sábado, 20/04/2024
Silvio Berlusconi, o líder outsider

Silvio Berlusconi, uma figura exótica

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Luiz Thadeu(*), em Anchorage, Alasca

A política é povoada por personagens icônicos, que se notabilizam por seus feitos extraordinários; outros tantos, excêntricos. Sempre foi assim, desde os primórdios. Certamente você, caro leitor, amiga leitora, já ouviu falar no imperador romano Caio Júlio César Augusto Germânico, mais conhecido como Calígula, que fez de seu cavalo Incitatus senador de Roma.

Bizarrices não ocorrem só no Brasil, o país da piada pronta, mas em diferentes partes do mundo. Por aqui tivemos o presidente Jânio da Silva Quadros (1917-1992),  mato-grossense, que fez política por São Paulo e chegou à presidência da República montado na vassourinha, símbolo para varrer a corrupção que grassava à época. Anos depois apareceu Fernando Affonso Collor de Mello, playboy carioca, político pelas Alagoas, intitulado “Caçador de Marajá”, primeiro presidente eleito após a redemocratização do país. Ambos exóticos, e posteriormente escorraçados do poder. Jânio Quadro, um farsante, após uns goles a mais renunciou, pensando que voltaria mais forte ao poder, nos braços do povo. Fernando Collor, que de caçador de marajá não tinha nada, foi defenestrado por um impeachment em 1992,  pelo conjunto da obra. Com as leis dúbias que temos, Collor chegou a ser senador da República, eleito pelas mesmas Alagoas.

Na Argentina, Carlos Saúl Menem(1930-2021), de origem libanesa, governou o país de 1989 a 1999. Salseiro, bon vivant, histriônico, teve um mandato de muitos escândalos e muitas mulheres. Dizem que até Maria das Graças Meneghel, a Xuxa, fez parte dos seu séquito.

Nos EUA, o platinado Donald Trump, que dispensa maiores comentários, foi prato cheio para chargistas e humoristas. Também chegado a escândalos e mulheres. Em especial garotas de programa.

Mas ninguém ganha do folclórico Silvio Berlusconi, que morreu na segunda-feira, 12/06, em Milão, aos 86 anos, no hospital San Raffaele, por complicações relacionadas à leucemia mielomonocítica crônica.

Sua chegada à política, em 1994, inaugurou a figura do líder que se passa por outsider e encarna o sentimento antipolítica, fenômenos consagrados décadas depois com o Brexit e Donald Trump.

Na primeira metade dos anos 1990, a Europa era um continente ainda impactado pelo colapso da União Soviética, e a Itália passava pela Operação Mãos Limpas, escândalo de corrupção que envolveu agentes públicos e empresários. Como resultado, três das legendas tradicionais do século 20 – a Democracia Cristã, o Partido Socialista Italiano e o Partido Comunista Italiano – sumiram de cena de forma repentina.

Foi nesse contexto que Berlusconi “entrou em campo”, como ele diz, após conquistar influência em áreas diversas, a começar por empreendimentos imobiliários – é dessa época, nos anos 1970, que vem o título “cavaliere del lavoro” (cavaleiro do trabalho) – concedido pela Presidência, apelido dele até hoje na mídia.

Em seguida, mudou o jeito de fazer TV com seus canais, que trouxeram agilidade à comunicação de massa, então dominada pela emissora estatal. No futebol, foi dono do Milan, em uma de suas fases mais vitoriosas. O clube fez uma série de publicações nesta segunda, com vídeos e fotos da trajetória de Berlusconi. “Para sempre parte de nossa história, eternamente no coração e na mente de cada rossonero.”

A entrada de Berlusconi na política, na metade da década de 1990, significou uma nova fase do populismo na Europa no pós-Guerra Fria. Agora, a saída de cena do ex-primeiro-ministro acontece após seguidos escândalos e processos judiciais, em meio à ascensão da ultradireita no continente.

Além de feitos na política, na comunicação e no futebol, foi dono do Milan, acumulou frases sexistas e racistas, fez da Itália alvo de escárnio mundial com as festas “bunga-bunga” e virou réu em mais de 30 processos – de corrupção à prostituição infantil. Nos últimos meses, enquanto a primeira-ministra Giorgia Meloni se esforçava para se alinhar à frente ocidental anti-Rússia, ele deixou escapar frases condescendentes a Vladimir Putin, a quem considerava um amigo.

Além das trapalhadas, o que tinham em comum Carlos Menem, Donald Trump e Silvio Berlusconi? Além de poderosos, muito dinheiro, tinham atração fatal por jovens mulheres. Todos pensavam mais com os testículos do que com o cérebro.

Segundo a Forbes, a família Berlusconi é a quarta mais rica do país, com patrimônio de US$ 6,9 bilhões (R$ 33,7 bi).

O ex-primeiro-ministro gostava de festas regadas a drogas e jovens mulheres. Em seus palácios, em diferentes cidades italianas, suas festas eram nababescas. Como um Casanova, o maior mulherengo que se tem registro na história italiana, Silvio Berlusconi se notabilizou por orgias com ninfetas, o que lhe ocasionou problemas com a justiça.

 

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(*) Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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