sexta-feira, 19/04/2024
Boneca Barbie Imagem: https://www.dollcollector.com.br/

É cor de rosa choque

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Sim. Também eu cedi aos encantos da onda Barbie que toma conta do mundo. Confesso que fui ver o filme com juízos de valores pré-definidos, mas fui tomado pela emoção e foram invitáveis as lágrimas nas cenas finais, notadamente quando a boneca famosa se encontra com sua criadora. Sem sombras de dúvidas, “Barbie”, o filme (2023) faz jus ao enorme chamariz do momento e marca a história do cinema de forma muito particular.

Longe de dar spoilers, quero aqui apenas ressaltar algumas coisas que me ocorreram antes, durante e depois de ver o filme. Uma primeira observação, logo quando as primeiras cenas chegavam ao público em forma de promoção ou trailer, minha memória sonora foi buscar uma canção de Kelly Key, “Sou a Barbie Girl”, originalmente em língua inglesa, cujo refrão em português cola na mente da gente que nem chiclete: Sou a Barbie girl / Se você quer ser meu namorado / Fica ligado / Presta atenção na minha condição / É diferente, sou muito exigente”. Fiquei algumas semanas assoviando a danada da música ou, acidentalmente, cantando esse trecho, seguido algumas vezes de minha filha de oito anos, que diferente de minhas irmãs, teve a oportunidade de ter uma das bonecas da série.

Outra coisa que tomou de assalto e ao ver o filme percebi que não era à toa, a associação que fazia da Barbie com parte do repertório de Rita Lee (1947-2023), de modo muito particular a canção “Cor-de-rosa choque” (1982). Refiro, em especial, ao tom de libertação feminina que o filme propaga, o que causou e vem causando desconfortos aos “conservadores”, viris “homens de bem”, os quais, em sua absoluta maioria, escondem recalques e os manifestam em ódios injustificáveis, vendo maldade até mesmo no entretenimento.

Nessa mesma pegada, também fiz reflexões em torno do desenho “A Pantera Cor-de-Rosa”, que estreou nos EUA em 1969 e conquistou as crianças de todo o mundo. O jeito despachado e às vezes cínico da personagem me fez remeter a diversas cenas do filme “Barbie” e me fazendo pensar que a cor, aqui, se torna, como outras, um símbolo, e, para mim, a partir do filme, de respeito, amor e apreço pela vida. Grandes lições do novo sucesso da diretora Greta Gerwig, que já assinou outras películas como “Lady Bird: a hora de voar” (2017) e “Ruído Branco” (2022), só parar destacar os mais importantes.

“Barbie” é incrivelmente estrelado por Margot Robbie (no papel principal da versão estereotipada da boneca) e Ryan Goslin (um dos principais Ken, o boneco da série). Ambos, com importantes atuações em outros filmes, dão a tônica diferenciada, encantando o público, de todas as idades (este, indicado para 12 anos), com leveza, beleza, carga dramática, humor e diálogos e falas que são verdadeiros ensinamentos.

Sem mais delongas porque melhor do que isso só vendo mesmo o filme, posso asseverar que “Barbie” para além de chocar, na verdade é um choque de realidade, um tapa na cara de parte da sociedade que insiste com seus preconceitos e julgamentos, quando todos deveriam estar irmanados num mundo cor-de-rosa, onde a sensibilidade prevaleça e o amor ao próximo também, acima das superficialidades que querem nos impor, sobretudo, os mais abastados, muitos deles desprovidos de humanidade.

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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