Por Luciano Correia (*)
O golpe para emparedar o governo Lula começou há duas semanas com uma decisão inconstitucional do pior Congresso da história brasileira. Por muito menos, ou melhor, por algo que nem era ilegal nem inconstitucional, o esgoto nacional em que se transformou o parlamento brasileiro deu um golpe e derrubou o governo Dilma. Esse Hugo Motta é um somatório de tudo de ruim que passou naquela cadeira nos últimos anos, um Frankstein político feito das costelas de Michel Temer, Eduardo Cunha, Arthur Lira et caterva.
Com Lula não vai haver impeachment. É um golpe branco, a conta-gotas, com o saco de maldades sendo aberto todos os dias sob as mais estapafúrdias desculpas. Lula sangrará em praça pública até que seu governo chegue às eleições do próximo ano exaurido de popularidade, virtualmente condenado a uma derrota. É verdade que ele, o governo, também trabalhou pra isso. Trabalhou não é bem o termo. O melhor seria: deixou de trabalhar conquistas efetivas que fizessem o pobre homem comum lembrar do 13 naquele momento solitário em que se encontrará, ele e sua consciência, diante da urna eletrônica.
Apostar em ações como estender a isenção de imposto de renda até cinco mil reais de salário é uma pechincha que não anima nem a chamada militância. O governo Lula 3 não fez nem uma cosquinha no bolso da patrãozada e quando tentaram arrancar 1 por cento de imposto da zelite econômica, a Faria Lima começou a planejar a patifada. Sem a benevolência dos ricos, o churras voltou a ser de coração de galinha e Pitu. E se algum remediado conseguir embarcar num aeroporto, a patroa faz vídeo esculachando essa infâmia. A classe C desembarcou do Paraíso.
Nunca o país precisou tanto da liderança e experiência de Lula, mas ele parece vencido pelo tempo, cansaço e pela mediocridade de seu entorno, a começar por um ministério pífio, alguma coisa da Série D, pra ficar nas metáforas futebolísticas que o presidente gosta. Ao seu lado tem uma mulher bonita, que encantou seu coração e trouxe companhia íntima no momento mais difícil de sua vida. Parabéns para o casal, e que só a morte os separe. Mas misturar vida privada com República é coisa de amadores. Janja não tem cargo nem função pública. Mas se sente tão poderosa que ignora formalidades. Interrompe uma reunião com o maior chefe de Estado do mundo, na casa dele, pra palpitar sobre Tik Tok. E Lula não faz nada!
O país assumiu na quinta feira a presidência do Brics. O Brics é a única coisa boa que aconteceu do lado de baixo do Equador nas últimas décadas, ou no Sul Global, para ser exato. Não se trata de escolha ideológica, mas de aposta no futuro. Mas o Brasil cada dia mais encolhe dentro dos Brics, sob o silêncio constrangedor dos grandes líderes emergentes. Os chefes de estado de China e Rússia, dois grandes, não vieram para a cúpula do Rio de Janeiro. Mandaram a burocracia diplomática. É a maneira silenciosa e educada de responder a um país acovardado, tomado pelos ladrões do Centrão e da extrema direita, com um governo inerte, vendo a água correr pelo ralo sem uma medida, uma palavra sequer.
Quando o Brasil vetou a entrada da Venezuela nos Brics, o país encolheu ainda mais no conceito internacional de uma grande nação. Vivemos a reboque de Europa e Estados Unidos, apequenados, com Lula perdendo tempo em tirar selfie com figuras abjetas como Macron. Nossa diplomacia é raquítica, de um país que optou em ser sempre uma república de bananas. Quem elegeu Lula foi a diversidade de uma frente muitíssimo maior do que o PT, gente de bem que não queria Bolsonaro nem deseja ver o país cair na mão de outras versões do infame entreguista FHC. Essa gente é quem sustenta nossa democracia. Quando a derrubada de Dilma avançou, assistimos ao rugido grosso do MST prometendo abalar céus e terra contra o golpe. Eu mesmo imaginei as ruas vermelhas tomadas de foices e martelos pela resistência. O que se viu foi o nada absoluto, a covardia cúmplice de lideranças e parlamentares que contaram seus trinta dinheiros de emendas e optaram pelo deixa-disso. Novamente, essas oligarquias das oposições permanecem de bundas sentadas nos gabinetes, enquanto a democracia definha sob um céu de nuvens pela frente. “Lá vem o Brasil descendo a ladeira.”