quarta-feira, 24/04/2024
Ilustração: Rildo Bezerra

O peru da discórdia

Compartilhe:

Para Salete Kuwer

Pare e pense o seguinte: você está numa festa repleta de crianças, correndo de um lado para outro, quando, de repente, alguém solta um grito, você olha para a criatura e vê a seguinte cena: muito óleo de comida escorrendo pelos cabelos recém-torturados num salão de beleza, destruindo as pinturas do rosto que levaram horas para serem feitas, e ainda sujando o vestido encomendado para a ocasião.   Sim, ali estava uma mulher atarantada, com um olhar fuzilante à procura de alguém que teria derrubado das suas mãos, a bandeja com um peru assado que ela levava para a mesa principal da festa.

A primeira pessoa que ela enxergou por entre a graxa que deslizava no rosto e atrapalhava sua visão, foi a culpada por tamanha tragédia. E apesar das defesas insistentes, com provas irrefutáveis de que o acusado era inocente, a matrona seguia a desfiar seus rosários de impropérios contra o convidado.  Consciente da sua inocência, o jovem acusado, ainda que constrangido, continuou na festa.

Por vários motivos: primeiro, o jovem foi levado para o local por uma pessoa maravilhosa que o defendeu como uma leoa. Falou firme, mas não perdeu a ternura para dizer que o rapazola estava bem junto a ela e era impossível que ele tivesse empurrado a matrona.  O outro, é que coube a defensora aclamá-lo e garantir que nada lhe aconteceria, pois ela era a testemunha ocular de que ele não tinha nada a ver com aquela história inverossímil.

Por fim, como sair de local onde tinham tantas comidas gostosas? Um peru, certamente, não faria falta. Vale lembrar que a matrona era uma excelente cozinheira, trabalhava com doces e salgados sob encomenda e, tenha certeza, numa festa na própria casa ela não ia deixar por menos. Não lhe faltava competência para desvendar os segredos do forno e do fogão.

Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu: se alguém derrubou a bandeja com o peru ou se a matrona se atrapalhou quando passava entre um convidado e outro, e, solenemente, o galináceo foi ao chão.

Também não se sabe quem fim levou o peru da discórdia. Para alguns, lavou está novo. Mas não sei se a sabedoria popular se aplica a esse caso.

O certo é que quando saí daquela casa, tudo indica que a festa prosseguiu até altas horas, com a matrona quase refeita de episódio tão insólito: estava de roupa limpa, maquiada, tudo quase em ordem.

Quase. Naquela noite, seus cabelos nunca mais seriam os mesmos!

Compartilhe:

Sobre Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

Leia Também

grupo técnico

Grupo Técnico de Eventos do Governo do Estado se reúne para desenvolver atuação estratégica nos festejos juninos

Sergipe já se prepara para realizar uma programação junina ainda maior e mais estruturada. Nesta …

WhatsApp chat