sábado, 20/04/2024
Luan Santos, do ITP: "Aracaju ainda não tem infraestrutura para receber a tecnologia 5G"

Tecnologia 5G “será um grande desafio, mas estou otimista”, afirma Luan Santos do ITP

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O leilão do 5G no Brasil, que terminou na sexta-feira, rendeu ao Governo Federal R$ 45,790 bilhões, e os principais grupos de telecomunicações – Claro, Vivo e Tim – arremataram os melhores blocos. Outras quatro empresas entraram no mercado e, com certeza, irão ampliar a concorrência no setor. A promessa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é que em julho de 2022 todas as capitais tenham a tecnologia 5G. “Será um grande desafio, mas estou otimista”, disse Luan Santos, responsável pelo setor de tecnologia da informação do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP).

Aracaju está como a maioria das capitais brasileiras que ainda não tem infraestrutura suficiente para receber o 5G. Das 27 capitais, somente Boa Vista, Brasília, Curitiba, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho e Fortaleza (a única capital nordestina) têm esse know-how.

“Um dos primeiros passos para Aracaju se adequar e assim se tornar apta ao 5G é implementar processos para desburocratizar e reduzir os prazos de emissão das licenças de antenas, alinhando a legislação local com a Lei Geral de Antenas (LGA)”, afirma Luan Santos. “A tecnologia do 5G exige uma quantidade 10 vezes maior de antenas do que a frequência 4G, considerando a mesma área de cobertura”, acrescentou.

“A rede 5G permite a possibilidade de estudos e trabalho remoto com maior qualidade nas videoconferências, acesso à medicina a distância”, observa Luan, ao destacar que “a melhoria de velocidade, tempo de resposta e confiança na rede prometem abrir um leque de aplicações”.

5G: promete revolucionar o país

Assim como vai ocorrer nas capitais, o consumidor para ter acesso ao 5G terá que investir, adquirindo telefones celulares modernos e compatíveis com essa tecnologia. “No início tudo será mais caro, mas com o passar do tempo, se tornará popular. O lado bom da história é que com a chegada do 5G, celulares com tecnologias de terceira e quarta geração (3G e 4G) terão seus preços reduzidos”, acredita.

Mesmo ligado no leilão do 5G, na quinta e sexta-feira , Luan, que é formado em Redes de Computadores pela Universidade Tiradentes (Unit), especialista em gestão de TI e Cloud Computing, conversou com o Só Sergipe sobre a tecnologia que promete revolucionar o país.

Confira a entrevista.

SÓ SERGIPE – Nestes últimos dias tivemos o tão esperado leilão do 5G, que promete revolucionar tudo que se viu em velocidade na internet até agora.  Será que essa promessa será concretizada? O que esperar do 5G?

LUAN SANTOS – O 5G é a evolução da atual internet móvel, e em mais de 60 países já é uma realidade e não será diferente com o Brasil.

SÓ SERGIPE – O que o 5G vai permitir?

LUAN SANTOS –  A rede 5G permite a possibilidade de estudos e trabalho remoto com maior qualidade nas videoconferências, acesso à medicina a distância, melhoria da mobilidade urbana e desenvolvimento de cidades inteligentes, além do acesso a produtos inovadores e inteligentes de utilidade doméstica que ainda não são utilizados no país pela baixa capacidade de conexão.

Leilão do 5G ocorreu quinta e sexta-feira na Anatel, em Brasília  Foto: José Cruz/Agência Brasil

SÓ SERGIPE – Na prática, qual a diferença do 4G, que temos hoje, e o 5G?

LUAN SANTOS – A melhoria de velocidade, tempo de resposta e confiança na rede prometem abrir um leque de aplicações. Por exemplo: o 5G possibilitará a realização de cirurgias remotas com maior segurança, utilização de carros autônomos e outros dispositivos inteligentes, inteligência artificial, realidade aumentada e mista. Atualmente no 4G, por conta da limitação de velocidade e latências mais altas, isso não é possível.

SÓ SERGIPE – A pandemia da Covid-19 mostrou algo preocupante: nem todas as pessoas estão conectadas, principalmente aquelas com baixo poder aquisitivo. O que será necessário para que o 5G chegue a essas pessoas?

LUAN SANTOS – Acredito que no primeiro momento, segmentos como a indústria, a medicina serão os primeiros beneficiados. Levando em consideração que para utilização da nova rede, os usuários precisarão de celulares de última geração, se políticas públicas não forem adotadas, dificilmente pessoas com baixo poder aquisitivo terão a oportunidade de utilizar o 5G inicialmente.

SÓ SERGIPE – Nas primeiras horas do leilão, na quinta-feira pela manhã, já se soube que no Brasil haverá uma nova operadora, a Winity II Telecom, ligada ao Fundo Pátria. Como o senhor acredita que o mercado consumidor reagirá com essa nova empresa, que ganhou a frequência de 700 Mhz?

LUAN SANTOS – A Winity II precisará atender algumas exigências do governo para se manter no mercado. A telecom terá que implementar conexão de internet em pelo menos 31 mil quilômetros de rodovias federais. Além disso, a Winity precisa expandir o alcance do 4G para locais no Brasil que ainda não são atendidos pela tecnologia.

Caso a empresa siga os protocolos exigidos pela Anatel, poderá competir com gigantes do setor de telecomunicações, incluindo Vivo, Tim e Claro. Desse modo, o mercado reagirá de forma positiva, aumentando a qualidade dos serviços, por conta da concorrência.

SÓ SERGIPE – Há um detalhe curioso. Das 27 capitais, apenas sete têm infraestrutura necessária para que a tecnologia possa ser disponibilizada.  Como Aracaju deve se adequar à Lei Geral de Antenas?

LUAN SANTOS – Além das 7 capitais mencionadas, mais 4 cidades estão em fase de adaptação à LGA: Belo Horizonte, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo.

Um dos primeiros passos para Aracaju se adequar e assim se tornar apta ao 5G é implementar processos para desburocratizar e reduzir os prazos de emissão das licenças de antenas, alinhando a legislação local com a LGA.

SÓ SERGIPE –   O senhor pode explicar um pouco mais sobre a LGA? O que ela estabelece e qual a situação de Aracaju?

Para tornar o processo de instalação do 5G mais rápido, as capitais precisam se adaptar à LGA Foto: André Moreira/PMA

LUAN SANTOS – A tecnologia do 5G exige uma quantidade 10 vezes maior de antenas do que a frequência 4G, considerando a mesma área de cobertura. A LGA apresenta uma série de regras que facilita a instalação de novas antenas 5G, que pode, por exemplo, ser instalada nas fachadas de prédios. Por isso, para tornar o processo de instalação do 5G mais rápido, as capitais precisam se adaptar à LGA e dar celeridade ao tempo de análise e de liberação de antenas e torres de transmissão. Atualmente apenas 7 capitais brasileiras estão aptas para receber a tecnologia 5G, aqui no Nordeste apenas Fortaleza.

SÓ SERGIPE – A previsão da Anatel é que até julho de 2022 pelo menos as capitais tenham o 5G. Diante desse cenário, com somente sete capitais com infraestrutura pronta, será possível cumprir esse prazo?

LUAN SANTOS – Será um grande desafio, mas estou otimista. Creio que teremos sim a cobertura, como prevista.

SÓ SERGIPE – Caso esse prazo de julho de 2022 seja cumprido, quem garante que haverá frequência em todos os lugares das capitais?

LUAN SANTOS – A cobertura terá um crescimento gradativo, tanto pela logística de instalação de maior número de antenas, como também pela geografia das cidades e infraestrutura pré-existente.

SÓ SERGIPE – Hoje o público tem muita desconfiança quando contrata um plano de internet. Sempre temem que o pacote recebido  não seja realmente o contratado. Essas dúvidas têm sentido? Se afirmativo, elas permanecerão com o 5G?

LUAN SANTOS – O 5G trabalha com frequências mais altas, o que possibilita um maior tráfego de dados e assim altas velocidades. Essa evolução mudará a forma como utilizamos as redes móveis, o que sugere que os planos de internet serão ofertados com maiores pacotes de dados.

SÓ SERGIPE – Esta semana, o WhatsApp deixou de funcionar em aparelhos mais antigos. No próximo ano, será necessário que as pessoas troquem de telefone para ter acesso a essa tecnologia, ou isso é mera especulação?

LUAN SANTOS – Os aparelhos celulares mais antigos não terão compatibilidade técnica com o 5G, sendo obrigatória a troca para telefones atuais e compatíveis com a nova rede nas frequências do 5G brasileiro.

SÓ SERGIPE –  A bola da vez é o 5G, mas atualmente há 2 milhões de celulares em 2G e outros tantos não têm nada.  Será que o 5G é para “inglês ver”, como ironizou o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz?

LUAN SANTOS – No início tudo será mais caro, mas com o passar do tempo, se tornará popular. O lado bom da história é que com a chegada do 5G, celulares com tecnologias de terceira e quarta geração (3G e 4G) terão seus preços reduzidos.

SÓ SERGIPE –  Na sua opinião, como será o mercado tecnológico quando o 5G se tornar uma realidade? Teremos supercomputadores,  SmartTV com imagens  fantásticas e Smartphones extremamente eficientes?

LUAN SANTOS-  O 5G vai nos possibilitar o desenvolvimento pleno da internet das coisas, onde dispositivos estarão ainda mais conectados e automatizados. Será comum geladeiras, cafeteiras e outros aparelhos domésticos inteligentes funcionarem de forma autônoma ou comandados pelo celular ou comando de voz.

Cidades inteligentes, cheias de sensores e inteligência artificial para tomada de decisões, poderão identificar problemas de infraestrutura e de forma antecipada corrigi-los. Melhorias no trânsito serão percebidas e teremos também gerenciamento de recursos para minimizar o desperdício de energia, entre outras possibilidades.

SÓ SERGIPE – Estamos a caminho do “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, publicado em 1932, com seus prós e contras numa sociedade totalmente conectada?

LUAN SANTOS – Apesar de ter sido escrito há mais de 80 anos, o livro se mostra, em muitos momentos, extremamente atual e estaremos cada vez mais conectados e auxiliados pela tecnologia no nosso cotidiano.

 

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