terça-feira, 15/07/2025
São João Batista e São João Evangelista
São João Batista e São João Evangelista Imagem / Imagem gerada por IA

O simbolismo de São João na Maçonaria

Compartilhe:

Por Antônio Carlos Garcia

A figura de São João ocupa um lugar de destaque na tradição maçônica em todo o mundo. Mais do que um simples padroeiro, São João — nas figuras do Batista e do Evangelista — representa uma síntese de valores espirituais, simbólicos e históricos cultivados pela Maçonaria desde sua transição das corporações operativas para a organização especulativa. Sua presença em datas, rituais e ritos reflete o papel central que ocupa na formação moral e filosófica do maçom.

A devoção a São João Batista remonta à Idade Média, quando as corporações de ofício, especialmente os pedreiros, reuniam-se sob a proteção de santos padroeiros. O Batista, com sua vida de austeridade, retidão e preparo espiritual para a chegada da Luz, tornou-se símbolo ideal para essas confrarias.

Essa conexão se consolidou com a fundação da Premier Grand Lodge of England, em 24 de junho de 1717 — data que coincide com o dia de São João Batista. Posteriormente, São João Evangelista, celebrado em 27 de dezembro, foi incorporado como símbolo da contemplação, do conhecimento e da escrita — complementando a ação anunciadora do Batista com a introspecção e sabedoria do Evangelista.

O simbolismo dessas datas não é aleatório. Ambas coincidem com os solstícios de verão e inverno no hemisfério norte — momentos de virada solar que reforçam a ideia de ciclo, luz e renovação espiritual (Mackey, Albert G., History of Freemasonry).

A tradição joanina é amplamente celebrada nas potências maçônicas brasileiras, como o Grande Oriente do Brasil (GOB). Lojas com nomes como “Luz de São João”, “Estrela de São João” e “Virtude e Sabedoria de São João” perpetuam o legado dos santos joaninos. Nesses contextos, é comum a realização de sessões especiais em 24 de junho e 27 de dezembro, marcando o fim e o reinício dos trabalhos maçônicos do ano (Revista Maçônica Trolha; GOB Nacional).

O Brasil também guarda uma particularidade rara no mundo: é um dos únicos países onde se pratica o chamado Rito de São João, introduzido por maçons húngaros na década de 1950, por meio da ARLS Ressurrectio nº 99, vinculada à GLESP. Esse rito valoriza a simplicidade ritual, a ausência de hierarquias visíveis no templo e a liberdade filosófica. Traduzido oficialmente em 1969, representa uma vertente introspectiva e igualitária da vivência maçônica (Site da Loja Resurrectio; GLESP, 2011).

Há registros históricos que indicam a associação dos Cavaleiros Templários com São João. Em especial, a Ordem de São João de Jerusalém, ligada aos Cavaleiros Hospitalários — que sucederam os Templários em várias tradições cristãs e esotéricas — é um ponto de interseção com a Maçonaria.

No contexto maçônico, São João de Jerusalém (também conhecido como São João Esmoler) representa ideais de caridade, sacrifício e serviço, reverenciados nos altos graus dos Ritos Escocês Retificado e de York, nos quais ordens templárias maçônicas mantêm viva essa memória espiritual. Essa vertente é acolhida no Brasil por corpos maçônicos ligados a potências como o GOB e a Grande Loja Maçônica de Minas Gerais (Revista Philalèthe, 2020).

A devoção a São João ultrapassa fronteiras. Em países como Inglaterra, Escócia, Irlanda, Estados Unidos, Canadá e Alemanha, ele é figura central das celebrações maçônicas. Na Inglaterra, a fundação da primeira Grande Loja foi propositalmente marcada para o dia do Batista. Na Escócia, a instalação do Venerável Mestre costuma ocorrer no dia de São João Evangelista.

Nos Estados Unidos e no Canadá, são comuns as chamadas St. John’s Day Observances, reuniões públicas e privadas em homenagem aos santos joaninos. Na Alemanha, o termo St. John’s Lodge é amplamente usado como sinônimo de Loja Azul, ou simbólica, indicando a importância perene da figura joanina (Coil’s Masonic Encyclopedia; Ars Quatuor Coronatorum).

A presença de São João na Maçonaria não é apenas cerimonial ou decorativa. Ele encarna arquétipos profundos que orientam o desenvolvimento espiritual do iniciado. O Batista representa o anúncio da Luz e o início do caminho; o Evangelista, a sabedoria e a permanência da Verdade; o Esmoler, a compaixão e o serviço ao próximo.

Ao reverenciar São João, a Maçonaria afirma seu compromisso com o progresso espiritual, a liberdade de consciência e a fraternidade universal. Trata-se de uma tradição viva, que atravessa os séculos iluminando os templos e os corações dos que buscam a verdade.

Compartilhe:

Sobre Antônio Carlos Garcia

Avatar photo
CEO do Só Sergipe

Leia Também

Qual é a sua verdade?

  Por Manuel Luiz Figueiroa (*)   A minha verdade é uma hipótese no sentido …

WhatsApp chat