quinta-feira, 28/03/2024
José Eugênio Soares em sua longeva carreira celebrizou-se como humorista, apresentador de televisão, escritor, roteirista e ator Foto: Agência Brasil

“A vida é o que a gente veio fazer aqui”, Viva Jô Soares

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Maranhão
Luiz Thadeu (*)

Sexta-feira, “dia da felicidade sem motivo”, amanheceu sem graça. Primeira sexta-feira do mês de agosto, ligo a TV e vejo a notícia da morte de Jô Soares. Acontecera às 2h20, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Ele estava internado desde o dia 28/07.

A família e o hospital não divulgaram a causa da morte.

José Eugênio Soares teve uma vida espetacular. Em sua longeva carreira, Jô Soares celebrizou-se como humorista, apresentador de televisão, escritor, roteirista e ator.

Estreou no cinema e na televisão no final dos anos de 1950, como roteirista e ator, no Grande Teatro da TV Tupi, atingindo sucesso maior cerca de dez anos depois quando chegou à TV Globo com o programa “Faça Humor Não Faça Guerra”, de que era ator e autor. Na televisão estreou em 1956 no elenco do programa “Praça da Alegria”, da Record TV, onde ficou por 10 anos. Em 1967, entrou na única novela da sua carreira, “Ceará contra 007”.

A estreia no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) aconteceu em 1988 com o programa “Veja o Gordo”, e no mesmo ano passou a apresentar “Jô Soares Onze e Meia”, que foi ao ar entre 1988 e 1999.

Em 2000, o humorista começou aquele que se tornaria seu programa mais célebre, o “Programa do Jô”, da Rede Globo, cuja exibição terminou em 2016. Pela altura do fim do programa, o apresentador disse terem sido “28 anos de programa de entrevista. Foi um belo caminho”. Foram 14.138 entrevistados que passaram pelo sofá do Gordo. De presidentes da república ao vendedor de pipoca. Todos que tinham boas histórias para contar.

Jô Soares era também um conhecido fã de jazz e chegou a apresentar um programa de rádio na Jornal do Brasil AM.

Considerado pioneiro do stand-up, também se destacou por ser um dos principais comediantes da história do Brasil, participando de atrações que fizeram história na TV, como “A família Trapo” (1966), “Planeta dos homens” (1977), contracenava com Ronald Golias, e “Viva o Gordo” (1981). Escreveu dez livros e atuou em 22 filmes.

Jô casou três vezes: com a atriz e poeta Tereza Austregésimo, filha de Austregésimo de Athayde; a atriz Sílvia Bandeira e a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras, com quem manteve uma amizade profunda depois do divórcio. Teve um filho com Teresa, Rafael, autista de “alto nível” parecido com o do personagem de Dustin Hoffman em “Rain Man”, como Jô costumava dizer nas poucas vezes que falou do filho em público. Refinado de berço, aos 12 anos foi estudar em colégio interno na Suíça; se tornou poliglota, falava seis idiomas. Originalmente queria ser diplomata; a TV, o teatro e o cinema ganharam seu talento. Elegante no vestir e em lidar com as pessoas, é descrito por amigos com um gentleman.

Jô Soares também era dado a paixões –livros, filmes, teatro, motos, música, em especial jazz e blues, quadrinhos, charutos cubanos, tendo chegado a lançar uma marca própria deles, refrigerante diet, o que dizem ser o que tinha na sua caneca, artes plásticas e futebol, como torcedor do Fluminense.

Na última publicação na sua página oficial na rede Twitter, datada de quinta-feira, Jô Soares escreveu: “Não é necessário mostrar beleza aos cegos, nem dizer verdade aos surdos. Mas não minta para quem te escuta e nem decepcione os olhos de quem te admira.”

Multimídia: humorista, roteirista, músico, pintor, diretor, ator, tradutor, poliglota, professor, escritor, apresentador de rádio e TV, membro da Academia Paulista de Letras, um homem à frente do seu tempo. Em mais de 60 anos de carreira, ao longo de 28 anos esteve apresentando seus talk-shows; eu que cresci assistindo a seus programas, sempre que podia, não dormia sem um beijo do gordo.

Ao lhe perguntarem em uma entrevista o que era a vida, disse: “A vida é o que a gente veio fazer aqui”. 84 anos de vidão; viveu cercado de lindas mulheres, viajou pelo mundo, viveu com alegria e dignidade. Aproveitou bem o que a vida tem de melhor. Viver é arte, viva Jô Soares. Ele partiu, mas seu legado fica.

 

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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva  é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. Autor de “Das muletas fiz asas”, o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes da terra.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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