quarta-feira, 24/04/2024
Luiz Thadeu
Luiz Thadeu* : "Na caminhada da vida, aprendo todo dia"

“Só quero saber o que pode dar certo, não tenho tempo a perder”

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Vem cá, quero te contar uma história. A juventude um dia acaba. A aparência muda e o tempo parece impiedoso. É verdade. Mas e daí?

Daí me dei conta que nada pode ser feito pra mudar isso. Tentei disfarçar, amenizar os efeitos do tempo: no rosto, no corpo, na alma. Quanta tolice.

Nunca venceremos o tempo. Nunca venceremos os anos.

Assim, percebi que minha aparêcia mudou. Minha cabeça também mudou, e mudou para melhor.

Aprendi, a duras penas, a aceitar o que não posso mudar. É natural envelhecer.

Tento fazer do tempo um aliado. O lado bom é que o tempo não envelhece a alma de um sonhador. E, sendo assim, assim tem que ser.

A juventude um dia acaba, mas a vida continua.

De repente é 40… 50… 60… 64 anos.

E daí? Daí a gente segue em frente.

E se descobre que estar em paz é a prioridade. Não tenho tempo a perder.

Não posso me apegar ao que já foi… ao que fui e que não sou mais.

Sou o agora. Sou a minha melhor edição. Revista e atualizada.

Sou minha essência pura e verdadeira.

O que passou, passou, e o que ficou? Experiências, ensinamentos, perrengues, e muitas e boas histórias/estórias. A tragédia de ontem virou a comédia de hoje. Rebobino a memória. Dou risadas.  Defeitos? Milhares. Medos? Alguns.

Problemas? Vários. Desistir? Jamais.

No outono da vida, estou cada vez mais parecido com o meu velho e saudoso pai. Coisa que neguei por diversas vezes. Olho-me no espelho, vejo Luiz Magno. Pai, perdão por minha ignorância e soberba.

Na caminhada da vida, aprendo todo dia. Afinei o ouvido para escutar melhor as boas histórias de gente que chega até mim. Nunca fiz curso de oratória, apenas desenvolvi o sentido da escutatória. Hoje, como escrevinhador, escrevo crônicas e as publico em jornais. Este ano, que agora finda, publiquei o livro “Das muletas fiz asas”. E, alegria maior, faço Jornalismo, um velho e adiado sonho. Vê meu nome impresso no livro e nos jornais de diferentes cidades deste imenso Brasil me transborda de alegria.

Sei que tenho menos tempo pela frente do que passou. Aprendi que tudo na vida passa: o bom e o ruim. Não posso ficar eufórico com o bom, nem sorumbático com o ruim; essencial manter o equilíbrio. Aprendi que os maiores ativos para se viver em paz são: paciência, mansidão, sabedoria, resiliência e fé no Deus Vivo.

O bom da caminhada é que não matei o ‘menino irrequieto e curioso’ que existe dentro de mim. Ele aflora todos os dias. Continuo sonhador – os sonhos são minha matéria-prima, sem eles não existo. Tenho sede e fome de conhecimento, de viver coisas novas, experiências de vida, vivenciar o desconhecido. Desbravar o mundo.

Uma palavra me define: “Teimosia”. Como nasci sem nenhum talento, a teimosia me leva para frente. Deus me poupou do sentimento do medo. Inúmeras foram as vezes que tive de vestir a indumentária da coragem e seguir em frente, sem ouvir os críticos que encontrei pelo caminho. Até aqui o balanço é positivo.

O tempo é sempre o senhor da razão.

“Perguntei ao tempo… quanto tempo? Ele respondeu-me, deixe-me passar”, recorro ao poeta Carlos Drumond de Andrade. “A arte existe porque a vida não basta”, Ferreira Gullar.

Nunca saberei quanto tempo tenho pela frente. Cabe a mim, tão somente , escolher a melhor forma de usufruí-lo.

Tudo que consegui na vida foi no sorriso, na simpatia, na gentileza. No grito, na raiva e na fúria, deu tudo errado. Na brutalidade, criei rancores e ressentimentos, e, depois, uma certa vergonha de mim mesmo. As palavras que mais tenho usado são “obrigado” e “desculpe”, palavras que abrem portas, me levam adiante. Aos 64 anos, completados, neste 07 de dezembro, tenho a enorme capacidade de aceitação da vida como ela é. Sou movido por uma alegria invencível, uma fome insaciável do novo, da beleza da vida. Eduquei o olhar para o belo.

Tenho uma vontade férrea de melhorar de corpo e alma a ilimitada capacidade de amar, de dar e repartir. Melhor ser otimista, que resmungão. Já não basta ficar velho? Não precisa ser um velho chato.

“Oh! Nós não saberemos nunca realmente o que somos nem o que desejaríamos ser. O destino brinca agilmente com a nossa vida, tramando e destramando, tendo nos lábios um sorriso indecifrável”, vou de Carlos Drumond de Andrade novamente.

Como brasileiro, nordestino, nascido no planeta bola, já nasci driblando. Driblando as situações mais adversas.

Luiz Thadeu, o andarilho e contador de histórias

Aprendi, desde cedo a driblar os “nãos”, para obter os “sim”. Nunca ninguém me deu nada de graça, tudo comigo é conquistado. Assim fica mais gostoso.

“Ter problemas na vida é inevitável, deixar-se abater por eles é opcional”, sigo acreditando nisso.

“Alegria é a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”, Guimarães Rosa.

A vida é um atrevimento, uma brincadeira, o desafio é ter uma bagagem leve para aproveitar melhor a viagem. Por isso, sigo como um teimoso na caminhada, com a enorme vontade de que as coisas deem certo; grato a Papai do Céu por ter me trazido até aqui.

Essa é a história que queria te contar. Aos 64 anos, me transformei em um Forrest Gump: andarilho e contador de histórias.

 

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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e escritor. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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