domingo, 28/04/2024
Luiz Thadeu
O encontro de dois giramundos: Dorgival e Luiz Thadeu

Giramundos e contadores de (boas) histórias

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Luiz Thadeu (*)

Segunda-feira, 10 de outubro, o ano de 2022 está se encaminhando para o final. Gosto dessa época do ano, tempo de começar a relaxar da correria, desacelerar. Ouço o canto dos pássaros que invadem a janela da casa à procura de água e grãos.

Estou em casa, após dias girando pelo mundo. Caminhei pela América Central, norte do Brasil, e até na Guiana Inglesa, onde fiz um pit stop. Dias corridos e felizes. Cheguei a 151 países visitados desde que me lancei ao mundo após o acidente.

Pela manhã, logo cedo, recebo um amigo para um café e para uma conversa. À tarde ele embarca para São Paulo, e à noite segue viagem para os Estados Unidos, onde reside.

Ainda em viagem recebi uma mensagem de João Pedro, dileto primo e biógrafo, dizendo que Dorgival desembarcaria na Ilha do Amor no final de setembro.

Conheço Dorgival desde o final dos anos 70, através de primos. Nunca fomos próximos, tivemos apenas conversas cordiais e en passant.

João Pedro me informa que Dorgival pretende vender uma casa no centro da cidade.

Nutro, há tempos, o desejo de adquirir uma casa no centro histórico de minha querida São Luís do Maranhão para instalar uma biblioteca comunitária.

A biblioteca comunitária foi a maneira que encontrei para devolver à minha cidade o muito que recebi ao longo da vida. Ler faz bem. A leitura me fez desbravar o mundo.

Quando garoto, não existia livros em nossa casa. Foi na Biblioteca Pública Benedito Leite, majestoso prédio branco fincado na praça Deodoro, no centro da cidade, que mergulhei na leitura. Foi através dos livros que primeiramente conheci o mundo. Lembro, ainda garoto, aos doze anos, de ter lido a história de um jovem de Kathmandu, capital do Nepal, que foi estudar na Inglaterra. Tornou-se médico, voltou para sua aldeia no Vale de Bagmanti, para ajudar os mais necessitados. Aquela história me marcou de forma indelével.

No outono da vida, aos 60 anos, giramundo, após visitar uma centena de países, desembarquei no Aeroporto Internacional Tribhuvan, na capital do Nepal. Mistura de emoção e gratidão. Gratidão ao Deus Vivo que poupou minha vida, preservou minha saúde, permitindo que visitasse Kathmandu, que conhecia pelos livros.

A visita de Dorgival na manhã quente e de ventos fortes, comuns nesta época do  ano, foi um bálsamo. Dessas conversas que aquecem o coração.

A conversa fluiu, vários e variados assuntos: o trabalho voluntário que Dorgival faz nos EUA, no Haiti e em São Luís. O olhar brilha, a voz embarga, ele fala em acolhimento aos desvalidos. No dia anterior, ele foi à região do Mercado Central, no centro da cidade, onde ouviu pessoas, pregou a Palavra de Deus, distribuiu alimento para os necessitados. Fala da alegria em ajudar o próximo. Dorgival é um missionário.

Primogênito, assim como eu, fala da mãe, dos seis irmãos, fala de sua cidade, Bacabal. Cidadão do mundo, Bacabal é sua aldeia, a família é sua base.

Relembra a ida para Volta Redonda, no Rio de Janeiro, de onde partiu para os EUA e de lá para o mundo. De como aprendeu inglês, que lhe abriria portas, pavimentaria sua bem sucedida carreira profissional.

Como giramundo, fala de suas inúmeras viagens por esse mundão.

Conta os milagres que Deus operou em sua vida. De ser curado de uma hérnia, sem precisar de cirurgia, mesmo com recomendação médica. Do vultuoso cheque que recebeu de um amigo generoso, por um conselho dado. A quantia era exatamente o que precisava para quitar uma dívida. Assim como Dorgival, acredito em milagres. Deus opera milagres em nossas vidas, basta ter fé inabalável e estar atento.

Nas conversas, viajamos juntos para diferentes lugares do mundo. Selamos um acordo, para com as bênçãos de Deus, percorrermos juntos, no futuro, os cinco continentes. Velho sonho de ambos.

Oferto-lhe e dedico o livro “Das muletas fiz asas”, que lancei recentemente, contando como superei o grave acidente que sofri em julho de 2003. Sem Deus nada disso teria acontecido.

Estimulo-o a escrever artigos e crônicas contando suas histórias e vivências. Será um prazer publicá-los.

As três horas de conversa foram poucas para tantos assuntos e sonhos.  Foi o início de muitos encontros futuros, oxalá. Descobri que assim como eu, Dorgival tem “os sonhos como matéria-prima”.

Dorgival segue como um giramundo a rodar pelo mundo. Nos despedimos. Ele deixa nossa casa na companhia de Silvana Carvalho, a irmã que a vida lhe deu.

Sou caseiro, aproveito o tempo para organizar as finanças, planejar o futuro. Assim, na hora certa retomar as caminhadas, seguir como um giramundo a cumprir minha missão na terra.

Aprendi em minhas andanças que o mundo trata bem quem gosta e respeita o mundo.

Obrigado amigo pela visita.  Que Deus te abençoe e proteja, e que nunca te falte saúde, fé, paz, proteção divina e boas viagens.

 

__________

(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, escritor, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes do mundo.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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