terça-feira, 23/04/2024
Josenito Oliveira: “não existe segurança 100% perfeita”

“O PIX melhora o fluxo de dinheiro, mas não se pode descartar as fraudes”, diz o economista Josenito Oliveira

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A partir do dia 16 de novembro, a plataforma PIX entra em operação, oficialmente no Brasil e, segundo o economista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Josenito Oliveira, vai facilitar as transações financeiras entre pessoas físicas e jurídicas, além do Governo. “É mais uma modalidade de pagamento”, disse, lembrando que o DOC e TED ainda demoram um pouco até que o dinheiro seja creditado. “No entanto, as fraudes com esta plataforma não estão descartadas”, ressalta.

Afinal, a modernidade traz também os problemas: as possíveis fraudes que algumas pessoas podem cometer. Ou melhor, já estão cometendo. Sim, nem está em operação ainda e o PIX já é alvo de fraudadores pelo Brasil afora.  “É algo novo e sempre vai se encontrar alguém para fraudar o sistema. Disso, não tenha dúvida”, alertou Josenito ao lembrar de uma frase que aprendeu nos seis anos que passou no Exército. “Não existe segurança 100% perfeita. O inimigo sempre vai encontrar uma falha. Basta uma brechinha de um fio de cabelo para poder penetrar”, alertou.

Outro detalhe é que com novas tecnologias surgindo, alguns empregos tendem a ser extintos na mesma proporção que outros vão surgindo.  Segundo ele, na Europa e Estados Unidos  há uma tendência de redução de mão de obra nos bancos, “mas aqui, inclusive, não foi reduzido de forma drástica, porque temos uma população, principalmente de idosos, com dificuldade de usar a tecnologia, e precisa de alguém para auxiliar as pessoas a operarem os caixas eletrônicos”.

Josenito Oliveira, ao conversar com o Só Sergipe sobre o PIX, disse que não vê a tecnologia como ameaça aos empregos e comenta sempre com seus alunos que eles irão trabalhar em uma profissão que ainda não foi criada.

SÓ SERGIPE – O que é exatamente o PIX?

JOSENITO OLIVEIRA – O PIX é um novo sistema de pagamentos elaborado pelo Banco Central e que facilita as transações entre pessoas físicas e para pessoas físicas e jurídicas, além do governo. É mais uma modalidade de pagamento. Hoje, praticamente nós temos a TED e o DOC que demoram certo tempo, com horário limitado. TED, mesmo, somente até às 17 horas, que tem custo e só vale para os dias úteis. PIX significa Pagamentos Instantâneos e o X, na verdade, é a ideia de movimento, de multiplicação. O PIX vai funcionar 365 dias do ano em todos os horários.

SS – O PIX será sem custo para pessoas físicas?

JO – Exatamente. A princípio, vai ser sem custo.

SS – E para pessoas jurídicas (PJs)?

JO – Para PJ estava se falando em torno de R$ 0,01 por transação, um custo muito baixo.

SS – Muito se fala que o PIX será importante para evitar furtos no sistema financeiro, porque será tudo mais monitorado. Será que vai trazer mesmo essa vantagem para melhor vigilância por parte dos órgãos de controle?

JO – Exatamente. Com o PIX melhora, inclusive, o fluxo do dinheiro. De onde ele está saindo e para onde está indo.  Isso vai identificar melhor, não só transferências bancárias em dinheiro vivo, como também pagamentos. Hoje, quando fazemos um pagamento de boleto apenas consta que pagou a conta de energia elétrica, por exemplo. No PIX vai conter mais informações, como o consumo da energia e será cadastrado. Teremos mais detalhes. Haverá uma rastreabilidade do dinheiro e isso dará mais segurança para o sistema bancário.

SS – Hoje está muito comum se utilizar o cartão de débito ou crédito nas transações. Até mesmo nas passagens em transporte coletivo não se usa mais dinheiro físico. Esse seria o começo do fim do dinheiro físico?

JO –Acho que o dinheiro físico não irá acabar, até porque algumas pessoas, infelizmente, estão fora do sistema produtivo e financeiro. Temos pessoas que não têm residência e não podem abrir uma conta em banco, porque é necessário constar um endereço. E essas pessoas precisam de um meio de pagamento. Nós temos o dinheiro, que é o meio tradicional, os boletos e os cartões.  Haverá, no entanto, uma diminuição do dinheiro físico. Até mesmo hoje, sem o PIX, usa-se muito o cartão de débito. Há uma tendência de diminuir esse fluxo de dinheiro, mas é necessário, porque muita gente precisa.

SS – E há um critério para se emitir moedas, não é verdade?

JO – Isso. O valor monetário tem que existir, tem que ter um lastro.  Há alguns anos, o critério para se emitir moedas era pela quantidade de ouro que o país possuía. Hoje é baseado no PIB, a riqueza do país. Se você tem o PIB R$ 1 trilhão, teria que ter R$ 1 trilhão em moedas para fazer frente à riqueza do país. Você tem que ter um lastro para vincular o valor da moeda, de forma física.

SS – Alguns economistas alegam que o emprego de segurança de transporte de valores poderá acabar. Também poderá diminuir o fluxo de bancários. O senhor acha que esse raciocínio procede?

JO – É possível. Toda vez que temos uma inovação tecnológica ao longo da evolução da humanidade ocorre mudança. Cito com meus alunos que, antigamente, não tínhamos automóvel, era somente trem.  E surge o automóvel. Se aquele maquinista não aprende a dirigir um carro fica de fora.  Profissões serão extintas e outras serão criadas. Antes da Tecnologia da Informação (TI) muitas profissões não existiam, mas foram criadas depois. E muitas foram extintas. Há 30 anos, por exemplo, tinha operador de telex, inclusive com curso. Havia curso de datilografia, que não existe mais. As pessoas têm que se adaptar à tecnologia. Os bancos são intensivos em tecnologia. Lembre que os bancos quando não tinham caixa eletrônico, havia batalhões de caixas. Com a tecnologia, você diminui essa mão-de-obra. E vai para onde? Vai para outras profissões que são criadas, e cabe a cada pessoa verificar o seu talento para que ela possa executar outras tarefas. Deverá acontecer isso, sim.  É uma tendência dos bancos essa diminuição de mão-de-obra, principalmente, na Europa e Estados Unidos. Aqui, inclusive, não foi reduzido de forma drástica, porque temos uma população de idosos, com dificuldade de usar a tecnologia, e precisa de alguém para auxiliar essas pessoas a operarem os caixas eletrônicos. Mas não quer dizer que é uma ameaça, pois as profissões vão deixar de existir e outras serão criadas. Digo aos meus alunos que eles irão trabalhar em uma profissão que ainda não foi criada.

SS – O senhor cita a tecnologia e hoje há um produto que quase ninguém usa, que é o talão de cheque. Praticamente obsoleto.

JO – Existe ainda, mas o talão de cheque é obsoleto. Vamos também para outro setor: os Correios hoje é uma empresa para entregar encomenda. Mas quando foi criado era para entregar cartas. Ninguém mais escreve carta e posta no Correio, mas manda e-mail, WhatsApp que são instantâneos. Até os boletos já deixaram de ser enviados pelos Correios, porque chegam por e-mail.  E as pessoas pagam sem sair de casa. Eu não lembro qual foi a última vez que fui a um banco. Quando preciso de dinheiro vivo vou ao cash e o restante pago pelo celular. É uma tendência.

SS – A tecnologia traz facilidade e preocupações também.

JO – Complementando, algumas preocupações em que sentido? Nós temos um problema: é que o Brasil tem uma mão de obra muito grande, mas de baixa qualificação e tem dificuldade de ter inserção no mercado. Um profissional bem qualificado está se reposicionando, não fica parado. Mas as de baixa qualificação sofre mais com isso.

SS -Outra preocupação são os golpes virtuais. Já há notícias de golpes no PIX, que ainda nem começou a ser usado oficialmente.  É necessário que o Banco Central tenha mecanismos mais que seguros para que se possa utilizar o PIX de forma protegida.

JO – Lógico, é algo novo e sempre vai encontrar alguém para fraudar o sistema. Disso, não tenha dúvida. Mas o Banco Central, em comum acordo com as tecnologias do banco, pensou bem. Eu passei seis anos no Exército e se dizia muito por lá: “não existe segurança 100% perfeita”. O inimigo sempre vai encontrar uma falha. Basta uma brechinha de um fio de cabelo para poder penetrar. Mas o sistema está preparado e tem que dar segurança para os clientes. Hoje, se uma conta for invadida, o banco devolve o seu dinheiro. Isso não é divulgado, mas acontecem muitos furtos virtuais. Os bancos não divulgam para não mostrar as fragilidades deles.  Não se pode descartar fraudes com o PIX. Não duvido disso.

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Sobre Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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