terça-feira, 19/03/2024

Redes sociais viram aposta para mulheres negras investirem no empreendedorismo

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Paulo César Santana (*)

Karina Costa tem o próprio nome estampado na marca
Foto: Anderson Adler

Nos negócios administrados por microempreendedoras negras, as redes sociais e os aplicativos de mensagens têm sido importantes aliados na divulgação de peças, marcas e/ou de serviços conduzidos por elas. É com o smartphone na palma da mão que vêm descobrindo um poderoso instrumento capaz de, não apenas, turbinar as vendas, mas contribuir para geração de espaços de visibilidade, em contraste ao que comumente encontram no mercado tradicional, cuja discriminação, não raramente, passa a ser dupla por envolver também o preconceito de gênero.

Os interesses por trás da iniciativa online são variados e podem ou não estar ligados ao desejo do empoderamento da cor da pele. Uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), pedida e divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, em outubro do ano passado, mostrou que a necessidade é a principal razão de 49% das empreendedoras negras no país iniciarem suas empreitadas. Com mulheres brancas, o percentual revelado foi de 35%.

O marketing a baixo custo, maior fidelização, conveniência e praticidade aos clientes, assim como o engajamento de seguidores, são alguns dos aspectos que demonstram as vantagens do meio, especialmente para mulheres com esse perfil e que objetivam a criação e expansão de negócios próprios. Além do mais, o mundo dos algoritmos facilita a identificação do público-alvo, por meio de ferramentas que permitem a localização e o direcionamento das vendas a determinados grupos.

Além de dirigir a ExpoAfro, Stael Moura gerencia as marcas Rosa Mística e Select Closet

Nesse cenário, Karina Costa acredita que foi a vocação que a fez adentrar no ramo, iniciado com roupas e outras mercadorias, até descobrir a paixão pela venda de joias, semijoias e relógios. A servidora pública, que já teve loja física, diz que não abre mão das mídias digitais na hora de comercializar suas peças. “Eu uso as redes sociais há muito tempo, desde que me ensinaram a usar o WhatsApp, Instagram e outros, e as vejo como meios muito bons no sentido de gerar propaganda. Com a pandemia, o online se tornou ainda mais essencial pra mim”, contou a empreendedora que tem o próprio nome estampado na marca.

De acordo com Karina, a simples opção de entrega, a qual passou a disponibilizar para suas clientes, foi suficiente para o aumento das vendas nos últimos meses, impactados pela pandemia do novo coronavírus. “No início é preciso ter disposição para enfrentar, correr atrás, não deixar o cliente sem resposta e de muitas vezes não ter horário, mas o resultado vem”, reforçou. Com o lucro das vendas, ela já conseguiu realizar viagens e custeou parte de uma cirurgia para a mãe, o que comprova a rentabilidade do negócio.

Em se tratando de entidades, a ExpoAfro – Exposição de Cultura Afro Sergipana – iniciativa que busca promover visibilidade ao afroempreendedorismo no estado, passou a investir no ambiente digital por meio de uma página na internet onde são expostos os produtos e o contato das respectivas empreendedoras. De acordo com a diretora do coletivo, Stael Moura, o propósito foi viabilizar as vendas durante as limitações impostas pela fase de quarentena.

“A exposição sempre esteve voltada ao desenvolvimento social, cultural e pessoal da população negra de Sergipe. Entretanto, como esse objetivo foi atrapalhado pela pandemia, pois as nossas programações ocorriam sempre a cada três meses, resolvemos estimular o nosso público para a venda através do site e com isso romper a objeção do online, fazendo com que as redes de contato sejam expandidas”, comentou Stael que também é criadora e gerenciadora das marcas Rosa Mística e Select Closet.

Para Simone Souza, conhecida entre seus clientes como Odara, o foco é o empreendedorismo como ferramenta afirmativa e de valorização da cultura afro. Criada há três anos, a Afrodara permanece virtualmente ativa, enquanto os planos para a abertura de sua loja física aguardam o fim da pandemia. “Minha ideia já era de começar pelas redes, iniciando no meu perfil pessoal no Facebook e indo depois para o Instagram, onde consegui vender mais. O intuito foi somar ao mercado e não, competir. Por isso faço tudo do meu jeito, sem perder o diferencial que é a proposta de enaltecer e empoderar outras mulheres”, comentou a idealizadora.

Fundadora da loja virtual Afrodara, Simone Souza carrega o orgulho pela raça

A ausência de mão de obra e de materiais e meios para fazer com que os produtos cheguem às mãos mais facilmente são algumas das dificuldades relatadas pela empresária, além dos mais recentes obstáculos decorrentes da crise gerada pela covid-19. Ainda assim, Odara diz acreditar no poder de visibilidade possibilitado pelo ambiente virtual e reforçou ser necessária a busca pela capacitação. Ela, que também integra a ExpoAfro, fez a opção pelo curso do Sebrae, voltado ao empreendedorismo online, e se prepara para aprimorar seus conhecimentos, agora, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).

“Posso dizer que me encontrei ainda mais como mulher negra depois da minha loja. Tenho outras ideias para elevar mais o meu negócio e sempre estou buscando qualificações através da própria internet. Para mim, o empreendedorismo negro, a cada dia, está se destacando nacionalmente, por isso fico muito feliz em fazer parte desta construção de desenvolvimento”, completou Odara.

Para Nadjane dos Santos, idealizadora da Lua Sol, empreendimento voltado ao comércio de acessórios e semijóias, o empreendedorismo veio com o diagnóstico de crise de ansiedade, recebido há pouco tempo. Ela, que começou a montar suas próprias peças em 2010, optou pelas mídias digitais com a finalidade de tornar o seu produto ainda mais visível. Hoje, ela enxerga positivamente o modelo de negócio.

Trabalhando com acessórios e semi jóias, Nadjane dos Santos tem satisfação em montar suas próprias peças

“Atualmente eu uso o Facebook e Instagram e pretendo entrar em outras redes depois que tiver um domínio maior, pois elas têm ajudado tanto nas vendas quanto no relacionamento com minhas clientes. Acredito que o meio online dá muita visibilidade à mulher negra porque ela pode ganhar voz e defender uma causa, seja do empoderamento, da autoestima, entre outras coisas. É uma rede onde se fala pra muita gente, diferente de você estar num espaço físico onde sabemos que ainda existe o preconceito que, infelizmente, está enraizado na nossa cultura”, disse a empreendedora.

Os maiores empecilhos do ramo, segundo Nadjane, estão em conquistar a confiança dos clientes e a disposição de tempo para, prontamente, sanar dúvidas e atender às demandas. Ainda assim, a empresária acredita que o asseguramento da qualidade dos produtos ofertados, assim como estar habilitado para este tipo de negócio, contribue na hora de espantar as dificuldades e atrair atenção para a marca.

“Fiz e continuo fazendo cursos online, assim como participando de oficinas e palestras, pois acredito que é um universo (virtual) muito grande, onde é preciso estar sempre se qualificando, principalmente na parte de redes sociais que mudam, constantemente, com novos jeitos de interagir, e nós precisamos acompanhar essas tecnologias, aprendendo e colocando em prática”, ressaltou.

Outros bons exemplos

 

 

Ainda que não estejam ligados, diretamente, ao empreendedorismo e empoderamento de mulheres negras no campo da web, três importantes e recentes acontecimentos ilustram o início de uma mudança positiva num cenário em que, histórica e majoritariamente, homens e mulheres brancos têm assumido o protagonismo.

No último dia 18, a rede Magazine Luiza anunciou que aceitará apenas candidatos e candidatas negros em seu Programa de Trainee para o ano que vem, exemplo seguido pela multinacional Bayer em sua seleção própria. Ambas atitudes, segundo juristas, têm respaldo no que regem os artigos 3⁰ e 5⁰ da Constituição Brasileira.

Outra importante conquista é a presença da idealizadora da Feira Preta, Adriana Barbosa, entre os 22 Inovadores Sociais do ano, em todo o mundo. O anúncio ocorreu na última terça (21), durante a edição online da Cúpula de Impacto e Desenvolvimento Sustentável do Fórum Econômico Mundial (FEM). Ela e o empreendedor Guilherme Brammer Jr., da empresa Boomera, são os únicos brasileiros que aparecem na lista, sendo Adriana a primeira negra a fazer parte da Rede Schwab para o Empreendedorismo Social, comunidade pertencente ao FEM e que engloba outros 26 empreendedores do país.

 

 

 

 

(*) Estagiário sob orientação do jornalista  Antônio Carlos Garcia

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