domingo, 21/04/2024
Terezinha Oliva e sua obra

Manoel Bomfim por Terezinha Oliva

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Claudefranklin Monteiro Santos
Claudefranklin Monteiro Santos (*)

Como era de se esperar, um lançamento de livro bastante concorrido. Cheguei ao Sebo Xique, localizado na Av. Ministro Geraldo Barreto Sobral, 2100, Entrada B, Loja 02, Grageru, Aracaju – SE, no início da noite e pude ver algumas das pessoas mais renomadas da sociedade sergipana, a exemplo do Prof. Dr. Valter Joviniano, reitor da Universidade Federal de Sergipe, e do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira. Sem falar em amigos, colegas de UFS e familiares, a exemplo da simpaticíssima Tássia Oliva de Souza Anunciação, uma das filhas da autora de “Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil”. Para Tássia e Tamar à afetuosa dedicatória: “(…) um amor que renova a minha vida”.

Natural da cidade de Riachão do Dantas-SE, Terezinha Alves de Oliva notabilizou-se no campo da docência em nível superior, mais de perto no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, mas também na seara da historiografia sergipana, com estudos sobre História Política, em particular sobre Fausto Cardoso. Defensora da cultura e do patrimônio cultural sergipanos, fez escola e formou uma plêiade de novos intelectuais, espalhados Brasil afora, com destaque em várias áreas do saber.

Claudefranklin no lançamento do livro de autoria de Terezinha Oliva

Dizer que ela foi uma das minhas principais mentoras é chover no molhado ou ser mais redundante que a própria redundância. Minha professora de Introdução à História e História Moderna, também orientou minha pesquisa sobre a pedagogia de Manoel Bomfim, tanto em nível de graduação, quanto em nível de mestrado. Sob a supervisão de Terezinha Oliva, eu consegui produzir um dos meus melhores trabalhos, tendo o médico sergipano apaixonado por educação como temática.

Orgulha-me, até a presente data, dividir com ela a autoria do artigo “As multifaces de Através do Brasil”, publicado na Revista Brasileira de História, volume 24, número 48, 2004, amplamente consultado e estudado em diversas instituições do país, resultado de minha dissertação de Mestrado em Educação pela UFS, “Viajando com Bilac e Bomfim Através do Brasil” (2003), livro em 2012, com o título de “Através do Brasil, uma trajetória centenária”, cuja segunda edição já se encontra disponível no portal da editora CRV.

Com Terezinha Oliva compreendi a importância de Manoel Bomfim como alguém que teve da nação brasileira e dos brasileiros uma visão muito singular e diferenciada, inclusive de seus contemporâneos, incomodando mais de perto o seu conterrâneo de Sergipe, Sílvio Romero, com quem teve uma contenda ruidosa, que se lhe custou um longo silenciamento, também lhe rendeu um dos maiores reconhecimentos como os cem melhores intelectuais da América Latina dos últimos tempos, sobretudo, por ter sido um exímio intérprete do Brasil, entre meados do século XIX e a primeira metade do século seguinte.

“Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil” faz parte do significativo acervo lançado e relançado pela editora SEDUC, importante legado da gestão do Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos Subrinho à frente da Secretaria de Estado, do Esporte e da Cultura, até o final do ano passado, às voltas com as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. A obra foi também tese de Doutorado em Geografia da autora, defendida em 1999, pela Universidade Estadual Paulista – UNESP (Rio Claro-SP), cujo título original foi “O pensamento geográfico em Manoel Bomfim”, sob a orientação do Prof. Dr. Sílvio Carlos Bray.

Coube a Alexandrina Luz Conceição, professora Emérita da Universidade Federal de Sergipe, o privilégio de prefaciar“ Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil”. Bem fundamentado, o texto faz o abre-alas necessário para mergulhar no pensamento de Bomfim pelo fino trato das letras de Terezinha, cuja escrita é tão elegante e didática quanto a fala e sua existência. O que torna o talentoso intelectual sergipano, natural de Aracaju, radicado no Rio de Janeiro, acessível em suas principais assertivas e análises tão cirúrgicas quanto às funções que exerceu no campo da medicina.

E nessa toada, Terezinha Oliva nos conduz pelas 216 páginas de sua obra, não somente refletindo a questão do espaço na obra bomfiniana, mas também outras problemáticas como o desmantelamento da teoria do embranquecimento da raça, tão cara aos cientistas de sua época, a exemplo do combativo Sílvio Romero. “Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil”, penso eu, sepulta, em definitivo, a peja de um intelectual esquecido ou subsumido. Se assim o foi até os anos 90, já não o é mais, sendo reconduzido de há algum tempo ao posto que nunca deveria deixar de ocupar de um dos maiores nomes da cultura, e o pensamento brasileiros de todos os tempos.

 

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(*) Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

 

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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