terça-feira, 08/07/2025
Campanha da Fraternidade 2025

Por uma ecologia integral – Fraternidade em tempos de doença da alma

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Sem sombras de dúvidas, ela se tornou, ao longo de mais de seis décadas, uma “expressão de comunhão e partilha” e “uma das principais ações evangelizadoras da Igreja no Brasil”, assim bem vaticina o texto-base da Campanha da Fraternidade (CF) de 2025. E é sob essas duas perspectivas que ela precisa ser percebida à luz da História. Anualmente, desde 1964, a Igreja nos convida a todos, católicos ou não, para não somente pensar, mas também agir frente a desafios impostos pelo tempo presente.

No que se refere ao tema deste ano — Fraternidade e Ecologia Integral —, mais uma vez, e esta é nona, há necessidade de pensar sobre os efeitos do descuido para com o meio ambiente. E nesse sentido, chamo a atenção para o objetivo principal da CF deste ano, qual seja o de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise ambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres da Terra”.

Mais uma vez, o apelo para o cuidado com a Casa Comum. Sim. É assim que devemos, antes de qualquer coisa, encarar o planeta Terra. Pois, já se foi o tempo em que o trato com as questões da natureza seja apenas de comunistas ou de hippies. Hoje, destaca o texto-base da CF, “a Ecologia [ciência] também reúne uma multidão de pessoas e grupos que se mobilizam para deter a destruição da Terra e assegurar a continuidade da teia da vida” (p. 17).

Não é fatalismo. É a realidade mais certa que temos tanto quanto a morte. Se não fizermos nada pela Casa Comum, o ser humano, com toda a sua capacidade intelectual e financeira, não irá sobreviver. E o que é pior: “(…) não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele” (texto-base, p. 18). Os negacionistas e os bilionários certamente dirão o contrário, notadamente quem está gastando turras de dinheiro para investir em viagens espaciais ou exploração da Lua e, também, de Marte.

Como criaturas de Deus, somos guardiões da criação. Para tanto, a CF 2025 nos convida a recuperarmos o sentido da fraternidade universal, dado que “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31) e nós estragamos com a desobediência, arrogância, autossuficiência, orgulho, vaidade, soberba, ganância e toda uma série de sandices que adoeceram a alma humana e a afastaram da beleza da criação divina, nos tornando seres cada vez mais indiferentes, consumistas, materialistas e todos idólatras de nossa própria imagem, escravos do desejo e do dinheiro.

Por isso mesmo, a necessidade, a partir deste tempo quaresmal, de “viver integralmente a proposta do Reino de Deus”, de vida em abundância e de dignidade humana; de “sintonia e conexão com os sinais da ressureição”, posto que não fomos criados para morrer; “abrindo a nossa consciência para entendermos tudo o que contradiz a harmonia do que foi criado” – como fome, miséria, injustiça social e destruição em massa, cujos mais afetados são os pobres, as crianças, os jovens e os idosos. De necessidade, também, de um “processo contínuo e integral de conversão” – como um todo, integralmente; de vivenciar “novas relações do ser humano com Deus”, recuperando a nossa confiança e amizade com Ele. Que possamos, como nos orienta o Papa Francisco, irmos além da preservação do verde, mas que, ciente, alegres e gratos que tudo fez “com seu olhar amoroso”, possamos também levarmos “uma vida de comunhão”, de “respeito e colaboração entre as pessoas e o mundo criado”, seja no campo, seja na cidade.

De tudo que li sobre a CF de 2025 até o presente momento, à luz do trecho final do versículo 30, do capítulo 1, do livro de Gênesis (… a tudo que tem sopro de vida dou toda a erva verde como alimento), comungo, integralmente, e por aqui encerro, com o Padre Adroaldo Palaoro, SJ, da Edições Loyola: “(…) Somos argila sobre o qual é soprado o espírito divino que anima e inspira (…) somos pó, mas pó apaixonado, habitados pelo sopro do Espírito” (2025, p. 18).

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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