A Cooperativa de Produção, Economia Solidária e Agricultura Familiar de Campo do Brito (Coofama) começou a exportar farinha de mandioca para a Itália. A primeira remessa, com 27 toneladas, saiu do agreste sergipano nesta quinta-feira (30) com destino à empresa alimentícia Boccon, que utilizará o produto na fabricação de massas sem glúten, como nhoque de couve-flor (receita com cerca de 75% de couve-flor e 25% de farinha). Até o fim do ano, a cooperativa prevê o envio de outros quatro contêineres, totalizando mais de 100 toneladas e um faturamento estimado entre R$ 500 mil e R$ 600 mil, segundo o gerente administrativo da Coofama, Luiz Carlos da Lapa Santos.
A cooperativa já havia realizado anteriormente uma remessa menor para os Estados Unidos (Flórida), há cerca de dois anos — um teste de exportação de cerca de 310 kg. Segundo Lapa, a negociação começou de forma direta: a empresa italiana entrou em contato com a cooperativa pelo Instagram, após pesquisar farinhas no Brasil. “Após algumas reuniões, eles enviaram duas técnicas para verificar a produção e, quinze dias depois, o container estava praticamente pronto. O proprietário da Boccon, Luca Boccon, passou uma semana conferindo tudo localmente e aprovou o produto”, detalhou.
A farinha exportada é do tipo extremamente fina, comercializada em sacos de 25 quilos, e será utilizada na composição de receitas sem glúten, não para venda direta ao consumidor. Para atender às exigências da importadora, as casas de farinha precisaram adaptar o processamento, incluindo a lavagem completa das raízes antes do beneficiamento, garantindo que o produto não tivesse resíduo de areia ou impurezas.
“O pedido era por uma farinha muito limpa, já que será incorporada em receitas industriais. Tivemos que ajustar parte do processo, mas a qualidade da farinha sergipana agradou de imediato”, explicou Lapa.
Para a Europa
O município de Campo do Brito é um dos principais polos produtores de farinha de mandioca do estado. Junto com Macambira e São Domingos, forma a chamada Rota da Farinha, que reúne cerca de 500 casas de farinha reconhecidas desde 2022 como Patrimônio Cultural e Imaterial de Sergipe.
A cooperativa Coofama, com 53 cooperados, produz entre 150 e 200 toneladas de farinha por mês, abastecendo os mercados de Sergipe, Alagoas, Bahia e São Paulo. A exportação representa um novo horizonte para a agricultura familiar da região.
O processo de adequação da produção às exigências internacionais contou com apoio técnico e institucional. A Secretaria de Estado da Agricultura, incentivou práticas de gestão e capacitação, enquanto a Emdagro, em parceria com a Embrapa, introduziu variedades de mandioca resistentes a doenças, garantindo qualidade e produtividade.
“O Estado forneceu assistência técnica, pesquisa e acompanhamento, mas o mérito também é dos produtores, que mantêm a tradição e se adaptam às novas técnicas”, afirma o agrônomo Adailton dos Santos, da Emdagro.
O Sebrae contribuiu com cursos de capacitação e análises de qualidade, preparando os cooperados para atender padrões internacionais. Segundo Arlindo Nery, diretor de Planejamento da Seagri, o mercado europeu valoriza produtos da agricultura familiar por sua qualidade, sustentabilidade e baixo uso de agrotóxicos. “Temos atuado para fortalecer as cooperativas, capacitar produtores e facilitar a entrada nos mercados externos”, destaca.
Trabalho e renda

Para os agricultores, a exportação representa mais que um novo mercado — é uma oportunidade de gerar renda e manter ativa a produção local. O agricultor Felipe dos Santos, 27 anos, conta que a demanda italiana fez crescer a produção e o número de trabalhadores: “Antes produzíamos cerca de 100 sacos por semana; agora são 150. Contratamos mais ajudantes e trabalhamos mais dias na semana”, relata.
A raspadeira Claudeci Silveira confirma o impacto direto na renda das famílias: “A exportação garantiu mais serviço e uma renda extra para muita gente. Foi muito bom porque deu trabalho para quem estava parado”.
Mesmo com o suporte do governo e de parceiros, a cooperativa ainda enfrenta desafios comuns à agricultura familiar, como custos logísticos e necessidade de ampliar o volume de produção para atender contratos internacionais.
Ainda assim, o embarque das primeiras 27 toneladas marca um passo importante para a consolidação da mandioca sergipana no mercado externo, mostrando que um produto artesanal pode competir internacionalmente quando há qualidade, técnica e organização coletiva
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