sobre Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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