terça-feira, 23/04/2024
Saudade é amar o passado que ainda não passou

Hoje o amor atende pelo nome de saudade

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Luiz Thadeu (*)

Saudade é o amor acompanhado, quando o amor não foi embora.

Saudade é amar o passado que ainda não passou, e certamente, nunca passará.

É recusar um presente que nos machuca, e não vê o futuro que nos convida a seguir em frente porque o tempo não para.

Saudade é sentir o que existe, o que não existe mais.

Saudade é o inferno dos que perderam, a dor dos que ficaram para trás.

Saudade é o gosto de morte na boca dos que continuam.

Somente uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades.

O tempo passou, as coisas se acomodaram, coisas novas surgiram, muitas não existem mais, mas a minha saudade só aumentou…

Fiquei velho, não me vistes envelhecer, não acompanhaste as diferentes fases de minha caminhada.

Quando partiste, ainda muito jovem, aos 43 anos, exausta de trabalho e afazeres, eu era um garoto de 17 anos, que não sabia nada da vida…

De verde tive que amadurecer, a forceps, igual quando fui arrancado de tua barriga, nas primeiras horas de uma manhã chuvosa em 07 de dezembro de 1958.

O tempo passou e continuo carente de mãe, carente de afeto, de amor, de atenção.

Alguém já disse que as mães não deveriam morrer, elas são nosso porto seguro na terra, são anjos que só nos dão amor, nos protegem, nos acalantam; nunca deixamos de ser crianças, quando temos mãe.

Continuei trôpego pelos tortuosos caminhos da vida, rebobinando a memória em busca de tuas lembranças.

Sinto tua falta todos os dias.

Te imagino, na minha fecunda mente, em cada fase da vida.

Nas lembranças que guardo de ti, és altiva, forte, decidida, brigona, mas amorosa, disponível, sábia, cuidadosa, generosa…

Logo após tua partida, entrei na faculdade, me formei, casei, procriei, tive dois filhos – Rodrigo e Frederico, já adultos -, que não tiveram o privilégio de te conhecer.

Em 2003, sofri um grave acidente de carro, minha vida sofreu um grande baque, passei por 43 cirurgias, passei cinco anos em hospitais; fui forçado a me reinventar. Hoje chamam isso de resiliência, e digo que é necessidade de continuar. Quanta falta fizeste em não estar ao meu lado em minha Via Crucis. Teu exemplo me impulsionou em seguir em frente.

Aprendi contigo a ser disciplinado com dinheiro, nunca soube o que é ter muito, mas o pouco que tenho é abençoado e parideiro.

Lembro que com teu salário de professora primária, em três turnos diários, que nunca foi muito, nos alimentava, nos vestia, pagavas nossos colégios. Coisa de mulher virtuosa e organizada.

Após a convalescença do acidente, aprendi a andar com muletas, resolvi conhecer esse mundão de nosso Deus, pisei em 143 países, em todos os continentes da terra, e tenho a honra e a gratidão ao bom e maravilhoso Deus em ser o brasileiro mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, maneira de compensar o tempo que fiquei parado.

Sigo coxo pela vida, tentando aprender a viver, caindo e levantando, e tu continuas como meu exemplo.

Como gostaria que estivesse aqui, certamente com teus lindos cabelos brancos, a te tomar a bênção, cada vez que falasse contigo. Como faz falta, e hoje, quando completarias 88 anos, o meu amor por ti atende pelo nome de saudade.

Te amo, te amo demais, querida mãe.

Obrigado, Papai do Céu, pela mulher que escolhestes para me trazer ao mundo.

 

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(*)Luiz Thadeu Nunes e Silva é eng. agrônomo, palestrante, cronista e viajante; o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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