Em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, setor de transporte dá início à programação do projeto Proteção
Mais de 370 milhões de meninas e mulheres vivas hoje sofreram estupro ou abuso sexual antes dos 18 anos, e entre meninos e homens, as estimativas variam de 240 a 310 milhões, segundo dados divulgados em outubro do ano passado pelo Unicef. Diante dessa realidade alarmante, que há anos viola os direitos de crianças e adolescentes, o setor de transporte, por meio da Fetralse e do Sest Senat, criou em 2016 o projeto Proteção. A iniciativa visa capacitar profissionais do setor, conscientizar a sociedade com ações socioeducativas em parceria com órgãos e entidades públicas e incentivar a denúncia dos casos.
Com 60 unidades protetoras do Sest Senat no país, Aracaju intensifica neste mês ações em defesa de crianças e adolescentes silenciadas pela violência. A programação inclui palestras, cine-debates, rodas de conversa, campanhas digitais e distribuição de panfletos. A mobilização do setor de transporte no combate à exploração sexual infantojuvenil conta com a parceria do Ministério Público de Sergipe, PRF, escolas, unidades de saúde, Conselhos Tutelares, secretarias estaduais e municipais, entre outros órgãos.
“Nós acreditamos que essa causa também é responsabilidade do setor, que sempre está envolvido com pautas relevantes para a sociedade. Por isso, estamos juntos para combater qualquer tipo de exploração infantojuvenil e também incentivar a sociedade a denunciar e não se calar diante do crime”, evidencia o presidente da Fetralse e do Conselho Regional do Sest Senat Nordeste III, Alberto Almeida.
A coordenadora do Sest e também ponto focal do projeto, Luciana Melo, destaca que “o Proteção assegura os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. O setor de transporte é essencial nesse processo, já que seus profissionais circulam por diversas regiões e podem atuar como agentes de observação e denúncia.”
O projeto conta com a parceria oficial da Childhood Brasil, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que integra a World Childhood Foundation, presente nos Estados Unidos, Suécia e Alemanha. A entidade atua com empresas e governos, oferecendo estratégias para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes. Há nove anos, o Proteção faz parte do programa Na Mão Certa, iniciativa da Childhood voltada à mobilização de caminhoneiros e empresas do transporte no enfrentamento da exploração sexual infantil.
Para o motorista do transporte público coletivo de passageiros da empresa Atalaia, Cleiton Santos, essa ação evidencia o compromisso do setor com a responsabilidade social, por meio de um tema fundamental que impacta diretamente a sociedade.
“O abuso sexual é um crime covarde, e a sociedade precisa entender isso e agir. Nós, motoristas, também somos treinados para atuar na proteção de crianças e adolescentes. É essencial que todos façam sua parte, denunciando, orientando e rompendo o silêncio que ainda encobre muitos casos. A omissão também é uma forma de violência, e os motoristas, por estarem nas ruas diariamente, podem ajudar a identificar sinais e combater esse crime que tanto afeta nossa sociedade”.
Entenda o perigo
A violência sexual contra uma criança refere-se a ‘qualquer ato deliberado, indesejado e não essencial de natureza sexual, consumado ou tentado, que seja perpetrado contra uma criança, inclusive para fins de exploração, e que resulte ou tenha grande probabilidade de resultar em lesão, dor ou sofrimento psicológico’. Luana Nascimento é psicóloga clínica, especialista em neuropsicologia do Sest Senat há 2 anos e neste ano compõe a equipe protetora do projeto na unidade de Aracaju.
Ela relata que a maioria dos casos de abuso sexual ocorre no ambiente familiar ou é cometida por pessoas de confiança. A especialista explica que o abusador pode ter histórico de violência sexual sofrida, transtornos mentais, ter crescido em um ambiente violento ou não ter sido educado sobre consentimento e limites do próprio corpo. No entanto, ela ressalta que esses fatores não justificam nem determinam, isoladamente, a prática do crime.
A psicóloga também afirma que “é importante entender que o abusador desenvolve esse comportamento criminoso como um hábito. Por isso, é essencial estar atento aos sinais comportamentais de crianças e adolescentes, mesmo que não relatem diretamente. É fundamental proteger a vítima com urgência, buscar apoio profissional e denunciar o agressor, evitando novas violações”.
As unidades protetoras do Sest Senat ficam responsáveis por capacitar os colaboradores de outras unidades para formar equipes aptas a combater efetivamente o crime. A meta da instituição, que compõe o sistema de transporte, é que até 2028 todas as unidades estejam capacitadas e certificadas para atuar na proteção dos direitos e da dignidade da vida de crianças e adolescentes.
Na internet
O setor de transporte sempre teve a internet e as tecnologias como aliadas na melhoria da prestação do serviço aos passageiros. Diante da exploração sexual de crianças e adolescentes, o segmento mobiliza a sociedade disseminando a importância de utilizar a internet como ferramenta de denúncia desse crime.
“Nós fazemos um apelo à sociedade para denunciar esse tipo de conteúdo na internet, utilizando o próprio ciberespaço. A pornografia infantil, além de crime, é um ‘câncer’ virtual que movimenta bilhões às custas da dignidade e inocência de crianças e adolescentes”, afirma Paulo Miranda, gerente de tecnologia da informação do setor de transporte.
Paulo complementa que “para denunciar esse tipo de crime na internet, você pode acessar o Hotline https://www.denuncie.org.br/, informar o endereço virtual da página com o conteúdo ilegal e seguir os passos indicados na plataforma. A denúncia é anônima e pode ajudar a colocar muitos criminosos atrás das grades.”
Além da internet, se você testemunhar ou presenciar uma situação de exploração sexual infantil contra crianças e adolescentes, entre em contato com um dos seguintes canais:
Polícia Militar: 190
Polícia Rodoviária Federal (PRF): 191
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (Disque Direitos Humanos): 100