terça-feira, 23/04/2024
É tempo de desacelerar, de celebrar, de reunir, de congregar

É dezembro outra vez…

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Luiz Thadeu (*)

O ano de 2022 caminha para seu final. Ano difícil; dentre todos os problemas de todos os anos, presenciamos uma guerra fratricida no norte da Europa. Coisa inimaginável até pouco tempo. Em tempos ditos modernos, achava que guerra era coisa do passado. Ledo engano. A sandice humana não cessa. Somos contemporâneos de Wladimir Putin, o ignóbil czar russo e seu arsenal bélico e suas ogivas nucleares a aterrorizar o mundo. Teimosos que somos, continuamos por aqui.

Chegamos em dezembro, o derradeiro e mais bonito mês do ano. Dezembro é tempo de desacelerar, de celebrar, de reunir, de congregar. Tempo de balanço, de repensar a vida. Tomar um fôlego novo para seguir em frente.

Estou em Curitiba, a cidade que mais gosto no Brasil. Chove e faz frio. Ando pela cidade, vejo-a se embelezando para o Natal. Observo cada detalhe.

Árvores enormes sendo erguidas, luzes começam a iluminar ruas e casa. Papais Noéis espalhados pela cidade, guirlandas nas fachadas das lojas, criam um clima de encantamento para aqueles que gostam das festas natalinas, assim como eu.

Tempos difíceis esses que estamos atravessando. Saímos de uma disputa eleitoral sangrenta, com fraturas expostas, difíceis de sarar. Muita gente em meu entorno se digladiando por políticos, não pelas mudanças necessárias. Tristes seres. Vejo pessoas no outono da vida, perdendo saúde e tempo, com querelas políticas. Brigando por mentecaptos que não sabem nem que elas existem.

Tempos esquisitos, em que o coronavírus teima em voltar com novas cepas e variantes, e mais mortes. Embarquei em São Luís do Maranhão, em uma viagem para o sul do país. Todos com máscaras faciais, nos aeroportos e nas aeronaves. Todos sendo ameaças uns aos outros. Tudo tenso e neurótico.

Antes da pandemia do coronavírus, o mundo já vivia outras pandemias: ansiedade e depressão. Estamos ansiosos ou sorumbáticos. Tudo muito corrido. Mas, corrido pra quê mesmo?

Final de tarde, e, como faço em todos os lugares por onde ando, sento para um café. Lá fora cai uma chuva fina, observo calmamente os transeuntes apressarem o passo. Pessoas saindo do trabalho. Pais e mães com seus filhos pequenos retornando da escola. A senhora e sua elegância, acomodar-se na cadeira à espera do seu café. O senhor e seu guarda-chuva, no adiantado da idade, no extremo do salão. Sigo a observá-los. Penso em como deve ser a vida de cada um. São felizes, foram felizes? Quantos caminhos percorreram até chegar neste café, no final de tarde, em um dia de chuva.

O telefone toca. Atendo. É uma jornalista do Diário Catarinense, de Florianópolis, perguntando se pode marcar uma entrevista para o dia seguinte, pela manhã. Digo que “sim”. Respondo algumas perguntas iniciais, para ela embasar a matéria. Falo do acidente, que sou engenheiro agrônomo há 40 anos, estou cursando Jornalismo. Falo do livro “Das muletas fiz asas”, lançado este ano.

Jardim Botânico de Curitiba
Foto: Renato Soares/ MTUR

Agora, vejo que também sou observado. Terminada a ligação, uma jovem ao lado me sorrir, pede desculpas, diz que ouviu minha conversa. Sabe que não sou de Curitiba pelo sotaque, pergunta de onde sou, lhe respondo que “sou de São Luís do Maranhão”. Pergunta se sou escritor, respondo que “sou mais escrevinhador do que escritor”. Ela sorrir, pergunta pelo livro, se interessa pela história. Falo do acidente, das 43 cirurgias, das viagens pelo mundo, por visitar 151 países. “Uau”, expressa ela, e diz que minha história tem algumas semelhanças com a história do seu pai. Ele também sofreu um acidente, hoje anda com muletas, é recluso e tem depressão. Diz que vai adquirir o livro pela Amazon, que vai presenteá-lo.

É dezembro, o mês mais bonito do ano. O mês que o Senhor Deus enviou o seu único filho, Jesus Cristo, ao mundo. Dezembro é também o mês que tive o privilégio e a honra de nascer. Acho que isso explica por que encaro a vida com otimismo e esperança de dias melhores.

Continuo sentado no café, observando o passar das horas, grato a Deus pelo dom da vida. Chove lá fora.

 

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(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e escritor. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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