sábado, 30/11/2024
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Foco no agronegócio Foto: CNA/Wenderson Araújo/Trlux

Agronegócio brasileiro tem superávit de US$ 9,3 bilhões em fevereiro de 2022

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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quarta-feira (23/3), os dados de fevereiro de 2022 do comércio exterior do agronegócio brasileiro que mostram que houve saldo positivo de US$ 9,3 bilhões na balança comercial do agronegócio. As exportações do setor fecharam fevereiro em US$ 10,5 bilhões, com aumento de 64,5% na comparação com mês do ano passado, e o valor das importações foi de US$ 1,2 bilhão, com aumento de 2,0% frente a igual mês do ano anterior. Para a balança comercial total (com produtos de todos os setores), os resultados apontam superávit de US$ 4,0 milhões, conforme tabela abaixo:

Balança comercial, total e agronegócio — mensal (fevereiro)

Setores Exportações Importações Saldo (US$ bilhões)
Fev./2021 (US$ bilhões) Fev./2022 (US$ bilhões) Variação (%) Fev./2021 (US$ bilhões) Fev./2022 (US$ bilhões) Variação (%) Fev./2021 Fev./2022
Total 16,4 22,9 39,9 14,5 18,9 29,7 1,8 4,0
Agronegócio 6,4 10,5 64,5 1,2 1,2 2,0 5,2 9,3
Demais bens 10,0 12,4 24,2 13,3 17,6 32,3 -3,3 -5,2
Part. do agronegócio % 39,0 45,9 8,4 6,6
Fonte: Comex Stat/Secint. Elaboração: Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea.

Os resultados acumulados em doze meses se mostraram ainda mais expressivos. O valor das exportações do agronegócio teve alta de 27,1% ante igual período do ano anterior e o valor das importações de 8,0%, contribuindo para a alta de 30,1% no saldo da balança comercial do setor, o que corresponde a US$ 113,6 bilhões neste período.

A alta do valor das exportações no mês de fevereiro é justificada, em parte, devido à forte elevação dos preços internacionais das principais commodities da pauta exportadora brasileira. O preço internacional da soja e do milho estão próximos das máximas históricas. Como resultado, em fevereiro, o valor mensal das exportações ficou acima do registrado em qualquer mês de 2019 e 2020.

A alta dos preços internacionais da carne bovina e a demanda aquecida devem contribuir para a manutenção dos altos valores das exportações desse produto em 2022. Já a exportação de carne suína foi impactada pela queda nos preços internacionais, motivada pela redução das importações chinesas, país em que este rebanho tem apresentado recomposição. Em fevereiro, os envios de carne suína brasileira para China caíram 48% em relação a fevereiro de 2021. A queda que foi parcialmente compensada pelos demais destinos, todavia, fechou com volume exportado 12,7% inferior ao de fevereiro passado.

O café apresentou crescimento das quantidades exportadas, após quedas mensais seguidas entre julho de 2021 e janeiro de 2022. A exportação ajudou a conter o viés de valorização dos preços que durava desde o fim do ano passado e se agravou com a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Além da alta em valor na maior parte das commodities exportadas, dez dos quinze produtos acompanhados pelo Grupo de Conjuntura da Dimac também apresentaram alta na quantidade exportada. A principal contribuição para o desempenho de fevereiro vem do complexo da soja e da carne bovina, com as maiores variações em relação a fevereiro de 2021: soja em grãos (137,0%), farelo de soja (52,8%), óleo de soja (30,0%) e carne bovina (42,0%). Apesar desse desempenho positivo da soja no início do ano, reflexo do recorde de safra e aumento dos estoques na safra 2020/2021, a estimativa de queda de produção para a safra atual — prevista pelo IBGE e a Conab — tende a prejudicar a quantidade exportada do produto e de seus derivados em 2022.

Assim como as exportações, as importações do agronegócio em fevereiro também apresentaram alta, com crescimento de 2,0%. O destaque foi o trigo, principal produto da pauta, com crescimento de 10,9% em quantidade e 26,5% em valor. A alta nos preços internacionais do grão vem sendo observada após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, dois dos maiores exportadores do produto. Mesmo com a estimativa de crescimento de 2,6% da produção brasileira estimada pela Conab, a demanda doméstica continuará não sendo atendida pela produção nacional e, por isso, as incertezas frente à produção e comercialização mundial do produto gerarão consequências para o mercado doméstico brasileiro este ano, principalmente nos produtos que usam o trigo como insumo, como pães e massas.

A nota reforça que há dois fatores que têm contribuído para mudanças significativas no comércio mundial de commodities. O primeiro se refere às mudanças climáticas e outros fenômenos como a La Niña e as estiagens que impactaram principalmente a produção de grãos, açúcar, café e proteína animal. O outro motivo relaciona-se à incerteza quanto à oferta de diversos produtos comprometidos pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Países no entorno do conflito, como Bulgária e Hungria, reduziram ou suspenderam as exportações de grãos devido ao risco de desabastecimento interno. Em consequência, os preços dos ativos energéticos, metálicos e grãos sofreram fortes altas em março. Enquanto isso, as demais soft commodities, como açúcar, café, cacau e até mesmo a carne bovina, interromperam a sequência de altas, revertendo em queda, devido a sua menor essencialidade em um cenário de conflitos.

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