segunda-feira, 22/04/2024
Bruno Dórea, presidente da Abrasel: “Esse não é um ato político. Queremos uma reparação"

“A única coisa que nos mantém em pé é a fé”, diz o presidente da Abrasel

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Independente das medidas que possam ser anunciadas, amanhã,  pelo governador Belivaldo Chagas, o setor de bares e restaurantes já vive um lockdown, desde o momento em que foi decretado o fechamento por dois finais de semana e no feriado de 17 de março, para conter o avanço da Covid-19. Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Sergipe (Abrasel), Bruno Dórea, “precisamos também de algum tipo de vacina para as empresas”. Somente essa semana, duas empresas grandes do setor – Coco Sergipe  e Black Café – fecharam as portas.

O representante da Abrasel quer, nesse momento, que tanto o Governo de Sergipe como a Prefeitura de Aracaju, se somem aos empresários do setor para ajudá-los. Uma pesquisa encomendada pela entidade, mostrou que na primeira quinzena de março, mais de 78% dos bares e restaurantes fecharão ou pretendem fechar as portas, enquanto 81,45 dos empresários não conseguirão manter a folha de pagamento em dia. Dessa forma, ressalta Dórea, é primordial que os entes públicos olhem para o setor.

Essa semana, também, a Abrasel lançou a campanha “Vamos dividir a conta?”, fazendo um apelo ao Governo do Estado e Prefeitura de Aracaju, diante das dificuldades que o setor atravessa e que se agravou com o toque de recolher, que está em vigência ainda esta semana.

“Nós entendemos a necessidade, mas parece que o poder público não entende a nossa. Esse problema é de todos! Acenar com um empréstimo do Banese é um ato, mas não resolve”, disse Bruno Dórea, que essa semana conversou  com o  Só Sergipe.

SÓ SERGIPE – Na última quinta-feira, a Abrasel e outras entidades participaram de uma reunião no Ministério Público Estadual  e, na segunda-feira, 22, devem entregar um documento sugerindo um rodízio na abertura dos estabelecimentos comerciais. Como será esse rodízio especificamente para o setor que o senhor representa?

BRUNO DÓREA – Seria um escalonamento de horário. O comércio começaria num horário, shoppings em outros e na sequência teriam os restaurantes. E que o encerramento das atividades fosse também escalonado. Uma às 17 horas, outra às 19, depois outra mais tarde, a fim de que não haja aglomeração no transporte público. São sugestões que estamos formando para entrar num consenso junto com o MPSE e não tem nada formalizado ainda.

SS – Aliás, o transporte público tem chamado a atenção de diversas categorias, justamente porque é a única opção para a maioria dos trabalhadores. Muitos temem que esses trabalhadores, ao usarem o transporte, levem a contaminação para dentro das empresas.

BD – Exatamente. Por isso, a importância desse escalonamento. Com certeza, o transporte público é uma grande via de transmissão e nós esperamos que o escalonamento cause uma diminuição de pessoas no transporte, tendo em vista  que os setores vão abrir e fechar em horários diferentes. Essa é a principal medida. O escalonamento é, basicamente, para acabar com a aglomeração no setor.

SS – No início da pandemia, no passado, muitos bares e restaurantes fecharam as portas devido às medidas restritivas. Na época, a preocupação da Abrasel era que muitos empresários do setor encerrassem definitivamente as atividades. Completado um ano de pandemia, qual a situação do setor?

Restaurante Don Rafael avisa que fechou uma unidade temporariamente

BD – No ano passado teve esse medo, foi muito difícil, porém tivemos uma ajuda na Medida Provisória 936, para o pagamento da folha de funcionários, e na sequência veio o Pronampe que foi um empréstimo para manter as empresas vivas. Foi muito assustador naquela época, era tudo uma novidade. As empresas tinham uma certa gordura financeira, que foi queimada no início. Um ano depois vemos uma onda muito maior, se foi segunda ou quinta, para nós estamos numa onda só. É um mar inteiro. O cenário agora é totalmente diferente. Há 15 dias, eu falava do decreto do governo que veio fechando os restaurantes no final de semana. Eu disse que aquilo seria fatal para o setor, porque agora não há as ajudas do governo federal. O fechamento dos bares e restaurante no final de semana representa uma perda de 70% do nosso faturamento.  O golpe agora seria fatal e assim está sendo. As empresas todas com dificuldades. Eu recebi pesquisa encomendada por nós da Abrasel mostrando que 78% fecharão ou pretendem fechar suas empresas e 81% não têm como pagar sua folha de funcionários este mês. Então, é um cenário trágico, de luto. Vimos que dois restaurantes grandes anunciaram o encerramento – Coco Sergipe e Black Café – e temos mais dois anunciando que amanhã, segunda-feira, encerrarão.

SS – Outras empresas poderão fechar?

BD – Com certeza, isso é só o início. Veja também Matuto, Atlanta, a Cervejaria Uçá fechando temporariamente. Pessoas que ainda podiam demitir seus funcionários, já fizeram. Os que estão abertos hoje nem demitir conseguem, porque não têm o dinheiro para pagar todas as despesas. Então a situação é caótica, de guerra. Estamos de luto e em luta, porque vai ser uma luta para tentar sobreviver e vencer. Mas eu não posso deixar de esquecer de dizer que nós, também, estamos morrendo de medo do vírus. Porque até parece que apenas queremos continuar nossa vida financeira. Não. Estamos numa situação de corredor da morte: de um lado está o vírus, do outro está desemprego, aluguel, as outras contas, a depressão. Inclusive, uma nova surpresa que está surgindo: o arrombamento das lojas que estão fechadas.

SS- O que mais a pesquisa da Abrasel revela?

BD –  A pesquisa aponta que  na continuidade das medidas até 1º de abril, nas quais o decreto  estadual restringe a locomoção noturna a partir das 20 horas, limita o horário de funcionamento do segmento até as 18 horas para atendimento presencial e a atividade de delivery até as 24 horas, provocará o fechamento de até 74,2% das empresas. Pelo menos 17,4% dos entrevistados disseram que não vão mais abrir e 43,2% não sabem como vão funcionar.

SS – Antes o senhor falou de bares e restaurantes que estavam fechados e foram arrombados. Poderia falar um pouco mais sobre isso?

BD – O próprio Black Café, que fechou, foi arrombado. Eu tive um restaurante que fechou durante a pandemia e foi arrombado. Houve um caso triste que foi o Pastel da Jane. Então, é uma sequência: desemprego, falta de venda. A cadeia de restaurante não é só aquela que está empregada naquele setor: tem o cara do queijo, do amendoim, o músico, o motorista do Uber, a catadora de aratu. Há de pequenos a grandes trabalhando nesse ramo.

SS – As perspectivas podem parecer sombrias porque, amanhã, 22, o governador deve anunciar mais medidas. E o temor é que haja um lockdown total no Estado, não é?

BD – Desde a primeira semana, estávamos dizendo que era melhor logo ter o lockdown na intenção de resolver. Porque somente no fechamento de bares e restaurantes todos sabiam que não  ia impedir a evolução do vírus. E isso aí foi fatal para o nosso setor. Nesse momento, o cenário já é de lockdown. Os restaurantes já estão vazios. As pessoas estão em casa com medo. O que precisamos é de ajuda do Governo do Estado, como também da Prefeitura de Aracaju. Qualquer tipo de ajuda é bem-vinda. Não temos condições nenhuma de pagar qualquer tipo de boleto, de parcela ou imposto. Nem estamos pagando a folha, imagina as outras coisas. A realidade é triste para todos, não só para o nosso setor. Talvez seja mais forte conosco, mas a dor é geral. Ninguém sabe ao certo como lidar com essa doença, mas nós precisamos de parâmetros mais seguros: quais são os parâmetros para manter o comércio aberto? É o número de leitos, a transmissão da doença, o número de mortes, o número de contaminados? Qual é o índice, realmente, que nos interessa para manter o comércio aberto? São dessas respostas que precisamos. O nosso planejamento como empresa é anual. Não tem planejamento semestral ou semanal. O que faremos com os funcionários, com os impostos?

Campanha da Abrasel

SS – A Abrasel lançou uma campanha chamada de  “Vamos dividir a conta?” Como está?

BD – Sim, foi lançada essa semana. Já tivemos diálogos com o secretário da Fazenda do Estado e de Aracaju. Estamos aguardando uma iniciativa que nos dê um ânimo, porque neste momento a única coisa que temos é a fé. A única coisa que nos mantém em pé é a fé.

SS – O Governo do Sergipe abriu um financiamento no Banese. O que o senhor achou?

BD – Acenar com um empréstimo do Banese é um ato, mas não resolve. Seguimos buscando alternativas para diminuir o impacto da crise que o setor de alimentação fora do lar enfrenta há um ano. Essa é a nossa luta. Estamos divulgando alternativas que apresentamos aos poderes para que a população que já entendeu que não é nossa culpa, possa agora também nos ajudar na construção de um plano pra salvar milhares de empregos em Sergipe.

SS – O setor hoje emprega quantas pessoas em Sergipe?

BD – Nós temos em torno de 30 mil empregos diretos no Estado, com mais de 5.400 CNPJs. Nosso mercado abrange muita gente, como padarias, lanchonetes, enfim, muito amplo.

SS- O senhor defende uma revisão nas leis? É importante a participação de toda a população nesse momento?

BD – Já se passou um ano com esse vírus e precisamos encontrar um meio de rever esse novo normal. Precisamos rever regras, leis, para tentarmos sobreviver diante do vírus. E o comércio, como qualquer trabalho, é essencial. É muito importante que as pessoas se responsabilizem e se cuidem onde quer que estejam. Evitem aglomerações. É muito importante que chamemos a atenção da população enquanto responsáveis também pela não proliferam do vírus nos ambientes.

SS  – Esse problema que  vivemos no Brasil, não passa também por falta de comando do Governo Federal, do negacionismo?  

BD – Não podemos entrar nesse mérito, porque o problema é mundial. Se for fazer equiparações, não dá. Os Estados Unidos estão aí com problemas, França falando em lockdown até hoje. Parece que o vírus vai como uma maré. Balança um pouco aqui, ali. É claro que é muito importante a vacina, precisamos dela, mas precisamos também de algum tipo de vacina para as empresas. Eu sei que a saúde é muito mais importante, mas eu tenho medo de um cenário mais caótico de pessoas sem emprego, passando fome, necessidades, de aumento de roubos e furtos. Medo do caos. Precisamos de um equilíbrio. É muito difícil para os governantes de qualquer esfera, mas acredito que temos que pensar, não só falar em novo normal, mas de agir para mudar essa realidade.

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