Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Os primeiros dias do segundo governo de Donald Trump nos Estados (des)Unidos da América têm sido estarrecedores. De tudo um pouco: de narcisismos à delírios fascistas. “Pobre” América do Tio Sam; de joelhos para o ídolo ganância e com o pires nas mãos esmolando as migalhas dos riquíssimos magnatas do mundo virtual.
Embora entenda que há muito de lógica em inúmeras teorias apocalípticas circulando, penso que as piores consequências são de ordem prática: intensificação da onda de ódio e de toda sorte (para não dizer azar) de preconceitos, que nós brasileiros conhecemos muito bem de um passado recente.
Por falar de apocalipse, portanto de religião, e mais de perto a cristã, como pode um chefe de uma nação, em discurso de posse, invocar Deus e a Jesus Cristo, quando seus primeiros decretos são atitudes tipicamente anticristãs? Cristo, que foi um migrante ilegal (para Roma) escaparia às primeiras canetadas do “líder” bufão norte-americano de plantão?

Sobre a saudação nazifascista do excêntrico e controverso bilionário, Elon Musk, penso que não há o que se discutir. Até porque, como sabemos, nazifascismo não se discute, se combate. Já os criminosos (aos quais Trump concedeu perdão), em tese, se denuncia, se julga e se prende. Naturalizar o gesto de Musk ou banalizá-lo, aliás, é uma estratégia nazifascista. Este sujeito sente-se acima do bem e do mal. Mas, me tranquiliza o fato de que assim como todos do tipo, conhecerá algo sobre o qual não se evita e nem se compra: o julgo da morte e da história.
Sobre as medidas contra a comunidade LGBTQIA+, outra aberração. E mais uma vez a casca de um moralismo cristão é usada para perseguir, humilhar, invisibilizar e, muito breve (queira Deus que não), anular e exterminar. Atitudes nada cristãs, mas, reitero, necessariamente e diabolicamente anticristãs. Tudo isto para satisfazer o sadismo de supremacistas brancos, héteros “homens de bem” que não hesitam em trair suas mulheres. Ou mesmo, batê-las e matá-las como direitos de macho.
Nesse diapasão de bufões falastrões, ao sabor de Donald Trump, Elon Musk e os demais “cavaleiros do apocalipse”, outro que se ficasse calado nas últimas semanas seria, também, um exímio poeta, é o consagrado ator Mel Gibson. Mentor do sucesso “Paixão de Cristo” (2004), no afã de agradar essa turba de machões alfas cristãos, tem atacado sistematicamente o Papa Francisco, acusando-o, inclusive de apostasia. Interessado, a meu ver, tão somente, em divulgar a sequência do filme de 2004, agora com o nome de “Ressurreição”, que eu vou boicotar não indo ao cinema. Entre seus patrocinadores, Elon Musk.
Pois bem, frente a tudo que estamos a testemunhar, se do ponto de vista da mensagem de Jesus Cristo, a orientação é clara: orai e vigiai, não tenhais medo. Na perspectiva política, fazer barulho e resistir corajosamente. Aos covardes, o muro, a pender para o lado que lhe for conveniente, como fez Mark Zuckerberg, dono da empresa Meta.
Em linhas gerais, que os egos se choquem o quanto antes e se autodestruam, como se parece óbvio. Muitos amostrados juntos em alguns metros quadrados (leia-se Casa Branca), não pode dar em boa coisa.
Quanto a nós outros, aqui da América Latina, sigamos no afã de acolher e amar, pois a poesia é maior que o cifrão e ela não pode mais caber como metáfora para um capitalismo neofascista, que admira e idolatra a própria imagem sepultada nas fezes do próprio umbigo.