terça-feira, 19/03/2024

A importância da Educação Financeira para a vida

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David de Andrade Rocha (*)

 

Esta semana completa um ano que escrevo nesta coluna de Educação Financeira e já passamos por diversos assuntos, nos quais tentei demonstrar a importância da educação financeira para a vida de todos e para uma transformação real na nossa sociedade. Ao completar um ano escrevendo aqui, resolvi dar um presente aos leitores e falar de um assunto que normalmente só trato em meu curso de “Investimentos Para a Liberdade Financeira”.

 

 

A importância da Diversificação

Durante todos os anos que assessorei e em todos os cursos e palestras que ministro uma pergunta sempre surge. A dúvida é o pior para aquele que pretende investir, pois ela por si mesma, já traz. E imbuído um erro grosseiro para as finanças da pessoa. Que pergunta é essa? Você deve está se indagando, neste momento. E a resposta é que não poderia ser outra, senão:

Qual a melhor ação para comprar nesse momento?

Isso mesmo. Essa pergunta que talvez você que lê agora esse texto já possa ter feito a alguém que investe na Bolsa, é a pior que você pode fazer para o seu bolso. Sendo bem sincero, creio que você agora já imagine o porquê disso.

Ao fazê-la, você deixa claro a condição de que não entende do mercado e quer uma dica esperta. Aquela mesma dica que te levaria a cair num golpe no estilo pirâmide. Ou mesmo que a pessoa tente responder com sinceridade, talvez o tempo de investir nessa ação já tenha passado e você entre em uma ação que já está alta demais e tende a cair.

Claro que todos nós já ouvimos falar de pessoas que compraram uma ação e do nada ela se valorizou mais de 1.000%. Na verdade esses casos não são tão raros, mas você precisa do time certo para entrar nessa ação e na maioria das vezes é um golpe de sorte. Por isso, no mercado, é chamado de Stock Pick, ou seja, uma operação de acertar o momento em que o mercado vai olhar para uma ação de baixa negociação e fazê-la subir muito.

Agora responda: Você acha que o grande investidor ou o profissional do mercado fica realmente buscando acertar na sorte, de achar uma chance em dez mil para acertar essa ação?

A resposta é não. Tanto o investidor que está em Bolsa há um tempo, quanto o gestor de um grande fundo sabe que, ao longo prazo, acertar uma stock pick é pouca coisa. Mas ele não ignora essa chance. Na verdade, o que acontece é estar preparado para aproveitar essa variável, mas não depender só dela. E como ele faz isso?

Diversificando

A diversificação de uma carteira de investimento é o que garante aos investidores ter lucros consistentes em qualquer cenário. Mesmo nesta pandemia, muitos aumentaram seus patrimônios consideravelmente. Isso tudo porque diversificaram bem suas carteiras.

Diversificar é diferente de simplesmente comprar várias ações aleatoriamente. Por definição, uma diversificação diminuirá o risco relativo de uma carteira de investimentos como um todo, sabendo mesclar investimentos assimétricos (ou seja, quando um cai o outro sobe bastante).

Segundo Nicolas Taleb, a diversificação é o ultimo dos almoços grátis e Warren Buffet diz sempre para não colocar todos os ovos na mesma cesta. Podemos lembrar que o segundo é o maior investidor da história e o primeiro é consultor de um fundo que rendeu 3.600% durante os dois primeiros meses da pandemia. Acho que dá para escutar o que eles falam…

Você deve estar se perguntando. Mas como fazer uma boa diversificação?

Aí está o segredo dos grandes investidores, pois para fazer essa diversificação ser eficiente, e não somente uma pulverização de capital, o investidor deve se conhecer e conhecer seus objetivos. Já falei aqui nessa coluna sobre os perfis de investidor.

Ao saber seu perfil, saberá qual a melhor forma de diversificar para que seus investimentos cresçam a proporções cada vez maiores. Por mais que seja impossível abordar todas as variáveis de uma diversificação bem feita, como abordamos no curso, vou aqui dar um exemplo imaginário de diversificação.

Lembrando que esse exemplo não constitui uma recomendação, pois, como disse, há algumas variáveis que para explicar faria desse texto algo enorme. Vamos ao exemplo prático:

Digamos que um investidor de perfil arrojado tenha R$ 100.00,00 (Cem mil reais) para investir e ele queira diversificar para encontrar o melhor rendimento para sua carteira. Logo, ele acha a alocação inicial assim:

60% Renda Variável R$ 60.000,00

10% Hedge R$ 10.000,00

15% Fundos de Investimento R$ 15.000,00

15% Renda Fixa. R$ 15.000,00

A partir dessa alocação, ele pode passar a definir os ativos assimétricos:

Renda Variável R$ 60.000,00

Dentro dos ativos de renda variável ele pode escolher Ações, FIIs e Fundos de investimento em ações. Logo, ele resolve fazer o seguinte:

Ações de Valor R$ 30.000,00

Selecionar ações de valor para compor uma carteira de ações bem diversificada, contendo até 10 ações nas quais todas irão ganhar o mesmo peso na carteira, investindo assim R$ 3.000,00 em cada uma das 10 ações.

Claro que aqui, ele irá buscar empresas de setores de atuação diferentes para reduzir o risco do setor. Não adianta nada diversificar e colocar tudo em 10 ações de bancos diferentes, por exemplo, já que se o setor bancário cair, caem todas.

Fundos de investimento em ações R$ 10.000,00

Selecionar até três fundos de investimentos com estratégias diferentes, para aproveitar a diversificação que cada um desses fundos oferece, investindo pouco para isso. O bom ainda é que esses fundos, provavelmente, terão acesso a ações que ele deixou de fora da lista pois comprou diretamente, aumentando as chances de aproveitar uma ação que suba muito, mesmo sem ter que comprá-la diretamente.

Fundos são ótimas ferramentas de diversificação, como falei no texto sobre o assunto que já escrevi aqui no Só Sergipe.

Fundos de Investimento Imobiliário (FII) – R$ 15.000,00

Os FII ganharam muita atenção nos últimos anos por conta dos dividendos que pagam mensalmente,  por serem uma fonte de renda interessante. Mas como a perspectiva de subida deles é menor do que a das ações, eles ganham menos destaque na carteira, mas cumprem seu papel, já que os aluguéis pagos fazem com que a volatilidade da carteira caia e isso é bom, principalmente, em momentos de crise.

A ideia é escolher cinco FII de setores diferentes e colocar R$ 3.000,00 em cada, para poder aproveitar toda a atividade econômica sem se expor ao risco do mercado em demasiado.

Small Caps R$ 5.000,00

Por fim, para fechar os investimentos em renda variável, ele escolhe 2 small caps (ações que ainda estão novas na bolsa) e põe R$ 2.500,00 em cada, para que, se uma delas crescer, possa multiplicar em muito seu patrimônio. Mas, se o custo não é compensado pelo resto da carteira, aqui tem a maior chance de Stock Pick.

Hedge R$ 10.000,00

Para se proteger de momentos de crise, ele separa 10% do seu capital para fazer hedge, que é uma operação indicada para proteção de carteiras de longo prazo, mas também pode trazer retornos muito bons em momentos de crise no mercado.

Hedge com Ouro R$ 5.000,00

A moeda das moedas, o ouro, é o ativo de maior proteção, como você pode ver no texto sobre Hedge que escrevi aqui para o Só Sergipe.

Hedge com Dólar R$ 4.000,00

Utilizar uma moeda mais forte para se proteger é perfeito em momentos de crise no Brasil. Por isso, manter ativos dolarizados é interessante.

Hedge com Opções R$ 1.000,00

Por fim, ele monta a maior defesa para sua carteira com apenas 1% de seu capital investido em opções, protegendo suas ações de valor de alta volatilidade. Saindo daqui, inclusive, a possibilidade de um lucro gigante, mesmo com a baixa alocação.

Fundos de Investimento R$ 15.000,00

Aqui ele pode escolher fundos que tenham estratégias diferenciadas como Debêntures incentivadas, Multimercado macro, Juros reais e outros, para fazer sua carteira abarcar a chance de movimentações pontuais do mercado e lucrar bem com isso.

Renda Fixa R$ 15.000,00

Não, a renda fixa não morreu e continua aí dando lucro para aqueles que sabem observar suas oportunidades, tendo logicamente pouco risco. A parcela de renda fixa nessa diversificação seria destinada à Margem de Garantia e também a lucrar consistentemente, mesmo que pouco, para junto com os aluguéis dos fundos imobiliários a carteira dificilmente fecharia um mês no vermelho.

Claro que esse exemplo foi resumido só para que você tivesse uma ideia de como funciona a diversificação, pois existem muitas variáveis a se olhar. E o melhor é que a pessoa estude bem para fazer uma diversificação deveras eficiente. Esse exemplo garante lucros consistentes que a longo prazo superam em muito a possibilidade de uma stock pick. Mas mesmo assim não deixa de aproveitar, caso possa acontecer uma subida inesperada de uma ação que ele não viu, já que os fundos a pegarão.

Em momentos de crise, o ouro, o dólar e as opções fazem seu trabalho subindo astronomicamente, mas em momentos normais também trazem retornos satisfatórios. Já a renda fixa e os FIIs junto com os fundos multi estratégia garantem um retorno consistente ao longo do tempo.

E as ações de valor tendem a trazer retornos expressivos a longo prazo junto com a distribuição de dividendos, deixando a parcela mais arriscada da carteira nas small caps para trazer um lucro rápido, caso acerte o movimento;  e um prejuízo muito pequeno, caso erre. Prejuízo esse que seria rapidamente compensado pelo resto da carteira.

E então, você já tinha pensado por esse ângulo da diversificação?

Saiba que essa é a principal carta manga dos investidores, e pode ser feita com qualquer capital que você tenha. Mesmo que seja apenas R$ 1.000,00 você pode diversificar.

Os investidores ainda tratam de rebalancear a carteira, mas isso é outro assunto que falo no curso.

Por hora, reflitam sobre a diversificação de sua carteira de investimentos.

Um abraço e bons investimentos.

(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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