segunda-feira, 22/04/2024
Cleber Santos e Jorge Henrique
Os jornalistas Kleber Santos e Jorge Henrique no metrô, ontem, em Doha Fotos: Jorge Henrique

Copa 2022: Jornalistas sergipanos Kleber Santos e Jorge Henrique estão no Qatar cobrindo pela quarta vez a Copa do Mundo

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Eles são os únicos jornalistas sergipanos a cobrirem, pela quarta vez, uma Copa do Mundo. O jornalista Kleber Santos e o repórter fotográfico Jorge Henrique embarcaram para o Qatar na última segunda-feira e chegaram na sexta-feira ao destino.  A viagem é longa; a distância em linha reta que separa Aracaju do Qatar é de 10.352 quilômetros, mas a dupla fez escala em São Paulo, depois em Portugal até chegar ao país sede do maior certame de futebol, com 37 países disputando ser o melhor do mundo.

Nesta Copa do Mundo, a dupla Kleber Santos e Jorge Henrique vai inovar. Primeiro com relação ao órgão de imprensa sergipano que receberá as notícias e fotos exclusivas. Será o Jornal do Dia, enquanto nas outras três Copas do Mundo foi o Jornal da Cidade (JC). Segundo porque eles estarão com notícias diárias no site do Jornal do Dia e nas redes sociais deles.

Jorge Henrique e Kleber Santos

Qual será o diferencial desta dupla sergipana que está se somando aos demais jornalistas do mundo inteiro que estão cobrindo esse evento pelos próximos 30 dias?  Quem responde é Kleber Santos: “Vamos procurar sergipanos e coisas pitorescas lá. Tem gente demais cobrindo a Seleção Brasileira. Nossa prioridade é descobrir pessoas e suas histórias. Todos os dias nós vamos atrás de algo diferente”.

Cobrir uma Copa do Mundo não é uma tarefa fácil, principalmente quando os jornalistas são do Nordeste, moram no menor Estado do País, portanto, estão longe da grande mídia. O primeiro passo, que começou em 2009, um ano antes da Copa do Mundo na África, com planejamento e, claro, com o apoio do então diretor administrativo do Jornal da Cidade – Evando Ferreira – que, mais do que ninguém, acreditou no projeto dos profissionais. Depois foi buscar patrocinadores, empresas queriam ter suas marcas associadas a esse projeto. No começo não foi fácil, mas com o know-how deles com as outras três viagens, tudo ficou mais  tranquilo.

E como surgiu a ideia de ir cobrir uma Copa do Mundo? Antes de dar a resposta, é bom dizer que essa é uma daquelas histórias de que uma palavra pode mudar o seu mundo, lhe transformar, desde que você dê o primeiro passo.

Em 2009, Kleber era editor do Caderno de Veículos do JC, estava cobrindo um evento do setor em outro Estado e ouviu de um colega do Ceará de que iria cobrir a Copa do Mundo. E Kleber lhe perguntou: “Como assim?” O jornalista cearense lhe explicou tudo e Kleber chegou em Aracaju dizendo que iria cobrir a Copa na África e ninguém lhe deu crédito. Ao contrário, diziam que ele iria cobrir o Campeonato Sergipano, sem nenhum demérito para o certame local.  Mas eis que Kleber fez o mesmo comentário com Jorge Henrique e este lhe respondeu de pronto: “Estou dentro”.

Juntos, os amigos passaram por bons e maus momentos, que começaram na “primeira viagem e no primeiro dia da Copa da África”, como narrou exatamente Jorge Henrique. Mas os detalhes desta história inusitada e de outras você vai conhecer ao ler esta entrevista com essa dupla dinâmica.

Na segunda-feira à tarde, horas antes de embarcarem rumo ao Qatar, Jorge Henrique e Kleber Santos conversaram com o Só Sergipe.

Confira.

SÓ SERGIPE – Quando e como foi que surgiu essa ideia de ir cobrir Copas do Mundo?

KLEBER SANTOS – Eu era editor do Caderno de Veículos do Jornal da Cidade, em 2009, e fui para o lançamento de um carro e com vários jornalistas, dentre eles um colega do Jornal O Povo, do Ceará. Na conversa com ele [o colega de Ceará], eu disse que também era editor da página de Esportes, e ele disse: “Em 2006 fui para a Copa da Alemanha”. Eu perguntei como, e ele disse que fez um projeto; explicou-me tudo o que fazer para o credenciamento junto à Fifa. A partir dali ele abriu meus olhos e me mostrou a possibilidade de um jornal do Nordeste ir cobrir uma Copa do Mundo. Quando retornei da viagem, já cheguei dizendo na redação que ia para a Copa de 2010, sem ter nenhum patrocínio, nem nada. Eu contava isso a algumas pessoas e elas ficavam me gozando, tirando onda, dizendo que ia cobrir o Campeonato Sergipano. Eu falei para tantas pessoas, inclusive para Jorginho, que queria ir para a Copa da África em 2010. E aí ele me disse: eu também quero ir. Como é que faz? Aí eu me assustei e pensei: opa, era a ajuda que estava precisando. A partir daí colocamos no papel o que só estava na ideia. Acreditamos no projeto e já fomos a três Copas do Mundo.

SÓ SERGIPE – E você, Jorge Henrique, o que o levou a acreditar no projeto de Kleber?

JORGE HENRIQUE – Primeiro porque gosto de esportes. Eu fazia o Caderno de Esportes do Jornal da Cidade.  Só fotografava o Campeonato Sergipano, o Brasileiro série D e quando vinha um clube aqui era uma vez por ano durante a Copa do Brasil. E quando Kleber falou de ir para a Copa, eu disse vamos.  Essa parte de logística eu não entendo nada, é tudo com ele, que fez o projeto, levamos para o então superintendente do Jornal da Cidade, Evando Ferreira, e ele gostou da ideia.

SÓ SERGIPE – Kleber você quer falar no ponto-chave, por favor.

KLEBER SANTOS – O projeto de ir à Copa do Mundo era para cobrir os bastidores e não o jogo em si, porque os jornais, de maneira geral, já pagam para receber das agências de notícias. Qual era o nosso diferencial? Procurar os torcedores sergipanos e os bastidores  que as grandes agências não mandavam para nós.  Então esse foi o diferencial. E na parte comercial trabalhar com selos. Ou seja, a marca da empresa sai em todas as edições da coluna.

SÓ SERGIPE – E logística?

KLEBER SANTOS – Dividimos em duas partes. Jorge Henrique, como conhece muita gente, ficou na parte de captação de recursos, enquanto eu fiquei para cuidar da parte de credenciamento, mais a logística jornalística de como seria essa coluna. O primeiro ponto do credenciamento era aguardar a CBF ter um e-mail próprio para isso, ficar em contato e buscar ter conhecimento lá. Depois de fazer o cadastro na CBF, você fica aguardando fazer o cadastramento na Fifa, no Fifa Media Channel, que é o escritório virtual do jornalista cadastrado da Fifa, que dá um número de jornalistas que podem ser credenciados. A CBF escolhe os jornalistas, dá um código e você coloca no Fifa Media. Depois tem a segunda parte. A Fifa pega todos os nossos dados e envia para o setor de segurança do país anfitrião, que faz toda a triagem. Estando tudo OK, você recebe a aprovação e no escritório virtual você fica credenciado.  A Fifa envia para o seu e-mail  uma carta de aprovação e este documento, normalmente,  é seu  visto para a entrada no país, como foi na África do Sul e na Rússia.

SÓ SERGIPE – Como foi para vocês, o trabalho de captação de recursos?

JORGE HENRIQUE – Nós fazemos uma lista de 25 a 30 nomes de empresários; e chegando 10 apoiando, viabilizamos verba para podermos ir.

KLEBER SANTOS – Agora fica mais fácil, com todo o retrospecto que a gente tem, pois já cobrimos três Copas do Mundo. 

JORGE HENRIQUE – Para irmos à primeira Copa foi meio complicado, na segunda foi mais tranquilo. Cobrimos a Copa do Mundo na África do Sul, Brasil e Rússia. Cobrimos a Copa América, na Argentina; Copa das Confederações, que fui com o jornalista Allan de Carvalho, pois Kleber havia saído do Jornal da Cidade.

SÓ SERGIPE – Vocês cobriram as três Copas do Mundo para o Jornal da Cidade?

KLEBER SANTOS – Nas duas primeiras Copas éramos funcionários do JC, mas na terceira fomos como freelancers.

SÓ SERGIPE – E como foi esse processo agora para cobrir para o Jornal do Dia?

KLEBER SANTOS – Nós fizemos a opção pelo Jornal do Dia, levamos o projeto e foi aceito.

SÓ SERGIPE – Então o que o leitor do Jornal do Dia pode esperar do trabalho de vocês?

JORGE HENRIQUE – Todos os dias vamos fazer a cobertura para o jornal impresso e site, e nas nossas redes sociais. Diariamente vai ter fotos, vídeos.  E vamos procurar sergipanos e coisas pitorescas lá. Tem gente demais cobrindo a Seleção Brasileira. Nossa prioridade é descobrir coisas e pessoas. Nós vamos atrás de coisas diferentes.

SÓ SERGIPE – E qual o planejamento para essas coisas diferentes? Vocês já estudaram sobre o Qatar?

KLEBER SANTOS – O ano todo é estudando, não só a parte de logística, mas também sobre o país. Por exemplo, no Qatar os transportes são gratuitos, vou colocar como são os ônibus, os taxis, o metrô. Vamos mostrar coisas básicas, como alimentação, como está a torcida brasileira; curiosidade de sergipanos. No Jornal do Dia serão 14 edições, mas estaremos no site diariamente: manhã, tarde e noite.

Região de Al Souq, em Doha, ontem à noite

SÓ SERGIPE – Jorge Henrique fez exposições quando retornou das Copas. Vamos ter mais uma exposição este ano?

JORGE HENRIQUE – Eu fiz exposição de fotos da minha participação nas três Copas. Não sei se faremos desta, pois foi tudo muito corrido. A Copa leva um mês. Na da Rússia, nós não tínhamos programado nada, mas de lá vimos uma arquiteta amiga aqui em Aracaju. O Shopping Jardins tinha um espaço vago e deu certo. Vamos tentar fazer uma exposição na volta.

SÓ SERGIPE – Como vocês colocarão os trabalhos nas redes sociais, como serão as filmagens?

KLEBER SANTOS – Queremos fazer esse trabalho com vídeo também para as nossas redes sociais. Nesse ponto, já separei muitas coisas para fazermos.

SÓ SERGIPE – Numa cobertura de Copa do Mundo há centenas de fotógrafos num estádio. Como funciona por lá? Você escolhe onde quer ficar?

JORGE HENRIQUE – Tem estádio que comporta 350 a 400 fotógrafos. Mas você chega muitas horas antes do jogo começar. O que acontece?  Quando você vai pegar sua credencial para aquele jogo, há uma espécie de cartolina em cima de uma mesa com 300 locais numerados e você escolhe onde quer ficar. Você não pode trocar de local com um amigo seu, antes de terminar o primeiro tempo. Se sair, perde. Você escolhe, mas tem umas preferências, o que é normal, por exemplo, para o fotógrafo da Fifa.  Você pode ficar no fundo do gol ou no centro do campo.

SÓ SERGIPE – Na Rússia, que é enorme, vocês se viraram no deslocamento. Mas o Qatar é menor que Sergipe e a maior distância é 50 quilômetros. Vocês já se planejaram para isso.

JORGE HENRIQUE – Posso até me equivocar, mas acredito que será uma Copa bem tranquila. No Qatar vamos ficar no mesmo hotel, desde a chegada até a volta ao Brasil. Na Rússia, fizemos 11 viagens de trem, com duração de 12 ou 14 horas. No Qatar, teremos condições de cobrir dois jogos no mesmo dia. Imaginar isso na Rússia ou na África é surreal.

Cristiano Ronaldo comemorando um gol

SÓ SERGIPE – Nestas coberturas de Copa do Mundo, qual foto você considera a melhor? E quem você pretende fotografar no Qatar?

JORGE HENRIQUE – Em 2022, o Vinicius Junior.  Nas últimas três, tirando a da África do Sul que Neymar não estava, tinha Messi e Cristiano Ronaldo. Tem essa foto de Cristiano Ronaldo que foi interessante. Ele fez o gol, veio comemorando na minha direção. E tem 300 fotógrafos, tem o colega que está ao seu lado também, é bem do lado mesmo. Mas é como se ele viesse comemorar comigo. E aí fiz a foto.

SÓ SERGIPE – Como foi ver de perto aquele 7×1 que a Alemanha deu no Brasil?

KLEBER SANTOS – Essa foi uma das situações mais difíceis de digerir no futebol que eu presenciei.  Costumo fazer a seguinte analogia: em 2010, o Brasil perdeu da Holanda foi um sentimento de tristeza; em 2014, perdeu da Alemanha por 7×1;  foi um sentimento de apatia. Eu olhava a Central de Imprensa e havia aquele silêncio, aquela apatia. O que foi que aconteceu? Em 2018, quando o Brasil perdeu da Bélgica, foi um sentimento de frustração.

SÓ SERGIPE – Quem você quer entrevista nesta Copa?

KLEBER SANTOS – Talvez eu caia no lugar comum, mas quero entrevistar Neymar, que não consegui entrevistar ainda. Vou tentar fazer duas perguntas para Neymar.

SÓ SERGIPE – Vocês ouviram críticas negativas dos próprios colegas, questionando: ‘O que vocês vão fazer lá, pois as agências fazem toda a cobertura ?’

KLEBER SANTOS – Explicamos que fomos fazer o diferencial. Aqui no Brasil, nós conseguimos entrevistar Clodoaldo, sergipano tricampeão do mundo. Talvez uma agência entrevistasse e não mandasse para o JC. Entrevistei o jogador sergipano Diego Costa, tanto no Brasil como na Rússia.

Centro de Imprensa, que abriga todos os jornalistas que estão cobrindo a Copa do Mundo FIFA de 2022

SÓ SERGIPE – Eu lembro que Diego Costa ia passando num determinado local do campo, você estava aberto e o chamou e ele lhe atendeu. Não foi assim?

KLEBER SANTOS – O Diego Costa foi fantástico. Ele nos deu prioridade na frente da imprensa espanhola. Quando acaba o jogo, existe uma zona mista, que fica entre o vestiário e o local onde está o ônibus, onde fica a imprensa credenciada. Só que a prioridade é para o jornalista da seleção. Como estava tudo muito corrido, não queria esperar ele ser entrevistado por toda a imprensa espanhola para depois ser a brasileira. Aí eu fiquei na frente dos espanhóis e quando ele apareceu fui colocando o gravador, falei que era de Sergipe, Brasil, e logo recebi uma bronca da Federação Espanhola, mas Diego disse iria conversar comigo primeiro. E todo mundo ficou me esperando fazer três perguntas a ele, e ficavam olhado para os lados (risos).

SÓ SERGIPE – O que vocês podem contar de pitoresco, na Copa da África, a primeira que vocês foram cobrir?

JORGE HENRIQUE – O primeiro dia da primeira Copa, em 2010, foi o mais complicado. Nós chegamos no aeroporto da África do Sul e fomos recepcionados por uma moça da embaixada brasileira. Nós locamos um carro e fomos seguindo o carro desta moça e alugamos a casa, num condomínio fechado, que era da cunhada dela para ficarmos 10 dias. E ela nos levou à casa da cunhada e não tínhamos GPS. E íamos seguindo as placas “Soccer City”, pois tínhamos que ir para o estádio pegar o credenciamento impresso. Nós fomos no dia seguinte, no bairro de Soweto. Fizemos o credenciamento e voltamos à noite e não sabíamos chegar à casa que alugamos. Ficamos rodando, rodando e para resumir não conseguimos e fomos dormir dentro do carro, num posto de conveniência. Pela manhã, ligamos e uma pessoa foi nos buscar. O pior momento foi esse, no primeiro dia da primeira Copa.

SÓ SERGIPE – Tem algo de inusitado que vocês viveram nestas três Copas do Mundo?

JORGE HENRIQUE – No dia que a própria polícia da África do Sul levou o carro da gente. Saímos de um estádio e não encontramos nosso carro e pensamos que havia sido roubado. Começamos a rodar em Joanesburgo com a polícia.

KLEBER SANTOS – Só fomos achar às três horas da manhã, num estacionamento (uma espécie de Detran de lá), na hora de pagar o policial não quis nos dar o recibo. 

JORGE HENRIQUE – Para resumir, nós achamos que foi a própria polícia que levou o carro e na hora de pagar não tinha recibo. Nós pagamos, pois às sete horas da manhã íamos para outra cidade.

SÓ SERGIPE – E eles alegaram o que para levar o carro?

JORGE HENRIQUE – Que não colocamos o adesivo da Fifa. Mas em todo momento dizia que o carro foi roubado. Nos colocaram dentro da viatura e começaram a rodar. Estávamos com o tradutor, Rodrigo, e pedi para ele dizer aos policiais que se o carro foi roubado, nos deixasse no hotel que no outro dia resolveríamos com a locadora. Rodava bastante, comecei a me estressar e não queria ficar mais ali, queria ir para o hotel. A própria polícia “achou” o carro 10 quilômetros distante do local onde estacionamos e pagamos quase R$ 1 mil aos policiais.

SÓ SERGIPE – E como foi a comunicação, essa questão com o idioma?

KLEBER SANTOS – Temos um aplicativo de idiomas e vamos para qualquer lugar. Na Rússia, com a facilidade do aplicativo eu já chegava no táxi dizendo em português que queria ir para tal hotel, e o aplicativo traduzia para o russo.  E todos os dias fazendo isso, você já fica hábil no aplicativo.

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