sexta-feira, 19/04/2024
O investidor e os investimentos Foto: Freepik

O que é e o que não é investimento

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David de Andrade Rocha (*)

Para começarmos a nos aprofundar sobre investimentos devemos antes definir o que é um investimento e o que é um investidor, pois muita confusão existe sobre esses termos e sua aplicabilidade.

Para definirmos investimentos tomo emprestado o exposto por Benjamin Graham em seu livro “O Investidor Inteligente”. Para Graham, “uma operação de investimento é aquela que depois de análise cuidadosa, prometa proteção do principal e um retorno adequado.” Essa definição vai contra o que normalmente é dito sobre investimentos, pois não é somente investir em qualquer título que será considerado como tal.

O investidor estuda e analisa para saber onde alocar seus recursos e tem como principal parâmetro de “retorno adequado” que a rentabilidade de seus investimentos supere a inflação no período em que mantiver os investimentos. Via de regra, hoje no Brasil nenhum investidor aceita menos que a taxa Selic como retorno sobre investimentos, pois, como já abordamos, a taxa Selic é vista como o custo de oportunidade de investimentos. Em outras palavras: por que investir, digamos, em ações se a taxa Selic está dando com máxima segurança 3% a.a?

Para resolver essa questão, o investidor vai olhar dados da empresa para saber se deve investir ou não nela. Essa abordagem é diametralmente oposta a do especulador, já que visa ganhar mais rápido, ele pode não se preocupar com dados e sim com outros fatores que falaremos em outra ocasião.

Sabendo que o investidor tende a aportar seus recursos pensando em lucrar ao longo do tempo, para ele a inflação é um inimigo poderoso que o afasta de suas metas, por isso exigir um retorno adequado de suas aplicações, sejam elas em renda fixa ou renda variável, é de fato importante para quem quer construir riquezas.

Muitas formas de investimentos se enquadram nesse aspecto e trataremos delas ao longo do tempo. Mas, por hora, trataremos de blindar o investidor ou futuro investidor das aplicações que não superam a inflação e, portanto, não podem ser consideradas investimentos.

Encabeçando a lista de aplicações financeiras que não se enquadram como investimentos temos a nossa velha conhecida poupança. Ela rende quase nada no cenário atual e vem perdendo para a inflação desde 2012, quando as regras da poupança foram mudadas para essa versão flutuante, a saber: a poupança desde maio de 2012 rende a taxa de 70% da Selic + a variação mensal da taxa referencial, quando a Selic é menor que 9,5% a.a; quando a Selic chega à marca de 9,5% a.a ou mais, a poupança trava seu rendimento em 0,5%+TR ao mês. Logo, quem ainda tem dinheiro na poupança está travado como se a Selic estivesse em 9,5% a.a.

Observemos os dados acima da poupança sobre a ótica de um investidor que quer construir riqueza a longo prazo. A poupança rende atualmente 2,1 a.a, enquanto a inflação está em 4,3% a.a (final de 2019). Logo, deixando o dinheiro parado na poupança teríamos uma perda de poder de compra na ordem de -2,11% a.a, nada bom novamente.

Claro que muitas pessoas argumentariam que não investem na poupança, mas deixam o dinheiro guardado para quando precisar com total liquidez. Nesse caso, seria sensato perguntar se não seria melhor deixar o dinheiro em um Fundo DI ou em um Tesouro Selic (LFT), opções simples de investimento, que têm uma liquidez tão grande quanto a da poupança e também rendem 100% da Selic.

Mesmo com uma seleção melhor de onde podemos alocar nosso dinheiro de emergência, podemos tê-lo à mão quando precisarmos, e enquanto não precisamos podemos simplesmente deixá-lo rendendo.

Outra modalidade de aplicações financeiras que deve ser deveras estudada, antes de as considerarmos investimentos, são os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Essas aplicações financeiras muito oferecidas pelos bancos devem ter um estudo detalhado, pois elas rendem uma porcentagem do chamado índice DI (CDI) que, via de regra, fica sempre muito próximo da variação da taxa Selic, o que leva algumas pessoas a afirmarem erroneamente que esses dois índices são a mesma coisa. Voltaremos a esse ponto em outra oportunidade, por hora basta saber que a proximidade dessas taxas acabam sendo alteradas a depender das necessidades dos bancos.

Sobre um CDB incide imposto de renda e muitas vezes os investidores acham que estão lucrando com essas aplicações e não estão. No cenário atual, um CDB deveria apresentar ao menos uma rentabilidade próxima a 85% do CDI, para que o investidor tivesse uma rentabilidade líquida real (depois de tirados os impostos e a inflação) que batesse a inflação. Menos que essa rentabilidade seria o mesmo que investir na poupança. Lógico, a rentabilidade oferecida pelo CDB vai depender muito do relacionamento do investidor com o banco.

Observamos hoje algumas aplicações que não se enquadram na descrição de investimentos. Na próxima Newsletter avançaremos um pouco mais nesse assunto falando das opções que o mercado oferece e que se adequam à definição de investimento supracitado, onde ficará claro que o Brasil é atualmente o melhor país para investimentos nesse sentido e atravessa uma fase que ajuda muito aos investidores que souberem se posicionar corretamente.

(*) David Rocha escreve semanalmente, às terças-feiras. Ele é assessor de investimentos e educador financeiro, que vive o mercado diariamente, desde 2011, e autor do livro Tesouro Direto – Um Caminho para a liberdade financeira de 2016.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva do autor.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.
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