terça-feira, 23/04/2024
Marilu, ao centro, sempre muito discreta, fala mansa, nunca a vi se meter em querelas, contendas ou quiproquós Fotos: Acervo pessoal

Marilu, professora de vida, mulher de fé

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Luiz Thadeu (*)

Noite de quinta-feira, 24/08, após um dia corrido, terminei o dia como palestrante no Rotary Clube de São Luís. Chego em casa, atualizo as mensagens. Vejo uma da querida prima Maria Teresa, comunicando a passagem de nossa tia Marilu, no início da noite. Logo em seguida recebo o comunicado de Francisco Agripino, seu primogênito, falando do falecimento da mãe. Aquieto a mente, em oração à Deus, e a memória me remete ao passado.

Ainda muito pequeno, coisa de seis, sete anos, Marilu, uma das três irmãs de minha mãe foi morar em nossa casa no bairro da Jordoa, na av. João Pessoa.

Lembro dela, sempre muito discreta, fala mansa, uniformizada do Colégio Rosa Castro: saia cinza plissada, blusa branca, sapato preto, meia branca, cinto vermelho, lembrando o cinto dos bombeiros. Branquinha, bela, recatada. Nunca a chamei de tia, ousadia da informalidade. Nunca a vi se meter em querelas, contendas ou quiproquós. Sempre na dela.

Marilu cursou o Normal, se tornando professora, assim como minha mãe e Márcia, a caçula das quatro irmãs.

Acompanhei o namoro dela com Nelson Dantas, então funcionário da Sousa Cruz. Em contraponto à Marilu, Nelson é falante, agitado, expansivo.

Nelson e Marilu
Nelson e Marilu souberam criar e educar os sete filhos

Acompanhei o nascimento dos dois primeiros filhos: Francisco Agripino, nome em homenagem aos dois avós, e Socorro. Vi recentemente fotos em preto e branco do primeiro aniversário de Francisco Agripino, comemorado em uma casa no centro da cidade, próximo ao mercado central. Lembro dos docinhos da festa e da Cola Jesus, servidos aos convidados.

Lembro da casa do bairro Pingão que Nelson e Marilu compraram, deixando de pagar aluguel. Nessa casa tive aulas de matemática e física, ministraras por Miguel Antônio, que morou algum tempo com eles. Morava na Cohab, ia a pé até o Pingão para as aulas particulares, reforço para o ginásio do Colégio Batista.

Sempre admirei a família Nunes Dantas: a união, o amor, o companheirismo, a base cristã de todos, alicerçada na fé inabalável do DEUS VIVO.

Nelson e Marilu souberam criar e educar os sete filhos: homens e mulheres decentes, probos, éticos, gentis e amigos. Gosto da atenção e gentileza como me tratam.

Não acompanhei o sofrimento de Marilu nos tempos derradeiros, soube en passante de algumas internações. Em conversa com Miguel Antônio fiquei sabendo que em sua Via Crucis não reclamou, nem blasfemou, comportando-se como deve ser o verdadeiro cristão. Mesmo com as dores da carne, manteve o espírito altivo.

Marilu partiu aos 80 anos, sendo a filha de Maria do Carmo e Agripino a mais longeva. Minha mãe, Dinha, e João, tio, partiram muito novos, com pouco mais de 40 anos.

“Não sei se a vida é curta ou longa demais, mas sei que é preciso, para fazer sentido, tocar os corações.

Ser colo que acolhe, ser braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, ser lágrima que corre.

Que dá sentido à vida, que faz ser intensa. Nem longa e nem curta, apenas verdadeira, a vida deve ser.

Ensina o que aprende, feliz quem faz assim. Viver com alegria, pois tudo contagia.

A vida é amor enfim”. Cora Coralina

Com a partida de Marilu, ficaram os três últimos filhos de Agripino e Maria do Carmo: Márcia, Miguel Antônio e Francisco das Chagas.

Já disse o poeta que as mães não deveriam morrer nunca. Concordo plenamente, perdi minha amada e saudosa mãe, quando tinha 17 anos. Hoje, no outono da vida, 63 anos, a velhice a bater à porta, sigo órfão do amor, da atenção, do aconchego de mãe. É para o colo dela que gostaria de me refugiar diante dos problemas que enfrento. Digo sempre para Heloísa, “Tu só me tratas assim porque não tenho mãe”. Queria ouvir seus conselhos, comer de sua comida, sentir seu cheiro. Minhas narinas guardam seu cheiro até hoje. Todas as vezes que uma mãe parte renasce em mim o sentimento de perda. Sigo a jornada lembrando de seus ensinamentos, de seu exemplo de mulher forte, guerreira, aguerrida.

Nesta hora em que o amor atende pelo nome de saudade, pois saudade é um vazio cheio de lembranças, de momentos felizes, de histórias que ficaram registradas na memória, quero dizer a vocês, queridos primos: Francisco Agripino, Socorro, Alexandre, Ednelson, Ana Cláudia, Próspero Ricardo e Eduardo, que vocês tiveram o privilégio e oportunidade de ter a melhor mãe do mundo que DEUS poderia lhes oferecer. A saudade dói, porém elevem o pensamento aos céus, não em lamúrias, mas em gratidão por terem todo esse tempo de convívio com a querida Marilu, professora de vida, mestra na arte da mansidão, com a sabedoria do bem viver.

Que DEUS abençoe, ilumine, abençoe a Nelson, seu fiel companheiro de toda uma vida, seu eterno namorado, que juntos fizeram sete filhos.

Em um mundo tão conturbado e dividido sai de cena uma mulher de paz, cordata, mansa e serena. Vai deixar muita saudade.

Um fraternal abraço desse primo, que mesmo distante, chora a partida dessa mulher de fé.

 

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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva  é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: autor do livro “Das muletas fiz asas”, o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes da terra.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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