Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Da homilia proferida pelo Papa Pio XI, por ocasião da Canonização de Marie-Françoise-Thérèse Martin (nome de batismo), no histórico dia 17 de maio de 1925, destaco a seguinte passagem: “Esta Donzela tornou-se criança na ordem da graça, mas seu espírito de infância estava unido a tal grandeza de alma que, de acordo com as promessas de Cristo, ela merecia ser glorificada diante da Igreja na terra, bem como na Jerusalém Celeste”.
Nesse sentido, não é um exagero de dizer que Santa Teresinha do Menino Jesus (Alençon, 2 de janeiro de 1873 – França) se tornou, efetivamente, “uma das maiores santas dos tempos modernos”, conforme já prenunciava o antecessor de Pio XI, São Pio X (1835-1914). Vale destacar que quando ele assim o disse, ela não havia ainda sido reconhecida como santa. Entretanto, coube a ele assinar o decreto que autorizava a abertura de seu processo de canonização no dia 10 de junho de 1914. Detalhe: ele faleceu pouco tempo depois, naquele mesmo ano, no dia 20 de agosto.
Extremamente popular, e com um carisma que já ultrapassava a Europa, pouco tempo depois de sua morte, no dia 30 de setembro de 1897, aos 24 anos de idade, Santa Teresinha foi canonizada num espaço de tempo de 27 anos, apenas. O sucessor de São Pio X, o Papa Bento XV foi responsável pela aceleração do seu processo, o que permitiu que sua beatificação ocorresse no dia 29 de abril de 1923.
Ora, mas o que fez e faz desta jovem carmelita, de vida curtíssima, como vimos, de hábitos discretos e anônimos, por algum tempo, cair nas graças de milhões de devotos espalhados pelo mundo, incluindo este que vos escreve? Penso que, exatamente, a sua “via de amor”. O caminho que ela encontrou, nada ortodoxo, mas muito simples, que a levou às honras do altar e a habitar os nossos corações.
Há quem diga que foi o volume de milagres realizados por sua intercessão. Também! Mas, insisto em dizer que foi a coerência de sua mensagem com a sua vida. A sensibilidade e a autenticidade evangélicas. O jeito todo particular de martirizar-se num final de vida turbulento, às voltas com sérios problemas respiratórios que a levaram a óbito.
Particularmente, destaco o trecho abaixo de suas reflexões espirituais, condensada na obra História de uma alma (publicada pela primeira vez no dia 30 de setembro de 1898), como um dos grandes tesouros teológicos da Igreja Católica:
Procurarei buscar meios de chegar ao Céu por um pequeno caminho — muito curto e muito reto, um pequeno caminho que é totalmente novo. Vivemos numa era de invenções; atualmente os ricos não precisam mais sequer subir escadas, pois têm elevadores para isso. Bom, eu tentarei encontrar um elevador pelo qual eu possa ser elevada a Deus, pois sou muito pequena para escalar a íngreme escada da perfeição. […] Teus braços, então, Ó Jesus, são o elevador que deverão elevar-me até o Céu. Para chegar lá, não preciso crescer; ao contrário, preciso permanecer pequena, preciso me tornar ainda menos.
Ao passo que outros santos, sem nenhum demérito em relação a ela, se agigantaram, ela permaneceu na sua pequenez para alcançar o caminho da santidade e assim o fez, com todo o mérito e justiça, para o bem de todos nós, seus devotos, mas, sobretudo, para a Glória de Deus. Sim, os santos existem para isto, para que “(…) santificado seja o Vosso Nome”. E Santa Teresinha cumpre, há cem anos, este propósito, atraindo a atenção de jovens e também de pessoas de todas as idades.
Por tais razões, ainda que seja uma enorme santa, a Santinha de Lisieux, como a chamamos carinhosa e respeitosamente, segue não somente sendo “uma das maiores santas dos tempos modernos”, mas também de nosso tempo, tão carente de seus exemplos e atitudes, de seu desprendimento, de sua simplicidade, de sua humildade e de seu amor incondicional ao Cristo e à sua Face Gloriosa, por intercessão de Nossa Senhora, no caso dela, em especial, Nossa Senhora do Sorriso.
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, rogai por nós!