sexta-feira, 19/04/2024

Raças humanas não existem!

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Charles Albuquerque
Charles Albuquerque (*)

No Brasil somos todos quase negros e ao mesmo tempo quase brancos!

Cada raça tem características particulares (tais como cor da pele, tipo do cabelo, conformação craniana e facial e ancestralidade) que foram desenvolvidas durante o processo de adaptação aos diferentes espaços geográficos e ecossistemas que habitamos ao longo de várias gerações. Porém, do ponto de vista biológico, raças humanas não existem!

Existe apenas a espécie humana, o Homo sapiens!

O termo raça é uma construção social. Não há diferenças raciais entre homens e mulheres, entre brancos e negros, índios e amarelos. Nossas diferenças são étnicas. Ou seja, a raça humana diferencia-se em grupos étnicos, que são comunidades ligadas por afinidades linguísticas, culturais e semelhanças fenotípicas (ou semelhanças físicas), por isso a divisão da espécie humana em raças, tomando como base a cor da pele, é o resultado de uma burocracia social que desconhece a fisiologia humana.

Imagine dividir a etnia brasileira pela cor da pele… se pudéssemos realmente fazer isso, definir uma cor para o povo brasileiro, diríamos que o Brasil é pardo!

Não só pela definição de pardo: fruto da miscigenação entre pessoas com ancestralidade indígena, europeia e africana (num linguajar mais simples: entre índios, brancos e negros); como também pela incidência, pois mais de 50% da população brasileira é parda.

Na dermatologia, a cor da pele define o fototipo e não a etnicidade. Utilizamos a regra de Fitzpatrick, que classifica a cor da pele segundo sua resposta à luz ultravioleta solar, através de queimadura ou de bronzeamento. Veja os exemplos no quadro abaixo.

Figura 1- Fitzpatrick

Então, do ponto de vista dermatológico, o que diferencia a PELE NEGRA DA PELE BRANCA é a sua resposta fisiológica à luz solar: se você se queima feito um camarão à menor exposição ao sol, você é um Homo sapiens de pele branca; se você pode desfrutar horas de sol sem sofrer qualquer queimadura ou alteração no tom da sua pele, você é igual a um Homo sapiens que tem pele negra. Pronto! É só isso!

SOMOS IGUAIS!…

Existe na nossa pele uma célula chamada melanócito que produz uma proteína chamada melanina. Esta melanina depois de produzida pelos melanócitos é transferida para as células da pele, propriamente ditas, que são os ceratinócitos, tornando-os pigmentados. É apenas essa concentração da proteína melanina que vai diferenciar a cor das pessoas e também a resistência que a pele dessas pessoas tem aos raios solares.

 

NEGROS E BRANCOS POSSUEM A MESMA QUANTIDADE DE CERATINÓCITOS E DE MELANÓCITOS! O QUE MUDA É A QUANTIDADE DE MELANINA.

Os melanócitos da pele negra produzem mais melanina e por isso a pele negra possui uma maior distribuição de melanina nas camadas da pele. Poderíamos dizer que a pele branca possui uma deficiência de melanina, visto que existe uma grande vantagem funcional em se ter mais melanina na pele.

A primeira vantagem da pele negra, rica da proteína melanina, é a menor incidência de câncer de pele, visto que a melanina absorve os raios solares protegendo o núcleo das células contra os danos do sol. A própria melanina na pele negra, já confere um fator de proteção solas (FPS) de 13,4.

Além disso, a faixa externa (chamada extrato córneo) da pele negra tem mais camadas, tornando a pele mais resistente. De um modo geral a pele negra também é mais firme, mais lisa e mais resistente a irritantes que a pele branca.

Por outro lado, a pele negra tem maior tendência a queloides devido à maior atividade dos seus fibroblastos (células produtoras de colágeno) e, também, por ter mais melanina, tem mais tendência ao melasma (aquelas manchas de sol na face que muito incomodam).

A pele negra tem também maior quantidade de glândulas sudoríparas ativas por cm² por isso sua mais. As Glândulas produtoras de sebo (chamadas de apócrinas) também são maiores em número e tamanho na pele negra, além de produzirem maior quantidade de secreção quando comparadas com a pele branca e por isso a pele negra é mais oleosa e tem mais tendência a desenvolver acne e a foliculite.

Na medicina, a compreensão dessas diferenças funcionais serve para compreender porque alguns problemas de pele são mais frequentes em uma cor de pele do que em outra.

Na sociedade, a compreensão dessas diferenças serve para nos dizer que nós não temos semelhanças fisiológicas. SOMOS IGUAIS! Apenas temos alguma diferença na nossa capacidade de suportar mais ou menos os raios solares.

Exatamente por isso brancos, índios e negros são iguais nas alvoradas e ocasos quando os raios do Sol são amenos e a vida mais cheia de cor e de brilho… exatamente por isso, todos merecem sorrir com dignidade e respeito a cada alvorecer e descansar com alma serena após cada entardecer.

Espero que você goste e tire o melhor proveito dessas informações. Afinal, viver à flor da pele não é uma opção, é uma condição.

“…A hipócrita ou a infantil tendência das pessoas a igualar os diferentes numa busca alucinada para resolver o problema da discriminação – racial, a pátria, sexual ou social – redunda na teoria do fracasso. Nesse caso, há desperdício de energia por erro de foco. Para evitar esse erro, devemos direcionar nossa energia transformadora para a compreensão e a aceitação dessas diferenças e não as negar…” (Trecho de O Dote de Letícia – Pág. 40)

Um grande abraço.

 

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(*) Médico, expert em feridas.

 

 

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Sobre Charles Albuquerque

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Médico, expert em feridas.

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