quarta-feira, 19/11/2025
Congresso
MP que taxa bets, bancos e bilionários foi derrubada na quarta-feira, 8 Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

É o Congresso, estúpido

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Por Luciano Correia (*)

 

Já virou lugar comum repetir um comentário feito em 1992 pela equipe de marketing da campanha de eleição de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos. Quando se debatiam estratégias eleitorais para um discurso do candidato, alguém lembrou de forma peremptória que nada daquilo que se discutia tinha relevância no presente momento da política norte-americana. O que importava na cabeça do eleitor, de fato, era a economia e a forma como ela poderia melhorar ou piorar sua vida.

Aqui em terras de Pindorama, a mesma constatação pode ser atribuída a um segmento da sociedade brasileira que se tem revelado, dia após dia, ato após ato, um verdadeiro inimigo do povo. A população já percebeu isso e deu uma enfática resposta no dia 21 de setembro, quando voltou às ruas depois de muito tempo para dizer que cansou de um congresso feito majoritariamente de bandidos, incluindo gente envolvida com o crime organizado e o narcotráfico.

A canalhada que compõe hoje o Congresso Nacional compreendeu o recado e fez um recuo estratégico, em nome da salvação de sua intocável pele. Tanto que assistimos, ainda no domingo da virada, a uma série de deputados fazendo publicamente um mea-culpa, mesmo contrariados por dentro, mas pensando nos seus emputecidos eleitores. Mas a docilidade exibida não chegou à esquina: na noite da última quarta-feira (as patifarias sempre na madrugada!), por maioria folgada, esse Congresso de reputação duvidosa derrubou medidas de compensação tributária para garantir benefícios para a população. Por pirraça? Não: por dinheiro.

A principal fonte dessa compensação tributária eram as chamadas Bets, a bilionária rede de apostas eletrônicas que atua dentro e – algumas – fora das quatro linhas, incluindo corrupção de jogadores e juízes para alterar resultados de jogos. Pra refrescar a memória, vale citar os casos de Lucas Paquetá e Bruno Henrique, atolados até a alma em atos de corrupção para favorecer apostadores. Mas as Bets hoje mandam e desmandam, com tanto dinheiro em caixa, praticamente sem pagar impostos.

Quando uma tentativa pequena é submetida ao parlamento, mínima que seja, de arrancar um tiquinho de impostos para financiar serviços para a sociedade, a reação é o que se viu: o mugido grosso de uma gente desonesta que trabalha diariamente contra a população na base da mentira sistemática. Dessa vez, a mentira foi dizer que o projeto que eles derrubaram aumentava impostos para o povo. Mentira, mentira, mentira! A medida tirava um naquinho das Bets e dos bilionários bancos. Uma mentira inclusive repetida pela velha e venal mídia corporativa.

Quinze dias depois de uma lição dada nas ruas, a canalhada não só mostra que não aprendeu nada, como volta sua fúria contra o país e o povo. A trama da madrugada dessa quarta mostra também o descompromisso de um congresso de costas para as funções de um parlamento, desprezando todas as pautas do interesse da sociedade para antecipar uma eleição que só vai acontecer daqui a doze meses. Uns irresponsáveis que confiam eternamente na impunidade.

Pelo conjunto da obra nefasta de um congresso desses, não sobram muitas alternativas aos que lutam por um país decente, de modo que na discussão sobre medidas para resolver os problemas do país, já não importam algumas causas que neste momento soam como paliativos diante do estrago feito por um poder apodrecido. O centro dos problemas do país está aí, nessa casa tornada espúria por deputados-bandidos. Não que seja a única fonte dos problemas, mas é o principal, que deve ser combatido com igual fúria, pelo voto, nas eleições do próximo ano. Essa é a prioridade zero da gente de bem, independente de partidos ou tendências políticas.

 

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Sobre Luciano Correia

Luciano Correia
Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

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