sábado, 20/04/2024
Livro nas mãos, ela [Rita Lee] pergunta meu nome, e peço para ela dedicar o livro para mim [Luiz Thadeu*] e para minha companheira de caminhada, Heloísa

Viva Rita Lee, minha FavoRita

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Manhã de terça-feira, 09 de maio, saio apresado de casa, compromissos agendados me esperam. Parada para ver as mensagens. Recebo uma dizendo que morreu Rita Lee. A prima Goreth Rayol me informa que a multifacetada Rita partira nesta manhã. E, para encher meu ego, diz que começou a gostar da roqueira através de mim. Volto para casa, cancelo a agenda do dia. Comunico aos agendados que não poderei cumprir o combinado. O dia é dela, de despedida de Rita Lee. Na vitrola suas canções antológicas, vão inundando o ambiente. Músicas que marcaram minha vida em diferentes fases. Fazem parte da trilha sonora do meu dia a dia. “Meu bem, você me dá água na boca, vestindo fantasias, tirando a roupa.

Molhada de suor de tanto a gente se beijar, de tanto imaginar (imaginar) loucuras

A gente faz amor por telepatia, no chão, no mar, na lua, na melodia.

Mania de você, de tanto a gente se beijar, de tanto imaginar loucuras”.

Em duas oportunidades tive o privilégio de estar perto de Rita. Quando fui transferido de um hospital de São Luís para o hospital São Camilo, no bairro de Santana, em SP, em tratamento intensivo para salvar a perna esquerda, estraçalhada no acidente automobilístico no RN. Durante meu tratamento, o fisioterapeuta que me acompanhava, também acompanhava Rita Lee, internada no hospital Albert Einstein, uma vez mais lutando contra as drogas. Perguntei como ela era. “Reclusa, bicho do mato, encolhida, na dela”, me disse o jovem fisioterapeuta.

Final de tarde, quarta-feira, 16 de novembro de 2016, entrei na livraria Cultura, após almoçar e perambular pela av. Paulista. Vi o burburinho e perguntei o que estavam acontecendo. “Logo mais será o lançamento do livro da Rita Lee”, me falou uma moça ruiva, incrédula com minha ignorância.

Me posicionei perto do banner com a fotografia da autobiografia “FavoRita”, e logo se aglomera uma pequena multidão. Por causa das muletas, fui tirado do burburinho e fiquei frente a frente com Rita. Livro nas mãos, ela pergunta meu nome, e peço para ela dedicar o livro para mim e para minha companheira de caminhada, Heloísa.

Escreveu Rita, “Luiz Thadeu e Heloisa Helena, bjs, Rita Lee”.

O livro é uma delícia, bem a cara de Rita. Editada pela Globo Livros, “Rita Lee – Uma Autobiografia” traz uma escrita repleta de bom humor e do sarcasmo característicos da cantora. Nele, a artista lembra momentos felizes e outros traumáticos de sua vida e repassa cinco décadas de carreira. Muitas fotografias, de diferentes fases de sua trepidante e fascinante vida. A cada página, muitas risadas. Amo gente que não se leva a sério. Rita era irreverência pura. Sem se declarar feminista, defendeu as mulheres desde sempre. Escreveu sobre sexo sempre com uma sutileza desconcertante.

Com simplicidade definiu as mulheres, “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra… por isso não provoque, é cor de rosa choque”.

Em “Amor & sexo”, em parceria com Arnaldo Jabor é obra prima.

“Sexo é imaginação, fantasia.  Amor é prosa, sexo é poesia.

O amor nos torna patéticos, sexo é uma selva de epiléticos.

Amor é cristão, sexo é pagão. Amor é latifúndio, Sexo é invasão.

Amor é divino, Sexo é animal. Amor é bossa nova, sexo é carnaval.

Amor é para sempre, sexo também. Sexo é do bom, amor é do bem.

Amor sem sexo, é amizade, sexo sem amor é vontade.

Amor é um, sexo é dois, sexo antes, amor depois.

Sexo vem dos outros e vai embora, amor vem de nós e demora.

Amor é cristão, sexo é pagão, amor é latifúndio.

Sexo é invasão, amor é divino. Sexo é animal, amor é bossa nova, sexo é carnaval”.

Aos 75 anos, Rita Lee, rainha de seu tempo, partiu, nesta manhã, e como ela mesma escreveu na canção “Mãe natureza”:

“Estou no colo da mãe natureza, ela toma conta da minha cabeça.

É que eu sei que não adianta mesmo a gente chorar, a mamãe não dá sobremesa.

Mas eu não sei, se eu estou pirando, ou se as coisas estão melhorando.

Não sei. Se eu vou ter algum dinheiro, ou se eu só vou cantar no chuveiro.

Estou no colo da mãe natureza, ele toma conta da minha cabeça”.

Rita Lee marcou época, por ser atemporal, seu legado é eterno. Hoje o dia é só de Rita Lee, na vitrola “Balada do louco: “Dizem que sou louco por pensar assim, se eu sou muito louco por eu ser feliz. Mas louco é quem me diz: E não é feliz, não é feliz. Mas louco é quem me diz, e não é feliz, eu sou feliz”.

Perdão, leitor, amiga leitora, Rita Lee é foda. Obrigado, querida, segue na luz.

 

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(*) Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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