quarta-feira, 27/03/2024
Vladimir Putin quer fazer uma apropriação de terras ao estilo do século 18 em um mundo globalizado do século 21 Foto: EBC

O mundo refém de um louco belicista

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Luiz Thadeu (*)

De tempos em tempos surge um louco belicista no mundo, subvertendo a ordem mundial; isso acontece desde os primórdios. Guerras são conflitos armados que acontecem por diferentes motivos, como desentendimentos religiosos, interesses políticos e econômicos, disputas territoriais, rivalidades étnicas, entre outras razões. Na História, elas são estudadas por um ramo conhecido como História Militar, que se dedica não só a entender as grandes guerras, como também a estudar a noção dos exércitos. Um dos grandes teóricos da guerra moderna foi o militar prussiano Carl von Clausewitz( 1780-1831), responsável por estabelecer ideias como a da mobilização total de um Estado para a guerra. Eventos como a Primeira e a Segunda Guerra Mundial são demonstrações perfeitas do estado de guerra total. Para evitar os excessos, foram estabelecidas as Convenções de Genebra.

A guerra sempre foi alvo de intensos estudos e, como tal, recebeu reflexões de diversas pessoas ao longo da história. Essa reflexão e análise não é uma realização do homem moderno, uma vez que um dos tratados mais conhecidos sobre a guerra é de um estrategista militar chinês chamado Sun Tzu.

Existe uma série de polêmicas sobre esse tratado, sobretudo sobre sua datação e se de fato contém somente escritos de Sun Tzu. De toda forma, o livro de Sun Tzu, conhecido como “A Arte da Guerra”, é entendido como o tratado mais antigo sobre esse assunto. Portanto, podemos perceber que o interesse do homem pela guerra é de longa data.

O que não se esperava, que em tempos atuais, com a tecnologia que temos, fôssemos assistir ao vivo e a cores, a destruição de um grande país, 44 milhões de habitantes, por seu vizinho. Localizados na Europa, palco de duas das maiores guerras de todos os tempos: Primeira Guerra(28 de julho de 1914 – 11 de novembro de 1918), Segunda Guerra(1 de setembro de 1939 – 2 de setembro de 1945), agora se assiste a mais um conflito armado entre a poderosa Rússia e a Ucrânia, dois países irmãos.

Vladimir Putin quer fazer uma apropriação de terras ao estilo do século 18 em um mundo globalizado do século 21. Isso é algo inédito, nunca visto antes.

Sun Tzu
Sun Tzu, autor de “A Arte da Guerra”
Imagem: Wikipedia

Nosso mundo não será o mesmo novamente porque esta guerra não tem paralelo histórico. É uma apropriação de terras ao estilo do século 18 por uma superpotência – mas em um mundo globalizado do século 21. Esta é a primeira guerra que está sendo coberta, em tempo real, no Tiktok por indivíduos superpoderosos armados só com smartphones, na palma da mão, assistindo atos de brutalidade, documentados e transmitidos em tempo real.

Ao agir dessa maneira hoje, Putin não está só pretendendo reescrever unilateralmente as regras do sistema internacional, que estão em vigor desde a 2.ª Guerra – que nenhuma nação pode simplesmente anexar a nação ao lado – ele também está disposto a alterar o equilíbrio de poder que ele sente ter sido imposto à Rússia após a Guerra Fria, e redesenhar o mapa da Europa, e consequentemente do mundo, inaugurando uma nova geopolítica.

Esse equilíbrio – ou desequilíbrio na visão belicista de Putin – era o equivalente humilhante das imposições do Tratado de Versalhes à Alemanha após a 1.ª Guerra, que retirou da esfera de influência da União Soviética não só Estados como a Polônia, mas também aqueles que faziam parte da própria União Soviética, como a Ucrânia.

Ao ver as deploráveis cenas da invasão, sentado no sofá de casa, pela TV ou pelas redes sociais, podemos até pensar que estamos de volta à selva. Mas há uma grande diferença. Hoje a selva está conectada. E mais intimamente do que nunca pelas telecomunicações, satélites, comércio, internet, mercados financeiros, cadeias de suprimentos e redes de transportes – rodoviárias, ferroviárias e aéreas.

Assim, enquanto o drama da guerra se desenrola em território ucraniano, os riscos e as repercussões da invasão de Putin são sentidos em todo o mundo – mesmo na China, que tem bons motivos para se preocupar com seu amigo no Kremlin.

Se você caro leitor, amiga leitora, acha que a guerra está longe de nós, não está não, chegou no nosso bolso; já se sente os efeitos do conflito no supermercado do bairro, ou no posto de combustíveis.

O mais inacreditável nisso tudo é como quase 8 bilhões de pessoas no mundo todo ficaram reféns da mente patológica do czar Vladimir Vladimirovith Putin.

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Luiz Thadeu Nunes e Silva é engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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