Por André Brito (*)
Dia desses me peguei comprando algumas coisas pela internet. Confesso que tenho apreço por esta prática de compras. Não consigo ver umas tentaçõezinhas e já vou me jogando no pix. Rapaz, mas também parece que existe um robozinho que fica escutando você pelo telefone e enviando “promoções” de produtos sobre os quais se comentam no dia a dia. Eu não duvido que haja algo do tipo. Não é possível coincidir tanta coisa. Falou no produto, apareceu na timeline.

Foi quando, numa dessas compras, eu estava rebobinando a fita da memória (muita gente nem vai entender o que é rebobinar a fita…rsrsr) e lembrei o quanto era bom, nos tempos de criança, ir com minha mãe comprar as roupas para festa de fim de ano. Saíamos de casa em direção à rua Santa Rosa, e encarar aquele mundo de barracas que invadiam a via até se perderem de vista. Roupa e mais roupa e mais roupa e mais roupa. Cada jeans feio… mas era tudo novinho. Os olhos brilhavam. As marcas eram imitações de outras consagradas no mercado. Mas quem ligava? Roupa era roupa. Vestia? Tava massa!
Minha mãe fazia questão de percorrer infinitamente as barracas. Tinha que conferir qual o preço mais acessível. De mãos dadas, íamos na nossa quixotesca aventura, indo e voltando naquela rua que parecia não mais acabar. Assim se passavam as tardes de compras. Ao final, as roupas em sacolas de plástico de feira e os sorrisos mais abertos que o horizonte nos conduziam pra casa como se estivéssemos num tapete mágico, voando livres, em pleno sonho.
Não havia glamour nos preços, não havia marcas de ostentação, não havia redes sociais para postar. As roupas eram simples, baratas, até com durabilidade não tão extensa. Mas eram compradas com tanto carinho que pareciam saídas de algum desfile de Paris ou Milão.
E nessa odisseia de volta no tempo, pude perceber que nunca foram as roupas que traziam aquela felicidade. Tudo era alegre porque estávamos de mãos dadas caminhando pela rua Santa Rosa. Mas também não era a rua. O que tornava tudo mágico era a presença dela, da minha mãe Salvelina.
Hoje, graças a Deus, posso comprar quase tudo que quero, da marca que desejo. Só que não é a mesma coisa. Percebo que nunca foi sobre comprar. Era sobre estar perto dela. Sobre fazer tudo com aquela alegria e capacidade de transformar a realidade à nossa volta. Agora entendo como o amor sempre foi o ingrediente principal de tudo que era feito. Agora entendo como ovo frito se transformava em caviar.
Excelente texto. Gostei muito pois me fez lembrar da minha infância em Laranjeiras com minha mãe Terezinha, Teca pros íntimos, mas pra mim era apenas mainha. Parabéns pelo trabalho e pelas lembranças.