Por Antônio Carlos Garcia
Aracaju voltou a contar com entregas regulares por drones em áreas povoadas, após autorização inédita concedida pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). A rota escolhida conecta o Shopping RioMar, na capital, a condomínios residenciais em Barra dos Coqueiros (na região metropolitana), sobrevoando o rio Sergipe em um percurso aéreo de menos de quatro quilômetros. O projeto é conduzido pelo iFood em parceria com a Speedbird Aero e marca a expansão do modelo de logística multimodal da empresa, que combina bicicletas, motos, carros, barcos, robôs e agora drones.
A operação, iniciada em 2021 como piloto, retorna em nova fase com capacidade para até 280 pedidos por dia e a inclusão de uma nova aeronave, capaz de transportar até 5 quilos — antes o limite era de 3 quilos. Por terra, o trajeto exigiria 36 quilômetros de ida e volta em meio ao trânsito, levando cerca de uma hora. Pelo ar, o drone completa o percurso em seis minutos, garantindo que o consumidor receba o pedido em até 30 minutos. A chamada “última milha” continua sob responsabilidade de entregadores, que levam o pedido do ponto de pouso até a porta do cliente.
“O iFood é multimodal: combina bicicletas, motos, carros, barcos, robôs e agora também drones para conectar um ecossistema complexo de entregas com precisão. O drone entra para resolver trechos que não fariam sentido para o entregador, que continua sendo alocado em rotas mais produtivas”, explica Rodolfo Klautau, diretor de Logística do iFood.
Tecnologia brasileira
O drone utilizado na rota Aracaju–Barra dos Coqueiros é um modelo desenvolvido no Brasil e operado pela Speedbird Aero. Ele tem capacidade de transportar até cinco quilos, alcança velocidade média de 50 km/h e altitude de 60 metros — o equivalente a um prédio de 20 andares. Todo o voo é monitorado num centro de controle instalados em uma das docas do Shopping RioMar e acompanhado por um centro de controle em Franca (SP). Os equipamentos contém GPS integrado e sistema de paraquedas em caso de emergência.

A aeronave resiste a ventos de até 55 km/h e pode operar sob chuva leve. Nesta fase, dois drones estão disponíveis para a operação, podendo voar simultaneamente conforme a demanda. Para Manoel Coelho, CEO da Speedbird Aero, o avanço é histórico: “A retomada e expansão do projeto em Aracaju é um marco não apenas para o iFood e a Speedbird, mas para todo o setor de mobilidade aérea no Brasil. Trata-se da primeira autorização permanente da ANAC para voos sobre áreas com circulação de pessoas. Estamos muito orgulhosos de liderar esse avanço com uma aeronave nacional de maior capacidade, que torna a operação mais eficiente e robusta.”
O fundador da Speedbird, Samuel Salomão, destacou a escolha estratégica de Sergipe: “A cidade de Aracaju foi escolhida pelas barreiras geográficas, já que o rio Sergipe separa a capital de Barra dos Coqueiros. Criamos uma ponte aérea entre os dois municípios, aproximando os consumidores e trazendo uma solução logística inédita.”
Novas perspectivas
Além da iniciativa privada, representantes da Prefeitura de Aracaju acompanharam a inauguração da nova fase da operação. O secretário municipal de Articulação, Parcerias e Investimentos, Fábio Oliveira Uchoa, afirmou que a capital está aberta a iniciativas que estimulem inovação e atração de negócios. “Estamos aqui apoiando a chegada dessa nova modalidade de transporte, para que parceiros privados enxerguem Aracaju como ela de fato é: um polo aberto a investimentos e parcerias responsáveis, sempre visando o interesse público.”
Rocha acrescentou que o uso da tecnologia não se restringe ao setor privado: “O poder público também pode, no futuro, contar com equipamentos dessa natureza para transporte de exames, medicamentos ou até para atividades na área de segurança.”
O secretário de Inovação e Tecnologia do município, Dilermando Garcia Júnior, que articulou a vinda do projeto, reforçou que a capital sergipana se coloca como vitrine para soluções de mobilidade aérea urbana, atraindo investimentos e fomentando o conceito de cidades inteligentes.

Segundo ele, a tecnologia já mostra ganhos imediatos no tempo de entrega: “Existem pedidos que, mesmo com motoboy, podem demorar até uma hora. Com o drone, esse tempo cai para 8 ou 10 minutos. Isso é uma entrega maravilhosa. O drone não é futuro, o drone já é presente, e precisamos trabalhar isso também no poder público”, afirmou.
Dilermando ressaltou que a inovação tem potencial de uso também em áreas estratégicas, como saúde e segurança pública. “Podem ser transportados exames, diagnósticos, medicamentos e outros itens essenciais, agilizando serviços fundamentais para a população. Para Aracaju, isso é um ganho maravilhoso. Nossa cidade tem sido pioneira nesse projeto no Brasil, e tenho certeza de que é apenas o início, porque muitas novidades ainda estão por vir”, disse.
Ao avaliar o pioneirismo da capital sergipana, ele foi categórico: “Aracaju é uma cidade pequena e, por isso, mais fácil de testar esse tipo de tecnologia. Hoje já somos exemplo para o Brasil inteiro em entregas por drones. E, quando chegar a hora dos voos tripulados, tenho certeza de que também seremos escolhidos como mercado-teste. Estamos trabalhando muito na área de inovação, startups e parcerias público-privadas, alinhados com a visão da prefeita Emília Corrêa, que deseja rapidez, mudança e inovação contínua para a população.”
Expansão e futuro do projeto
Segundo Rafael Corrêa, head de Comunicação do iFood, a rota está oficialmente aberta desde o dia 1º de outubro e já aparece como opção no aplicativo, inicialmente em restaurantes como o Madeiro. “Essa entrega não tem custo adicional para o cliente. É o mesmo valor de uma entrega feita por moto, mas com a conveniência de chegar em muito menos tempo.”
Corrêa explicou ainda que a operação em Sergipe servirá como laboratório para futuras expansões: “O iFood tem a filosofia de testar, aprender e depois expandir. Agora que temos uma rota constante em Aracaju, vamos estudar novos portos na capital e também em outros estados. Mas é sempre importante dizer que os drones são complementares: para distâncias curtas, bicicletas e motos continuam sendo a forma mais eficiente de entrega.”
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