quarta-feira, 24/04/2024
Valmir Monteiro
Valmir Monteiro Foto: Alese

José Valmir Monteiro, um lider, uma luta e uma história

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Segundo o jornalista Jozailto Lima, ele “(…) é um sujeito simples. Muito simples – tem cara e linguagem de povo” (2019). E segue sendo, apesar de todos os reveses que enfrentou nos últimos cinco anos. E assim o reencontrei em sua propriedade, no Sítio Boa Vista, zona rural de Lagarto-SE, acompanhado de dois amigos de longa data e de sua atual esposa, Andresa Nascimento.

Ao me ver, disse com alegria: “Vai chover”. No que eu respondi: “Sim. Chuvas de graças em sua vida”. Eu estava vestido, apropriadamente, com uma camisa do Arcanjo São Miguel. Um abraço fraterno, a conhecida troca de gentilezas, uma pausa e outra para um copo de água e café e uma conversa franca, fraterna e verdadeira. Naquela manhã de sábado, 25, o agora sexagenário líder político de Lagarto abriu seu coração para mim e com uma memória precisa e invejável, contou-me um pouco de sua trajetória de vida.

José Valmir Monteiro nasceu no povoado Água Fria, em Salgado, no dia 16 de julho de 1962. Em plena conquista do bicampeonato de futebol da Seleção Brasileira, na Copa do Mundo do Chile. Razão pela qual o chamaram por algum tempo de “Pelé”. Não por jogar bem, mas por ter nascido naquele contexto festivo.

Filho de José Monteiro Romão e Josefa Barbosa dos Reis, naturais de Água Fria, começou a trabalhar muito cedo, com apenas oito anos de idade, conciliando a lida com os estudos na atual Escola Estadual Raimundo Araújo, onde fez parte inicial do Primário. Graças ao incentivo da avó materna, criou gosto pela atividade comercial naquela época, vendendo de tudo um pouco para os turistas que iam para o Balneário Salgado, muito procurado pela fama de suas águas medicinais.

Era o meio do ano de 1974, quando aos doze anos, mudou-se para Lagarto e logo em seguida, seus pais e irmãos, onde fixaram residência e constituíram família. Em razão dos normativos educacionais daquele tempo, teve que esperar o ano seguinte para se matricular na Escola Estadual Monsenhor Marinho. Nesse ínterim, fez banca com a professora Júlia, que morava na rua Manoel de Paula, vizinho ao Asilo Santo Antônio.

Valmir lembra dela com muito carinho e a convidou para fazer um pronunciamento em sua primeira posse como prefeito de Lagarto. Disse ela na ocasião, que quando pequeno, subia na carteira e fazia discurso. Quando indagado pela professora amada sobre o porquê de fazer sempre aquilo, ele respondia que um dia iria ser prefeito da cidade.

Entre suas professoras marcantes na Escola Estadual Monsenhor Marinho está a senhora Hilda Vasconcelos. Ali, foi um aluno participativo, inclusive na banda marcial e nos desfiles de Sete de Setembro, e concluiu o que seria hoje o Ensino Primário. Dali, foi estudar no Colégio Cenecista Laudelino Freire, onde fez o Ensino Fundamental.

Começou o Ensino Médio nas primeiras turmas do Colégio Municipal Frei Cristóvão, hoje, Artur de Oliveira Reis. Entre seus professores, Joaquim Prata, Paulo Prata, Luzia Vasconcelos e José Cláudio Monteiro Santos, por quem tem grande gratidão até hoje em razão de uma atitude dele para com sua família na época em que foi diretor regional de educação.

Valmir trabalhou com seu pai, no ramo de madeira, na famosa Madeireira São José, que fez história na vida econômica de Lagarto. Seu pai tinha grande confiança nele e foi seu esteio por muitos anos, não somente lhe orientando, mas também o estimulando nos negócios da família e seus. Aos quatorze anos, já era bem-sucedido economicamente, possuindo até mesmo carro, um Chevette 1974 usado.

Nos carnavais de rua, de posse de uma Rural, fazia a festa com o pessoal da época. O carnaval de rua de Lagarto foi um dos mais populares e movimentados de Sergipe entre os anos 70 e 80, mesmo com a existência de clubes, a exemplo da Associação Atlética de Lagarto. Em muito pouco tempo e mesmo antes de completar vinte anos, Valmir Monteiro estava plenamente ambientado com a vida social do município que ele adotou como seu pelo resto da vida.

Por conta da dedicação à vida comercial, às voltas com o negócio de seu pai, Valmir não concluiu o Ensino Médio na Frei Cristóvão, fazendo isso depois, em Aracaju. Seu tino era para o comércio e sua primeira grande oportunidade surgiu quando seu pai quis se desfazer da empresa de madeira que tinha, ficando sob sua responsabilidade por vários anos.

A serraria e madeireira São José cresceu consideravelmente com Valmir Monteiro. Nesse sentido, ele chegou a montar um dos mais competitivos e vencedores times de futebol de salão com o nome da firma. A vontade de crescer na vida fez dele um dos grandes empresários da cidade, trabalhando de dia e de noite e mesmo aos finais de semana, correndo o Brasil, entre a Bahia e o Norte do Brasil, atrás da matéria-prima.

Precoce em tudo, como já vimos, casou-se com Maria das Graças Silva, com quem teve Ibraim (deputado estadual), Hayla e Rafael. Em outros dois relacionamentos, após a separação, tornou-se pai também de Vanessa e de Gabriel. Casado atualmente com Andresa Nascimento, é pai do caçula João Mateus.

Antes de ser envolvido com a política, Valmir e sua então esposa Gracinha eram dedicados à Igreja Católica em Lagarto, nas lides com o saudoso monsenhor Mário Rino Sivieri, mais de perto nos primeiros Encontros de Casais com Cristo, com o Cáritas e no Conselho Paroquial. Ali, aprendeu a se dedicar aos mais necessitados e humildes, desenvolvendo ações sociais no paupérrimo Jardim Campo Novo, empreendendo ações comunitárias e mutirões para a construção de moradias mais dignas.

Foi monsenhor Mário quem lhe despertou o gosto pela política, assumindo essa condição alguns anos depois pelo agrupamento liderado por Rosendo Ribeiro Filho, o Ribeirinho. A razão pela escolha do Bole-Bole e não do Saramandaia foi de ordem pessoal. Segundo Valmir, o líder saramandaísta, Artur de Oliveira Reis, duvidou da idoneidade e fidelidade política de seu pai, José Monteiro Romão.

Certa feita, ao ver o pai chorando e triste, Valmir resolveu abraçar as causas políticas do Bole-Bole; primeiro, ajudando financeiramente nas campanhas e depois como candidato do grupo. Como empresário, virava e mexia, Valmir recebia represálias de Artur Reis, este na condição de prefeito da cidade. Isso tudo o deixou profundamente chateado, sofrendo, até mesmo, custos econômicos.

Não demorou muito e no início dos anos 90, Valmir começou a chamar a atenção das principais lideranças do Bole-Bole, a exemplo de Ribeirinho e de Cabo Zé. De colaborador e financiador das campanhas do grupo, em pouco tempo ele já era visto não somente como um nome novo, mas um potencial forte com chances claras de galgar outros patamares na vida política de Lagarto e do Estado.

Embora a primeira oportunidade não tivesse sido exitosa, como candidato a sucessor de Cabo Zé, com Áurea Ribeiro, em 1995, perdendo aquela eleição para Zezé Rocha, seu nome já estava na boca do povo, como se diz, e em 1998 saiu vitorioso para deputado estadual, em seu primeiro mandato de quatro anos, sem nunca ter conhecido, nessa condição, derrota. Valmir foi deputado estadual nas seguintes legislações: (01.02.1999-31.01.2003 / 01.02.2003 – 31.01.2007 / 01/02.2007-31.01.20110 / 01.02.2015 – 31.01.2019). A essa altura, Valmir Monteiro já era um fenômeno eleitoral, tendo se sagrado como um dos mais bem votados à prefeito de Lagarto em duas ocasiões: (1º de janeiro de 2009 – 31 de dezembro de 2012 / 1º de janeiro de 2017 – 6 de março de 2019).

O primeiro mandato foi muito exitoso, sobretudo no campo cultural e educacional; e depois, como candidato do PSC para Prefeito, Jose Valmir Monteiro obteve 32.966 votos e foi eleito Prefeito em Lagarto nas Eleições 2016, tendo como vice a atual prefeita, Hilda Ribeiro, esposa do deputado estadual Gustinho Ribeiro, neto de Ribeirinho.

Candidato a prefeito em 2012, pelo Partido Social Cristão (PSC), tendo Luíza Ribeiro como vice, número 20, não foi eleito. Teve 24.575 votos. “Nesta eleição, eu fui acusado de traição e de ter sido ingrato a ele. Mas, na verdade, procurei ser coerente, não o apoiando por ter um Ribeiro como sua vice. É bem verdade, como já disse em outras oportunidades, que “paguei a língua”, votando em Hilda Ribeiro na última eleição para a prefeitura de Lagarto. Paciência! Não temos bola de cristal e estamos sempre à mercê de erros e equívocos e com eles tenho aprendido.”

No auge de sua popularidade disse a Valmir Monteiro, numa das laterais da igreja de Santa Teresinha do Bairro Novo Horizonte, que ele não precisava dos Ribeiros para manter-se na vida política, que o povo lagartense já o havia consagrado como líder nato, acima do Saramandaia e o do Bole-Bole. Contrariado, ele me disse que devia gratidão a Rosendo Ribeiro Filho. Em tom profético, disse a ele: “gratidão é uma coisa, submissão é outra; sua gratidão pode vir a ser a sua desgraça”. O resto eu não preciso dizer, pois todos são sabedores dos infortúnios que ele viveu depois do dia 23 de fevereiro de 2019. Na noite anterior, eu tomava posse na Academia Lagartense de Letras, tendo como sua representante na solenidade, a sua irmã, a ex-secretária municipal de educação, Vanda Monteiro.

Valmir Monteiro foi preso e na prisão viveu os piores momentos de sua vida, mas, também, aprendeu, com o infortúnio a lidar com os reveses. Diagnosticado com câncer, nos últimos anos tem lutado de forma muito intensa contra a doença, que em certa medida o acometeu em razão das inúmeras contrariedades e decepções que viveu.

Ao ser perguntado sobre o que mais lhe prejudicou nos últimos cinco anos, ele, de forma serena e muito tranquila, responde que foi a vaidade do poder e a ingenuidade. Embora diga que não guarda mais mágoa a ponto de lhe adoecer, humanamente, disse-me que ainda sente tristeza com o que o grupo, Bole-Bole, lhe fez, sob a liderança do deputado Gustinho Ribeiro e de sua esposa, a prefeita Hilda.

Com 61 anos, Valmir sonha ainda em voltar à prefeitura e isso aconteceria naturalmente, sendo o preferido disparado nas pesquisas eleitorais para o pleito de 2024. Mas, com muita consciência e leveza, não sabe se tem ou terá saúde suficiente para tanto. Tendo sido chamado de forasteiro por muito tempo, vítima do grupo que sempre defendeu e da inveja dos que o compõem, José Valmir Monteiro, é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores líderes políticos de nosso tempo, tendo superado Artur Reis e Ribeirinho, não somente em carisma, também em zelo e dedicação pela coisa pública, notadamente no campo da educação e da cultura.

Sua luta pela vida contra o câncer tem sido uma inspiração para as novas gerações. Quiçá possamos, com a mercê de Deus, ainda gozarmos um pouco mais de sua presença entre nós. Que seu legado possa inspirar nosso tempo e abrir nova portas para o desenvolvimento de Lagarto, desejo que ele sempre acalentou em seu coração e até mesmo até a presente data.

Sobre o futuro, sereno e com os olhos marejados, disse-me: “Nós temos uma porta [paraíso] e ela é estreita. Quero ser merecedor dela. Até lá, sigo lutando pelo povo de Lagarto. Não para me beneficiar, mas engrandecê-la ainda mais. Nesse sentido, sou muito, muito grato mesmo ao povo lagartense que me acolheu e à minha família. Povo bom, ordeiro, trabalhador e muito inteligente”.

Vida longa, meu líder!

 

Referências

ENTREVISTA com José Valmir Monteiro. 25 de novembro de 2024. Lagarto-SE.

LIMA, Jozailto. Valmir Monteiro: “A gestão de Lagarto é um exemplo para Sergipe e para o Brasil”. 2 de fevereiro de 2019. Entrevista. Disponível em https://jlpolitica.com.br/entrevista/valmir-monteiro-a-gestao-de-lagarto-e-um-exemplo-para-sergipe-e-para-o-brasil. Acessado em 24 de novembro de 2023.

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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