quinta-feira, 10/10/2024
O olho que tudo vê
O olho que tudo vê Foto: Pixabay

O maçom e a política

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Por Jader Frederico Abrão (*)

 

Sempre que analisamos situações da vida comum na esperança de acertarmos nas nossas escolhas, devemos – “penso eu” – associar às bases de compreensão individual atual, as lições prescritas pela história, pela Maçonaria e pelo Grande Arquiteto do Universo. Por isso, se não purificados pela busca constante da verdade, os vícios e as paixões serão sempre tão pecaminosos e contaminantes de sombra sobre a lucidez da realidade.

O passado é a maior escola de sabedoria acessível ao homem e o presente é o grande dia desse exame escolar da maturidade. Já o futuro, podemos dizer com segurança, que é apenas e tão somente a consequência de tudo, onde esperamos encontrar a tão sonhada felicidade plena, que é o bem sem limites. Esta condição psicoemocional de plenitude, deve, por lógica, inobstante a inata imperfeição humana, ser cultivada no campo das emoções, da razão e dos comportamentos, em completo equilíbrio, contudo, elegendo o “belo”, a verdade e a ação, como estruturas a serem talhadas.

O livro Ética a Nicômaco diz “que todo o conhecimento e todo o trabalho do homem visam algum bem. O bem é a finalidade de toda a nossa ação. E essa busca do bem é o que diferencia a ação humana de todos os outros animais.” Essa obra literária inspirada na sabedoria e ensinamentos do filósofo Aristóteles, informa “que a felicidade consiste na atividade da alma de acordo com as virtudes: as virtudes morais, como coragem, generosidade e justiça; e virtudes intelectuais, como conhecimento, sabedoria e discernimento.” Vale dizer, com base em tais ensinamentos, que agir com objetivo de alcançar um bem maior é o que nos diferencia de um porco, talvez sem essa nobreza de intenção as nossas escolhas nos coloquem assados com uma maçã na boca, na mesa do fazendeiro.

Por sua vez, a Maçonaria ensina de vários modos sobre os caminhos para a busca da perfeição, que a meu ver se confunde com o estado anímico de felicidade plena. O simbolismo; os trabalhos recheados de filosofia e de mensagens iluminadas; os discursos empolgantes realizados por homens de todas as condições culturais, mas com uma só visão de valores morais; as obras literárias; dentre outras oportunidades, nos enchem de força para buscarmos constantemente a verdade que ilumina os “degraus da escada de Jacó”. E o que nos proporciona crescimento é a prova – o dia de hoje, o agora, o presente -, pois é somente neste momento/tempo, que nos é oportunizado construir o nosso próprio Templo e a alcançar o próximo “degrau”, agindo através das boas escolhas e do comportamento desinteressado e virtuoso, comum em homens livres e de bons costumes.

No dia de hoje (no presente, no agora) é que podemos chegar na Loja combatendo a fofoca, a intolerância, a politicagem, a inutilidade e a preguiça de todos os modos, o fazendo prioritariamente através do exemplo. É por meio de cada situação vivida no momento presente, que devemos chegar no trabalho, nos amigos, no lazer e na família, entregando de forma espiritual, moral e emocional a mesma energia que todo maçom deve emanar através da ligação constante ao Grande Arquiteto do Universo, já que é a única particularidade em especial daqueles que geralmente denominam outros pela expressão de profanos (não entrarei no mérito da expressão, mas evocarei aqui como condição de prática costumeira). Vale dizer, que maçom que não transcende da matéria para abraçar-se ao Grande Arquiteto do Universo, não visualizou a luz, apesar de ter tido a oportunidade de contemplá-la.

Ainda temos que considerar que é também no agora, e não no futuro, que devemos – principalmente aqueles enquanto membros dos altos cargos institucionais da Ordem Maçônica – nos manter seguros em apresentar decisões e comportamentos calcados na ética e na vontade do Grande Arquiteto do Universo, escolhendo sempre sob os valores e as lições encontrados no Livro Sagrado. Dentre esses ensinamentos destaco a renúncia inteligente, geralmente e lamentavelmente, em desuso no meio maçônico e fora dele, sendo em muitos casos a única asseguradora da paz institucional e da união fraterna entre os povos.

É correto dizer também, que não existem homens e mulheres dotados de perfeição neste mundo de provações e de regenerações espirituais. E isso fica claro quando “damos poder a eles”. Interessante, que na política institucional maçônica ou mesmo na profana, visualizamos sempre o dizer da máxima “dê poder a alguém e conhecerá esta pessoa”.

Então, deve ser o melhor  modelo de atitude de um eleito o combate de suas próprias paixões e vícios, preterindo vantagens obscuras, escolhendo ser livre para praticar um comportamento probo, maduro, que vise a felicidade e o bem da vida em geral. Tal força virtuosa está por essência impregnada no maçom, já que possui uma educação sistemática e constante, completamente voltada à prática da virtude, que o faz ser livre, alcançando condição de imensa vantagem ética e moral, quando candidato a qualquer cargo ou função.

Enquanto eleitores, nós maçons, devemos, sobretudo, buscar amadurecimento político representativo em todas as oportunidades vividas. É preciso muito refletir… Exemplo: “qual foi o critério usado pela nossa Loja para eleger representantes legislativos, aqueles que definem nas Casas de Leis maçônicas, o futuro normativo de cada instituição? Existem Lojas que elegem representantes legislativos para isentar o irmão de assiduidade presencial nas sessões da Loja? Existem casos em que o maçom foi eleito à cargo que lhe assegure isenção de frequência em Loja, porque mudou de cidade? Ou, porque o irmão, já idoso, talvez debilitado, há muito contribuiu com a Loja e hoje precisa ser agraciado com um cargo de maior distinção e/ou de “menor dedicação”? Quais têm sido os motivos para elegermos irmãos para os cargos legislativos da nossa instituição maçônica? Pois se torna cada vez mais incomum assistirmos irmãos legisladores atuando no munus legislativo de fiscalizar e de contribuir de maneira objetiva, efetiva, proativa e real, para a construção de uma instituição mais justa e mais feliz.

E no mundo da política profana, nós maçons escolhemos bem os candidatos que votamos? Valorizamos a nossa família maçônica quando candidatos nas eleições profanas? Apoiamos, efetivamente, de maneira real, os irmãos e/ou familiares, a alcançarem êxito nas eleições municipais, estaduais e federais?

De qualquer forma, em todos os casos, devemos tratar as nossas escolhas eleitorais sob o emprego da régua, do esquadro, do compasso, do nível, do prumo, da alavanca, apoiando de qualquer forma, inclusive política, preferencialmente as pessoas que compõem a nossa família maçônica, sobre as quais sabemos ter condições de contato estreito e de liberdade para cobrar o cumprimento de atitudes coerentes e dogmatizadas por leis sagradas e sacralizadas. Temos que praticar urgentemente, no dia presente – hoje, agora -, o nosso maior senso individual de responsabilidade através das nossas boas escolhas. O mal ou o bem que serão produzidos no futuro pelos candidatos de agora, ajudados ou permitidos serem eleitos por nós, seja na instituição maçônica ou fora desta, são frutos das nossas escolhas como eleitores.

Somos na Odem Maçônica, recheados de heróis com importantíssimos feitos na história mundial, antiga e recente. A maçonaria mundial recebeu inúmeras glórias pelos feitos grandiosos na luta pela justiça durante os séculos, agindo sempre através de vários dos seus membros, por iniciativa e atitude destes, que apresentaram comportamentos atuantes e decisivos em detrimento do adverso “político-social-dogmático-ideológico” de suas épocas. Cada maçom deve entender que possui uma gigantesca importância através de seus comportamentos individuais e sociais, perante a instituição e perante o mundo externo. O maçom que age ou que não age com dedicação, e o maçom que não apoia outro maçom, perante cada situação do cotidiano, está perdendo a oportunidade de ser útil, o que significa perjúrio ao juramento praticado.

Temos a história e os ensinamentos sagrados e maçônicos como estrutura etica-moral valiosa que nos ensinam muito sobre como nos comportarmos no presente de cada momento. Se tivermos dúvidas em nossas escolhas, passemos então nas peneiras da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade, da Família, da Pátria e do Grande Arquiteto do Universo, e com certeza encontraremos a resposta mais eficaz e mais iluminada para as decisões. Temos o presente, o hoje, para refletirmos muito, e para praticarmos e experimentarmos aquilo entendido como verdade/virtude, através das nossas escolhas políticas representativas, o que nos impedirá de apoiar qualquer candidato inútil, em qualquer oportunidade ou instituição.

Todos teremos sempre momentos de escolhas políticas eleitorais, ou pelo menos assim teremos enquanto durar esse mínimo de Estado Democrático de Direito, já cambaleante em cordas bambas sobre o precipício das instituições nacionais brasileiras. Contudo, a melhor escolha sempre dependerá do apoio de homens livres e de bons costumes, que bem analizarão cada situação da vida em comum para esolherem segundo os bons valores ensinados pela história, pela Maçonaria e pelo Grande Arquiteto do Universo.

 

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Sobre Jader Abrão

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Jader Frederico Abrão, advogado e contador, especialista em Direito Tributário e Direito Eleitoral. Membro da A.: R.: L.: S.: Vale do Tocantins nº 3094, Oriente de Uruaçu – Goiás

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