sábado, 20/04/2024
Professor Gilberto José Costa-Silva: referência no mundo acadêmico quando o tema é aves

Doutor em Zootecnia Gilberto Costa-Silva:  “Sergipe apresenta crescimento significativo na produção de aves”

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“O estado de Sergipe tem se destacado por apresentar um crescimento significativo na produção de aves nos últimos anos.” A constatação é do professor Gilberto José Costa-Silva, doutor em Zootecnica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e professor aposentado do Instituto Federal de Sergipe (IFS). Referência no mundo acadêmico, quando o tema é aves, Gilberto ressalta que entre 2017 e 2019 “a produção de frangos em Sergipe aumentou em cerca de 37%, passando de 7,7 milhões de aves alojadas em 2017 para 10,5 milhões em 2019, e hoje produz cerca de 1 milhão de frangos de corte/mês ou 11 milhões de aves por ano, especialmente com ‘Asa Branca Alimentos’ e ‘Agropec’, e outros produtores de sucesso”.

Ele destaca, no entanto, que o maior problema do Estado “é o ingresso de aves clandestinas de estados vizinhos, sem a adequada fiscalização”. No entanto, frisa que em Sergipe “temos ativamente um excelente corpo técnico com essas empresas e nos órgãos estaduais”.

Costa-Silva afirma que, em sua área de estudos, existem inúmeros profissionais de elevada qualidade no Estado e sempre vêm de outros Estados, particularmente ligados a empresas de rações e produção de pintos de um dia e de vacinas, participando de eventos ou eventuais assistências às granjas. Ele citou  médicos veterinários e zootecnistas como Dr. Danilo Cardoso, com os já tradicionais CANPA – Ciclo de Atualização em Alimentação e Nutrição Animal, doutores Claudson Brito, da UFS, Antônio Coutinho, Prof. Alfredo Cabral do IFS/SC e outros excelentes profissionais. “Nossa atividade particular nos últimos 17 anos junto ao IFS Aracaju se desenvolveu com ensino e metodologia científica, com dedicação integral não atuando diretamente com as empresas”, afirmou.

Hoje, o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e produção de ovos. “Em 2022, foram abatidas cerca de 6,5 bilhões de cabeças de frangos, um volume recorde que representa uma alta de quase 3% em relação ao ano anterior, sendo que mais da metade dos abates aconteceu na Região Sul, com destaque para o Paraná. A produção de ovos atingiu aproximadamente 4,2 bilhões de dúzias, também alcançando uma marca histórica, destacando-se também Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais”, explicou Gilberto Costa-Silva.

Gilberto com os alunos

O doutor enumera, também, os benefícios para quem consome carne de frango e os ovos, alimentos extremamente importantes para o homem. “Tanto os ovos como a carne de frango são ricos em proteínas de alto valor biológico, ou seja, contêm todos os aminoácidos essenciais que o corpo humano precisa para construir tecidos e reparar células, além de vitaminas e minerais”, ressaltou.

Nesta entrevista com o professor doutor Gilberto Costa-Silva, uma inovação: tem a participação especial de Ana Júlia Cardim, 20 anos, estudante no 5° semestre do curso de Medicina Veterinária da UNEX (Centro Universitário de Excelência), em Feira de Santana (BA).  Dentre outras coisas, ela diz que durante a disciplina ‘Criação e Manejo de Monogástricos’ aprendeu a respeito de avicultura “e descobri um mundo realmente muito interessante repleto de ciência e muita inteligência envolvida em todas as etapas de produção. Ela fez sete questionamentos que estão em destaque na edição deste domingo.

Gilberto e a esposa Ideilza Tehany

O doutor Gilberto José Costa-Silva, 69, formado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), dono de um vasto currículo profissional, com participação em vários congressos, simpósios, também desenvolveu e orientou projetos de pesquisa que visam valorizar o ecoturismo, preservar as raízes culturais e a sustentabilidade ambiental no IFS Aracaju. Costa-Silva foi membro da Comissão de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás, entre 2001 e 2004, secretário adjunto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre 2000 e 2002.  Participou da publicação do livro “Produção e qualidade de Pintos de um dia”, e autoria principal do doutor Egladson J. Campos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), incluindo seu capítulo escrito sobre “Fotoaceleração da Embriogênese de pintos de um dia”.

Costa-Silva é maçom grau 33 e ingressou na Ordem, em 1982, na Loja Acácia do Sul de Minas, em Varginha. É membro da Academia Maçônica de Artes, Ciências e Letras, participou das edições dos três volumes das obras “Maçonaria para todos” I e II e deste volume III, em coautoria com o professor doutor Valtênio Oliveira. É casado com Ideilza Tehany Costa-Silva que lhe proporcionou uma vida de grandes alegrias em família.

A entrevista com Gilberto Costa-Silva está imperdível. Confira.

SÓ SERGIPE – O senhor é doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. E o título da sua tese de doutorado “Viabilidade de Uso de Fosfatos de Rochas e Sulfato de Alumínio em Rações de Frangos de Corte e Poedeiras Comerciais”.  O senhor poderia explicar melhor esse estudo e como ele está contribuindo para a indústria avícola no país?

GILBERTO COSTA-SILVA – Nossas pesquisas nessa área iniciaram-se ainda em 1980 durante o Mestrado na UFMG, com níveis de fósforo nas rações avícolas visando a redução dos custos de produção, pois é um elemento essencial e custo elevado. Não satisfeito, continuamos as pesquisas em 1984 na Unifenas, num financiamento do CNPq, mantendo a linha de pesquisa para a indicar os níveis mais adequados para a Relação Ca:P, indicando níveis de 0,2% de P (fósforo via fosfato bicálcico) contra 4% de cálcio nas dietas para frangos de corte e diferentemente de maiores níveis utilizados pelas empresas de rações na década de 1980. Daí, lecionando na UNESP e realizando o Ph.D. partimos para a substituição da fonte convencional – o fosfato bicálcico – visto que os fosfatos de rochas na alimentação de aves poderiam ser desenvolvidos para substituir o fosfato bicálcico, geralmente caros no balanço das rações, como em estudos com bovinos. Porém poderiam causar problemas ósseos, mortalidade e problemas de casca dos ovos, quando proposto o uso químico do sulfato de alumínio para minimizar os efeitos do flúor das rochas fosfáticas nessas rações. Na época foi um estudo pioneiro com aves utilizando Fosfatos de Rochas de Araxá e Catalão, e os resultados contribuíram para gerar a nossa tese e outras pesquisas pelo mundo que demonstram que o uso de fosfatos de rochas na alimentação de aves pode ser uma alternativa viável e mais econômica ao fosfato bicálcico. No entanto, essas rochas podem conter quantidades significativas de flúor, o que pode levar a problemas de saúde nas aves, incluindo problemas ósseos e de casca dos ovos; as partidas desses fosfatos devem ter segurança máxima das misturas.

O sulfato de alumínio é frequentemente proposto como um aditivo para minimizar os efeitos negativos do flúor nas rações para aves. Isso ocorre porque o sulfato de alumínio pode reagir com o flúor nas rochas fosfáticas, formando um composto insolúvel que não é absorvido pelo organismo das aves.

No entanto, é importante ressaltar que o uso de sulfato de alumínio na alimentação de aves também pode ter efeitos negativos. Em altas doses, o sulfato de alumínio pode ser tóxico para as aves e pode afetar negativamente, deixando resíduos para os nossos alimentos. Portanto, é importante garantir que as doses de sulfato de alumínio sejam cuidadosamente controladas e que as aves recebam uma dieta equilibrada e adequada às suas necessidades nutricionais.

O professor em uma de suas atividades

SÓ SERGIPE – Pernambuco é o maior produtor de frango do Nordeste. Qual o posicionamento de Sergipe neste ranking?

GILBERTO COSTA-SILVA – Quanto aos dados de produção de aves e ovos do Nordeste, é importante contextualizar antes a produção de frangos e ovos no Brasil, e por estados do Nordeste nos últimos anos, que felizmente vem crescendo; o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e a produção de ovos. Segundo dados do IBGE e associações avícolas, no Brasil, em 2022, foram abatidas cerca de 6,5 bilhões de cabeças de frangos, um volume recorde que representa uma alta de quase 3% em relação ao ano anterior, sendo que mais da metade dos abates aconteceu na Região Sul, com destaque para o Paraná. A produção de ovos atingiu aproximadamente 4,2 bilhões de dúzias, alcançando uma marca histórica, destacando-se também Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Por sua vez, a produção de frangos e ovos em alguns estados do Nordeste também tenha aumentado nos últimos anos, impulsionada pelo crescimento do setor avícola no país. Pernambuco e Ceará são os maiores produtores do Nordeste, e Pernambuco, como o principal produtor de frangos do Nordeste, detém uma produção de cerca de 490 mil toneladas, o que corresponde a aproximadamente 4% da produção nacional.

Já em relação à produção de ovos, Pernambuco é o quinto maior produtor do país, com uma produção de cerca de 950 milhões de unidades. A Bahia teve um incremento considerável na produção de aves em 2022 e nos últimos anos. A Bahia é o nono maior produtor do Brasil, sendo responsável por 2,3% dos frangos abatidos no país. De janeiro a março, foram abatidos no estado 36 milhões de aves, 1,9% acima do antigo recorde, registrado no 4º trimestre do ano passado (35.211.430). Já frente ao primeiro trimestre de 2021 (33 milhões) o número foi 8% maior. A produção de ovos foi de 19,2 milhões de dúzias, 1,7% abaixo do recorde registrado no trimestre imediatamente anterior, com 19,5 milhões de dúzias. Mesmo assim, o número foi 1,5% superior aos dados do primeiro trimestre de 2021.

No caso do Ceará, o estado alojou cerca de 97 milhões de aves para corte ao longo do ano, o que corresponde a aproximadamente 1,9% da produção nacional de frangos. Em relação à produção de ovos, o Ceará produziu cerca de 450 milhões de unidades, o que representa aproximadamente 1,3% da produção nacional.

SÓ SERGIPE – E o estado de Sergipe?

GILBERTO COSTA-SILVA – Em relação à produção de frangos e ovos, Sergipe não é um dos maiores produtores do nordeste ou do Brasil. De acordo com dados do IBGE de 2019, Sergipe alojou cerca de 10,5 milhões de aves para corte, o que representa menos de 0,2% da produção nacional de frangos. Em relação à produção de ovos, o estado produziu cerca de 149 milhões de unidades, o que representa aproximadamente 0,3% da produção nacional.

SÓ SERGIPE – Há estudos sobre o consumo de frango em Sergipe?

GILBERTO COSTA-SILVA – Apesar de não ser um grande produtor, o estado de Sergipe tem se destacado por apresentar um crescimento significativo na produção de aves nos últimos anos. Entre 2017 e 2019, por exemplo, a produção de frangos em Sergipe aumentou cerca de 37%, passando de 7,7 milhões de aves alojadas em 2017 para 10,5 milhões em 2019, e hoje produz cerca de 1 milhão de frangos de corte/mês ou 11 milhões de aves por ano, especialmente com “Asa Branca Alimentos” e “Agropec”, e outros produtores de sucesso. O maior problema do Estado é o ingresso de aves clandestinas de estados vizinhos, sem a adequada fiscalização fiscal e sanitária que leva prejuízos à atividade e às receitas do Estado de Sergipe. Felizmente temos de forma ativa um excelente corpo técnico com essas empresas, e também órgãos estaduais.

SÓ SERGIPE – Quais os principais benefícios nutricionais do frango?

GILBERTO COSTA-SILVA – Frangos e ovos são alimentos ricos em nutrientes essenciais para a alimentação humana. Entre seus principais benefícios estão as suas proteínas de alta qualidade: tanto os ovos como a carne de frango são ricos em proteínas de alto valor biológico, ou seja, contêm todos os aminoácidos essenciais que o corpo humano precisa para construir tecidos e reparar células, além de vitaminas e minerais: os ovos são uma excelente fonte de vitaminas do complexo B, especialmente a biotina, além de conterem vitamina D, vitamina A, ferro, zinco e selênio. Já a carne de frango é rica em vitaminas do complexo B, niacina, fósforo e selênio.

Os ovos têm baixo teor de gordura

SÓ SERGIPE – E dos ovos?

GILBERTO COSTA-SILVA – Baixo teor de gordura: tanto os ovos quanto a carne de frango são relativamente baixos em gordura, especialmente se comparados a outras fontes de proteína animal, como a carne vermelha, além dos seus custos naturalmente mais baixos devido à produção em escala industrial, o que torna o frango e os ovos alimentos relativamente acessíveis para toda a população, mesmo em momentos de crises econômicas. No entanto, é importante escolher ovos e frangos de qualidade, de preferência criados em condições adequadas e alimentados com ração balanceada, para garantir que sejam mais saudáveis e nutritivos. As aves caipiras, frangos e ovos de fundo de quintal têm a vantagem de serem criados de forma mais natural e com acesso a pasto, mas a dieta em geral não atende às exigências nutricionais para redução do tempo de criação. Além disso, essas aves geralmente têm uma vida mais longa e ciscando têm uma musculatura mais rígida que contribui para maior tempo de cocção e preparo com paladar que satisfaz a alguns, porém sanitariamente inadequada a criação para a saúde dos consumidores.

SÓ SERGIPE – Qual a diferença entre as galinhas de granja e as de capoeira (caipira)? Faço esse questionamento, porque vejo, no dia a dia, as pessoas nos mercados e feiras-livres valorizando mais a segunda. O mesmo ocorre com as escolhas dos ovos.

GILBERTO COSTA-SILVA – O consumo de aves e ovos de galinhas criadas soltas em campo e que se alimentam de minhocas, insetos e outros alimentos naturais pode trazer benefícios à saúde, pois esses alimentos são ricos em nutrientes importantes. No entanto, é importante lembrar que esses animais também podem estar expostos a doenças e infecções, e que essas doenças podem ser transmitidas aos seres humanos através do consumo de carne ou ovos contaminados. Entre as doenças que podem ser transmitidas através do consumo de carne ou ovos contaminados estão a salmonela, a campilobacteriose, a listeriose e a E. coli. Essas doenças podem causar sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, febre, dor abdominal e outras complicações mais graves, como septicemias. Para minimizar o risco de contrair essas doenças, é importante que sejam seguidos os programas de vacinação nas criações e seguir as boas práticas de higiene ao manipular e cozinhar alimentos, como lavar as mãos regularmente, cozinhar a carne e ovos completamente, evitar o contato entre alimentos crus e cozidos, assim como armazenar corretamente os alimentos. Além disso, é importante lembrar que a qualidade da alimentação e das condições de vida das aves podem influenciar na qualidade nutricional da carne e dos ovos produzidos. Portanto, é importante garantir que as aves sejam criadas em condições adequadas de higiene e alimentação para garantir a qualidade dos alimentos produzidos.

SÓ SERGIPE – Numa situação do dia a dia de quem vai à feira-livre, soube por um vendedor que os frangos dele morreram devido ao fato de comer muito coco.  Ele ficou sabendo por um amigo que as galinhas morreram de infarto, justamente por esse consumo excessivo de coco. Isso procede?

GILBERTO COSTA-SILVA – A reciclagem dos dejetos, consumo de pedriscos, minhocas, gusanos, vegetais, restos de comidas veiculam bactérias, vírus e verminoses, que são perigosos para a saúde. O falecimento por “morte súbita enzoótica” ou o infarto das aves são mais comuns com o estresse calórico e ambiente confinado das granjas e as altas temperaturas do Nordeste em especial. As aves caipiras, frangos e ovos de “fundo de quintal” geralmente são animais criados em pequenas propriedades rurais ou quintais, com acesso a pasto, alimentação naturalmente desbalanceada e com riscos sanitários. Já as aves criadas em condições tecnicamente adequadas nas granjas avícolas estão em um ambiente controlado, com alimentação balanceada e com uso de técnicas para melhorar a produtividade e a saúde das aves.

A principal diferença entre as aves criadas em condições tecnicamente adequadas e as aves criadas em pequenas propriedades rurais é a escala de produção. As granjas avícolas são capazes de produzir uma quantidade maior de carne e ovos de forma mais eficiente, já que contam com tecnologia de ponta e investimento em pesquisa e desenvolvimento para melhorar a genética das aves, nutrição e manejo sanitário. Outra diferença importante é a uniformidade da produção. Nas granjas avícolas, as aves são selecionadas por tamanho e peso, o que resulta em produtos mais padronizados. Já as aves criadas em pequenas propriedades rurais podem ter variações de tamanho e peso, o que pode impactar na qualidade e sabor da carne e dos ovos. No entanto, as aves caipiras, frangos e ovos de fundo de quintal têm a vantagem de serem criados de forma mais natural e com acesso a pasto, mas a dieta em geral não atende às exigências nutricionais para redução do tempo de criação. Além disso, essas aves geralmente têm uma vida mais longa e ciscando têm uma musculatura mais rígida que contribui para maior tempo de cocção e preparo com paladar que satisfaz a alguns, porém sanitariamente inadequada a criação para a saúde dos consumidores.

Veterinária
Ana Júlia Cardim, estudante do curso de Medicina Veterinária da UNEX

SÓ SERGIPE – Uma das principais hipóteses sobre o rápido crescimento de frangos de corte é a aplicação de hormônios para o crescimento. Hoje em dia sabemos que tudo isso é fruto do melhoramento genético. Gostaria que o senhor explicasse um pouco melhor como essa técnica foi desenvolvida.

GILBERTO COSTA-SILVA – Na realidade Ana Júlia Cardim, seria maravilhoso estar com você frente a frente para lhe responder com a emoção de quem ama a área e desde 1979 milita com ensino e pesquisa avícola, uma área excepcionalmente avançada tecnicamente. Inicialmente afirmo que nestes anos nunca me foi ensinado no Mestrado na UFMG ou no Ph.D. na UNESP, ou indiquei, o uso de hormônios na atividade, e não existem hormônios na alimentação avícola. É terminantemente proibido o uso pelo Ministério da Agricultura e nenhum profissional está autorizado a usar em qualquer animal. Especialmente para que se evite o uso inadequado e em épocas erradas, e também que na produção das rações seria impossível usar, pois hormônios são proteínas e, portanto, termolábeis, e no processo das rações seriam inativados os efeitos destes pela cocção e extrusão, por exemplo. Afirmo isso como professor na área avícola e é importante romper esse mito no Brasil. O que existe é uma fantástica interação Genética x Nutrição x Ambiência (manejo e criação). A nutrição evoluiu significativamente, assim como os demais pilares, e as empresas produzem preocupadas na redução dos custos e tempo de produção e qualidade da criação visando a saúde do consumidor.

SÓ SERGIPE – Os consumidores andam cada vez mais exigentes com relação ao bem-estar animal e sobre como os animais são tratados. Atualmente vemos muitos produtos nas prateleiras com o certificado de bem-estar animal ou os chamados “ovos de galinhas felizes”. Quais as vantagens e desvantagens de se aplicar esse conceito em uma produção avícola?

GILBERTO COSTA-SILVA – Verdade. Fantástica questão. A demanda dos consumidores por aves e ovos de aves criados em ambientes de alta qualidade e bem-estar animal tem levado a mudanças significativas na indústria avícola. Para isso, algumas das principais mudanças ocorrem na atenção ao bem-estar animal: A indústria avícola está prestando cada vez mais atenção ao bem-estar dos animais. Os produtores estão adotando práticas mais humanas, como oferecer mais espaço e permitir que as aves se movam livremente. Além disso, eles estão se concentrando em nutrição e saúde das aves, com o objetivo de melhorar a qualidade da carne e dos ovos produzidos. Outro viés importante na qualidade do ambiente: as granjas estão investindo em tecnologias que melhoram a qualidade do ambiente para as aves, incluindo sistemas de ventilação e iluminação mais eficientes e equipamentos que permitem o controle mais preciso da temperatura e umidade. A rastreabilidade e transparência, outra realidade e inovação: as empresas avícolas estão tornando a rastreabilidade de seus produtos uma prioridade, para que os consumidores possam saber de onde vêm os ovos e a carne de aves que consomem. A transparência sobre as práticas de produção também está se tornando cada vez mais comum. Vivemos também outro momento no país, que já acontece na Europa por exemplo, o aumento da oferta de produtos orgânicos e cada vez mais livres de antibióticos: muitos consumidores estão dispostos a pagar mais caro por produtos orgânicos, e as empresas avícolas estão respondendo a essa demanda, oferecendo uma gama mais ampla de opções de produtos.

Em resumo, a indústria avícola está se adaptando às crescentes demandas dos consumidores por produtos de alta qualidade, criados em ambientes saudáveis e humanos para as aves. No Instituto Federal Goiano Ceres, em 2001, desenvolvemos uma pesquisa, o “Projeto Caipira Feliz”, quando as aves foram criadas semi-extensivamente com acesso às rações balanceadas e ao verde nas áreas externas dos galpões, multiplicando os pesos e melhorando o rendimento de carcaça dos frangos de corte, numa criação verdadeiramente “humana” digamos assim.

SÓ SERGIPE – Sabemos que o estresse térmico é um dos principais desafios enfrentados pelas granjas avícolas da região Nordeste. Quais são as alternativas adotadas pelos produtores para solucionar esse problema e se há possibilidade de trabalhar do desenvolvimento de raças específicas para a região?

GILBERTO COSTA-SILVA – Muito bem, Ana Júlia. Verdade. O estresse calórico é um desafio significativo na produção avícola em regiões com altas temperaturas e umidade, como é comum no Nordeste brasileiro como um todo e até no Brasil, pela maioria do seu clima tropical. O estresse calórico pode levar a uma série de consequências negativas, incluindo mortalidade de aves, diminuição da produção de ovos e carne, e redução da eficiência alimentar.

Para reduzir as consequências do estresse calórico, há algumas práticas comuns que incluem a ventilação e refrigeração adequadas: instalação de ventiladores e nebulizadores, resfriadores de ar e/ou sistemas de ar condicionado nas instalações para manter as aves frescas e confortáveis; fornecimento de água fresca: fornecer água limpa e fresca em abundância, para manter as aves hidratadas e ajudar na regulação da temperatura corporal; alimentação adequada, também influencia: fornecendo alimentos com alto valor nutritivo, balanceados e ricos em nutrientes ajuda as aves a manter a energia e a saúde, mesmo em condições de estresse; programação de luz, ajustando os horários e a intensidade da iluminação nas instalações, para manter um ciclo de luz adequado a fim de que consumam alimentos nos momentos mais frescos da noite e reduzir o estresse térmico do dia; o manejo adequado também, evitando o excesso de densidade por metro quadrado, mantendo as instalações limpas e secas, e evitar o estresse físico e emocional das aves.

Com relação à produção de genética adaptada, existem programas de seleção genética propostos ou em andamento, visando à produção de aves mais resistentes ao estresse calórico. No entanto, esse processo é extremamente demorado e exige muito investimento e pesquisa, com uso do melhoramento animal, usando técnicas de “Pressão de Seleção” sobre as aves das “Linhas Macho e Fêmea”, e por isso ainda não há disponível no mercado uma genética adaptada a essas condições específicas do ponto de vista econômico.

SÓ SERGIPE – Recentemente houve notícias sobre a incidência do vírus da gripe aviária em países da América do Sul. Quais medidas vêm sendo adotadas pelas granjas para prevenção, visto que ela apresenta alto potencial de letalidade e zoonótico?

GILBERTO COSTA-SILVA – Até o momento, não há relatos de casos de gripe aviária no Brasil em 2023, mas o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) está monitorando de perto a situação da doença na América do Norte, Argentina e Chile.

Gilberto: “Até o momento não há relatos de gripe aviária no Brasil”

 

O MAPA tem medidas preventivas em vigor para proteger a saúde dos rebanhos avícolas do país, como o monitoramento de aves migratórias, a restrição de importação de aves e produtos avícolas de áreas afetadas pela doença, além de medidas de biosseguridade em granjas avícolas, que incluem desinfecção de veículos e equipamentos, restrição de acesso a estranhos, controle de tráfego de pessoas e animais, entre outras. Apesar das medidas preventivas em vigor, a possibilidade de a gripe aviária ocorrer no Brasil não pode ser descartada completamente, já que a doença é altamente contagiosa e pode ser transmitida pelas aves migratórias que voam grandes distâncias. É importante que as autoridades sanitárias continuem monitorando de perto a situação da doença e implementando medidas preventivas para proteger a saúde dos rebanhos avícolas do país e evitar a transmissão para humanos.

A gripe aviária, também conhecida como influenza aviária, é uma doença que afeta principalmente as aves, mas que pode ser transmitida aos seres humanos em casos raros. A transmissão para humanos geralmente ocorre por meio do contato direto com aves infectadas, ou pelo consumo de alimentos contaminados, como ovos ou carne mal-cozidos.

Os sintomas da gripe aviária em humanos são semelhantes aos da gripe comum, incluindo febre, dor de cabeça, dores musculares, tosse e dor de garganta. Em casos graves, a doença pode levar a complicações respiratórias, como pneumonia, e até mesmo à morte. As autoridades de saúde em todo o mundo monitoram cuidadosamente a gripe aviária e tomam medidas para prevenir surtos e limitar a disseminação da doença. Se você suspeita que pode ter sido exposto à gripe aviária, é importante buscar atendimento médico imediatamente.

SÓ SERGIPE – Além da produção de carne ou ovos, as granjas têm potencial de aproveitamento da matéria orgânica produzida pelos frangos, onde é possível utilizá-la como adubo gerando ainda mais lucro ao produtor. E existe algum caso em que isso não seja sanitariamente adequado? Se sim, qual e por quê?

GILBERTO COSTA-SILVA – Sim é possível usar e reciclar esses dejetos avícolas. O uso e a reciclagem da “cama” das aves, resíduo das criações onde as aves fazem suas excretas, apresentam várias vantagens para a adubação vegetal e alimentação de alguns animais, podendo reduzir os custos de produção de forma segura. Algumas dessas vantagens incluem:

  • Fonte de nutrientes: a “cama” das aves contém uma grande quantidade de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, que são essenciais para o crescimento das plantas. Quando usada como adubo, pode melhorar a fertilidade do solo e, consequentemente, aumentar a produtividade das culturas.
  • Redução dos custos de produção: a utilização da “cama” das aves como adubo pode reduzir os custos de produção, uma vez que não é necessário comprar fertilizantes químicos para as plantas.

Na alimentação animal é mais complexo e a “cama” das aves não pode ser usada na alimentação de animais, como bovinos e explicarei. Ela é rica em proteínas e minerais, o que a torna uma fonte nutritiva para alguns animais. Além disso, a utilização da “cama” como alimento pode reduzir os custos com ração e redução do impacto ambiental causado pelo descarte inadequado desse resíduo. A utilização como adubo e alimento reduz a quantidade de resíduos gerados e pode ajudar a preservar a qualidade do solo e da água, e assim, a utilização e reciclagem da “cama” das aves pode trazer vantagens econômicas e ambientais para a produção agrícola e animal. No entanto, é importante garantir que o processo de reciclagem seja realizado de forma adequada e segura, para evitar problemas de contaminação do solo e da água. Deve-se atentar que existe uma portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Portaria nº 146, de 07 de março de 1996, que proíbe o uso de cama de aviário contendo resíduos de ração animal na alimentação de ruminantes. Essa medida foi implementada para prevenir a ocorrência da “doença da vaca louca”, uma vez que a alimentação com proteínas de origem animal é uma das formas de transmissão da doença.

No entanto, essa proibição não se estende ao uso da cama de frango na alimentação de outras espécies animais, como suínos e aves, que podem se beneficiar da utilização desse resíduo como alimento.

É importante salientar que a Portaria nº 146/1996, que estabelece a proibição do uso de cama de aviário com resíduos de ração animal na alimentação de ruminantes, continua em vigor, devendo ser seguida pelos médicos veterinários, produtores e empresas do setor.

SÓ SERGIPE – Falando de avicultura moderna, o que são os pintinhos de um dia e qual a importância de sua existência na cadeia de produtividade avícola?

Gilberto: “Os pintos de um dia são um componente importante da cadeia de produção avícola”

GILBERTO COSTA-SILVA – Os pintos de um dia são filhotes recém-nascidos de aves, com finalidades específicas geneticamente. Existem os pintos de um dia, machos e fêmeas que serão “bisavós” nas empresas de melhoramento genético. Essas quando atingem a fase de reprodução, produzirão os pintinhos para a reprodução e geração dos pintos de um dia para corte (abate) ou se definidas geneticamente gerarão as matrizes de postura e unicamente produzirão ovos, que em geral consumimos. Eles são produzidos em incubadoras e eclosoras e, após o nascimento, são classificados de acordo com o sexo das linhagens.

Os pintos de um dia são um componente importante da cadeia de produção avícola, pois são a matéria-prima para a criação de aves de reprodução, de corte e de postura. A qualidade dos pintos de um dia é fundamental para a produção de aves saudáveis, que são criadas em boas condições e têm um bom desempenho produtivo.

Para garantir a qualidade dos pintos de um dia, é necessário que haja um controle rigoroso de todo o processo de incubação, desde a seleção dos ovos até a distribuição dos pintos para os criadores. Além disso, os pintos devem ser mantidos em condições ideais de temperatura, umidade e nutrição para que cresçam saudáveis e tenham um bom desempenho produtivo.

Em resumo, os pintos de um dia são fundamentais para a produção de aves de corte e postura, e a qualidade desses filhotes recém-nascidos é essencial para garantir uma cadeia de produção avícola eficiente e saudável. Em geral eles são produzidos em 21 dias e seis horas. Particularmente desenvolvi um artigo na UFMG durante o mestrado sobre a fotoaceleração da incubação, sob efeitos da luz para estimular o crescimento e a aceleração do nascimento nas câmaras de incubação e eclosão, que foi publicado no livro “Produção e Qualidade de Pintos de Um Dia” da autoria principal do Dr. Egladson J. Campos, meu orientador à época.

SÓ SERGIPE – Diferentes fatores influenciam as necessidades nutricionais das aves. Quais os principais da região nordestina e as melhores medidas adotadas atualmente para satisfazer essas necessidades?

GILBERTO COSTA-SILVA – As necessidades nutricionais das aves podem variar de acordo com diferentes fatores, incluindo idade, sexo, tamanho, nível de atividade, estado fisiológico (por exemplo, se estão em crescimento, produção de ovos etc.), genética e ambiente.

Em relação ao ambiente, no nosso Nordeste as temperaturas elevadas podem aumentar a demanda por nutrientes, especialmente água e eletrólitos, para ajudar as aves a manterem a temperatura corporal normal e reduzir o estresse térmico. Além disso, as aves podem reduzir a ingestão de alimentos devido ao calor, o que pode afetar sua ingestão de nutrientes.

Para minimizar os riscos do calor nas aves, algumas estratégias nutricionais que podem ser adotadas incluem: fornecer água limpa e fresca em quantidade suficiente para manter a hidratação das aves; adicionar eletrólitos à água ou à ração para ajudar as aves a manterem o equilíbrio eletrolítico; reduzir a densidade de nutrientes da ração, para que as aves possam ingerir a quantidade adequada de nutrientes com uma ingestão reduzida de alimentos; fornecer alimentos com alta digestibilidade para maximizar a absorção de nutrientes; fornecer alimentos com alto teor de fibras para ajudar a manter a saúde do trato gastrointestinal; fornecer alimentos com baixo teor de gordura para ajudar a reduzir a produção de calor metabólico.

Além disso, outras estratégias que podem ajudar a minimizar o estresse térmico nas aves incluem fornecer sombreamento adequado, aumentar a ventilação e reduzir a densidade de alojamento. É importante monitorar regularmente a ingestão de alimentos e água, bem como o desempenho das aves, para garantir que suas necessidades nutricionais estejam sendo atendidas adequadamente.

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