quarta-feira, 05/11/2025
Projeto Sergipe Águas Profundas
Projeto Sergipe Águas Profundas

Sergipe 2050 – A Noruega do Nordeste

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Por Juliano César Souto (*)

 

Sergipe vive um momento decisivo. Com a retomada do Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP) e a implantação da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), o estado tem diante de si a maior janela de oportunidade econômica desde o ciclo da Petrobras. O desafio é transformar a exploração de petróleo e gás em vetor estruturante de desenvolvimento sustentável de longo prazo — como fez a Noruega, que converteu a riqueza do Mar do Norte em soberania energética, industrialização e poupança estratégica.

Senador Laércio Oliveira
Senador Laércio Oliveira durante pronunciamento à bancada (PP-SE). Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

A concretização do Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP) não seria possível sem a atuação firme, persistente e visionária do senador Laércio Oliveira. Ao longo dos últimos anos, enfrentando ceticismo e a lentidão natural da burocracia federal, Laércio manteve uma agenda incansável junto à Petrobras, à ANP e aos ministérios estratégicos, articulando audiências públicas, missões técnicas e reuniões de alto nível para assegurar que Sergipe voltasse ao mapa das grandes reservas energéticas do Brasil. Sua trajetória de resiliência política se confunde com a retomada da agenda do gás e do petróleo em nosso estado — sendo, sem dúvida, um dos maiores responsáveis pela reversão de um ciclo de duas décadas de estagnação. O anúncio da contratação dos FPSOs e a perspectiva de operação do SEAP até 2030 representam o coroamento de um projeto de Estado que ele ajudou a construir e proteger.

Governador Fábio Mitidieri  Foto: César Oliveira

A gestão do Estado de Sergipe nos últimos anos tem sido marcada por responsabilidade fiscal, planejamento estratégico e foco em resultados. Essa trajetória teve início com o governador Belivaldo Chagas, que iniciou o processo de equilíbrio das contas públicas e promoveu reformas importantes para garantir a solvência do estado. A atual gestão do governador Fábio Mitidieri deu continuidade a esse esforço, aprofundando a cultura de boa governança com um time técnico altamente qualificado.

Entre esses pilares, destaca-se o trabalho da secretária da Fazenda, Sarah Tarsila Andreozzi, cuja atuação tem sido determinante para consolidar a credibilidade fiscal de Sergipe junto a investidores, agências de risco e organismos federais. Sua liderança técnica foi essencial para a reestruturação da dívida pública, redução drástica do custo financeiro, criação do Marco Fiscal Estadual e modernização da relação entre Fisco e contribuinte — iniciativas que garantiram previsibilidade orçamentária e libertaram recursos para áreas estratégicas.

Secretária da Fazenda, Sarah Tarsila
Secretária da Fazenda, Sarah Tarsila Foto: ASN/Arquivo

Sarah tem defendido uma visão fiscal que vai além do equilíbrio contábil: ela entende que solidez fiscal é uma condição para o desenvolvimento sustentável, pois permite investir com responsabilidade em infraestrutura, inovação e capital humano. A credibilidade conquistada pela Secretaria da Fazenda tornou-se alicerce para projetos transformadores como o SEAP, a ZPE, as PPPs e o Fundo Soberano — e será decisiva na era pós-Reforma Tributária, em que vantagens competitivas não virão mais de incentivos fiscais, mas de ambiente de negócios, capacidade de entrega e governança confiável. É esse chão firme que sustenta a ambição de transformar Sergipe na Noruega do Nordeste.

A criação da Agência Sergipe de Desenvolvimento – Desenvolve-SE pelo governador Fábio Mitidieri representa um gesto visionário que resgata o melhor da tradição do planejamento público sergipano e o projeta para o futuro. Inspirada na atuação histórica do CONDESE durante a gestão de Celso de Carvalho — quando, sob a liderança do economista José Aloisio de Campos, um corpo técnico altamente qualificado ajudou a repensar a base produtiva do estado —, a Desenvolve-SE retoma essa lógica de Estado planejador, moderno e estratégico. Integrada aos trabalhos da Assembleia Legislativa e em sinergia com o Plano Sergipe 2050, desenvolvido em parceria com a Fundação Dom Cabral, a agência nasce com a missão de catalisar investimentos, estruturar projetos transformadores e articular políticas de desenvolvimento de longo prazo. Trata-se de uma aposta na inteligência institucional, na capacidade técnica local e na governança de futuro — elementos fundamentais para que Sergipe se afirme, nas próximas décadas, como um polo sustentável, inovador e competitivo no Nordeste brasileiro.

O case norueguês inspira não apenas pela gestão eficiente do recurso natural, mas pelo planejamento de Estado, visão de longo prazo e rigor técnico. O fundo soberano, o protagonismo da Statoil (hoje Equinor) e o uso da renda do petróleo para diversificar a economia demonstram que o caminho é possível, mesmo em escalas menores. Embora Sergipe não tenha as mesmas reservas, tem uma base técnica crescente, posição geográfica estratégica, gás em volume relevante e ativos logísticos que podem ser alavancados.

A nova etapa do SEAP, com contratação de FPSOs e operação BOT da SBM Offshore, projeta produção de 120 mil barris/dia e 12 milhões de m³ de gás. Trata-se de um marco. Mas é preciso mais. Para que a exploração offshore gere emprego, renda e inovação em terra, Sergipe deve agir com ousadia, articulação e inteligência territorial.

Nesse contexto, propõem-se 10 ações concretas para transformar Sergipe na Noruega do Nordeste:

  1. Plano Sergipe 2050 – Criar um plano de Estado com metas de longo prazo, governança permanente e participação ativa do setor produtivo, das universidades e da sociedade civil. O plano deve ser institucionalizado por lei e com revisões periódicas.
  2. Mobilizar a DesenvolveSE e os recursos da concessão da DESO – Transformar a DesenvolveSE em catalisadora dos grandes projetos estratégicos de infraestrutura, PPPs e cadeias industriais do gás e energia.
  3. Consolidação da ZPE – Priorizar a implantação da Zona de Processamento de Exportação com vocação energética, química e agroindustrial.
  4. Incentivar polos de transformação do gás – Atrair empresas para uso do gás como matéria-prima, e não apenas como combustível energético.
  5. Apoiar o projeto de Datacenter em Barra dos Coqueiros – Viabilizar a infraestrutura digital e energética de suporte ao datacenter.
  6. Ampliar a integração logística e territorial – Investir em ferrovias, hidrovia, rodovias estratégicas e portos.
  7. Instituir um fundo estadual de longo prazo – Vincular parte dos royalties e bônus a um fundo soberano estadual de poupança, ciência, educação e tecnologia.
  8. Fortalecer o marco ambiental e regulatório estadual – Atuar com agilidade, transparência e segurança jurídica.
  9. Desenvolver competências locais e regionais – Mobilizar instituições de ensino para formar mão de obra qualificada.
  10. Antecipar o cenário pós-Reforma Tributária 2032 – Desenvolver novas estratégias de atração de investimentos com base em ativos reais.

Não há tempo a perder. O fracasso das promessas em torno do potássio, da barrilha e do polo cloroquímico mostra que recursos não bastam — é preciso projeto, competência e ambição. A liderança política e técnica de Sergipe deve assumir o protagonismo, dialogando com a União, atraindo o setor privado e pensando além do ciclo do petróleo. A hora é agora.

Sergipe pode, sim, ser a Noruega do Nordeste.

 

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Textos consultados:

SEAP saindo do papel depois de 15 anos
.https://petronoticias.com.br/sbm-offshore-sai-na-frente-por-disputa-por-contratos-dos-fpsos-de-sergipe-aguas-profundas/

https://www.se.gov.br/noticias/desenvolvimento/sergipe_avanca_em_implantacao_de_data_center_junto_a_ministerio_de_industria_e_comercio
https://www.se.gov.br/noticias/Governo/estado_de_sergipe_possui_a_quarta_melhor_gestao_fiscal_do_pais#:~:text=Destaques%20*%20Indicadores%20de%20seguran%C3%A7a%20contribuem%20para,do%20pa%C3%ADs%20com%20maior%20crescimento%20em%20competitividade.
https://www.se.gov.br/noticias/governo/resolucao_do_governo_de_sergipe_fortalece_politica_de_responsabilidade_fiscal
https://sergipe.se.gov.br/index.php/noticias/governo/sefaz_divulga_nova_rodada_de_classificacao_do_programa_amigo_da_gente

Governo de Sergipe garante áreas para operacionalização da ZPE

Al Gore: o Brasil é o epicentro e a maior oportunidade da nova economia verde – NeoFeed

https://www.blogluizeduardocosta.com.br/noticias/sergipe-podera-sobreviver-sem-depender-da-petrobras.html
https://docs.google.com/document/d/1oi9etg_o2pj1CAIezUg_aNRQXTVT4e3BqyM81kJuKcY/edit?usp=drivesdk

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Sobre Juliano César Faria Souto

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Estanciano, 61 anos, Administrador de Empresas graduado pela Faculdade de Administração de Brasília, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Atua como sócio-administrador da FASOUTO, empresa do setor atacadista distribuidor e autosserviço.

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