sábado, 20/04/2024
Sede da Lumen Games, no bairro Atalaia: de Sergipe para o mundo

Lumen Games, empresa de Aracaju, desponta no mercado internacional de games

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Tiago Melo, CEO da Lumen Games: mercado internacional

Desenvolver ferramentas internas, elaborar jogos mais rapidamente, ser mais eficiente e mais competitivo no mercado internacional.  Esses são os principais objetivos da empresa sergipana Lumen Games, selecionada no edital Fundeci 01/2019 –Subvenção Econômica para Inovação em Empresas da Região Nordeste e do Norte dos Estados do Espírito Santo e Minas Gerais, do Banco do Nordeste do Brasil.

Fundada em 2004, a Lumen Games, fabricante de jogos, “tem uma longa história de dificuldades e problemas”, diz o CEO da empresa, Tiago Melo. É bom que se diga que as conquistas e vitórias não vêm sem esforços e dedicação. “Tivemos altos e baixos, a empresa chegou à beira da falência várias vezes. Já precisei me desfazer de patrimônio próprio para investir. São dificuldades que não se vê quando se está numa boa”, ensina.

Leia também: Empresas sergipanas são selecionadas no Edital Fundeci do BNB

Passados os problemas, hoje a Lumen está entre uma das mais importantes empresas do mercado de games internacional e tem produtos em todos os países do mundo. Atualmente, a Lumen, cuja sede fica no bairro Atalaia (isso mesmo, aqui em Aracaju!), está desenvolvendo o jogo The Goldbergs: back to the 80s, numa coprodução internacional para a série de TV The Goldbergs, exibida pelo canal ABC, nos Estados Unidos.

“Nessa coprodução internacional, temos um parceiro em Vancouver, no Canadá, um em São Francisco, nos Estados Unidos, fazendo design, e um diretor de arte em Berlim. Estamos nessa equipe para fazer esse jogo dar certo e esperamos que ele esteja no ranking dos que mais fatura no mundo inteiro. Esperamos chegar ao Top 100. Será uma recompensa e tanto”, acredita Tiago Melo.

A mão de obra da Lumen – 23 colaboradores – é sergipana e todos os jogos são produzidos na empresa. “Nós terceirizamos alguma parte da produção, mas a maioria do desenvolvimento é feito aqui”, orgulha-se Tiago Melo, ao frisar que, atualmente, a empresa segue firme no mercado internacional.

Hempire: jogo desenvolvido pela Lumen

Um dos primeiros trabalhos internacionais da Lumen e que teve sucesso no mundo inteiro foi o Hempire, o jogo de cultivo de plantas. “Esse  seria o maior jogo de plantação de maconha do mundo. Nós o desenvolvemos aqui, mas hoje ele não é mais nosso”, disse Tiago.  Em maio de 2016, o CEO da Lumen concedeu uma entrevista ao site Overloadr onde fala sobre o Hempire e você pode ler clicando aqui. 

Foi em 2007, portanto três anos depois de fundada, que a Lumen Games começou a prestar serviços internacionais para uma empresa da Finlândia. “Começamos a receber em dólar, a pagar melhor nossos colaboradores e iniciamos nossa expansão a partir daí. Também começamos a participar de eventos internacionais e hoje temos no nosso calendário quatro eventos que vamos todos os anos: em San Francisco, Vancouver, Alemanha e Paris”, disse.

São eventos grandes sobre games “e desde que eu comecei a participar deles, as coisas mudaram bastante. Nos últimos quatro anos começamos a crescer e pegar projetos de porte, muito maiores do que tínhamos antes”, completa. Tiago tem uma turma jovem de colaboradores.

Aposta nos jovens

“Todo mundo é jovem e a experiência de mercado é muito difícil. Tem poucas pessoas com experiência no mercado aqui na cidade, mas não é uma indústria nova.  O mercado de hoje não é o mesmo do ano passado. O mercado de 2020, na nossa indústria específica, que é a de jogos gratuitos para celulares, eles mudam a cada seis meses. Então a experiência não é tão importante quanto pensar fora da caixa, quanto pensar em coisas diferentes, em inovações que ninguém nunca pensou para aquele problema”, observa.

Os colaboradores da Lumen Games

Ele garante que o que se faz lá fora (no exterior) em termos de jogos, a Lumen também consegue fazer. “Nossos profissionais são acostumados a buscar soluções para problemas que eles nunca viram antes. Por exemplo: como é que a gente vai fazer num jogo de cartas, que tal carta brilhe de forma específica? Como vamos colocar esse tipo de animação neste personagem? Não sei. Não é a Lumen quem vai dar essa informação. Nós vamos buscar lá fora e trazer esse conhecimento. E aí um colaborador que acabou de entrar na empresa me pergunta: ‘como fazer isso, eu acabei de entrar aqui?”. “E eu respondo: Sei que você vai fazer mesmo assim”.

O ambiente de trabalho na Lumen Games é totalmente descolado. As pessoas têm que cumprir suas obrigações, mas na empresa tem uma mesa de bilhar, onde o colaborador pode se distrair um pouco. Enquanto algumas empresas exigem determinados tipos de roupas para o trabalho, na Lumen os colaboradores ficam à vontade nesse quesito, camiseta, bermuda ou outro. Tudo para que todos se sintam em casa.  Em terminado momento, todos fazem ginástica laboral, se descontraem, jogam um pouco de bilhar e depois voltam ao trabalho. Na sexta-feira, no final expediente,  mais um bate-papo legal,  desta vez, regada a uma cerveja gelada que ajuda a relaxar.

“Você vê o escritório do jeito que está hoje, os projetos que estamos desenvolvendo, o alcance internacional que conseguimos. Mas veio de um longo caminho, de muitos erros, fracassos. Muito menos acertos. Eu sempre falo que os fracassos e os erros são muito mais importantes – e reforçamos bastante – do que os acertos. Os acertos são ótimos, mas são os erros que permitem melhorarmos lá na frente”, diz Tiago.

Ele frisa que ao falar com outros empreendedores, com os que estão abrindo a própria empresa, alerta que os erros que eles vão cometer são os mais importantes. “Você pode aprender com os erros de outras pessoas, mas não vá querer olhar o acerto do concorrente. Porque quando você olha para aplicativos como I Food e Uber você só vê os acertos, mas não sabe quais foram os caminhos errados que eles tomaram até chegarem aqui”, orienta.

Lego

Casa da Lego em tamanho real Foto: Divulgação

A Lumen Games veio de um sonho que Tiago sempre teve de criar coisas, desde criança. “Lego era meu brinquedo favorito. Eu parti de criar casas, no mundo Lego, para o mundo virtual, que é o que fazemos hoje. Jogo é uma experiência e temos que fazer as pessoas ficarem imersas naquele universo. Seja no jogo para celular, no jogo para realidade virtual, seja num jogo de tabuleiro. A gente quer que o jogador esteja imerso ali”.

Quando fez o curso de computação, um amigo o convidou para ser sócio de uma empresa. Ele precisou sair por problemas de saúde e Tiago assumiu a Lumen onde está até hoje. “Percebi nesses 15 anos em Aracaju, que as melhores mentes saem daqui. Eles querem criar um aplicativo que mude o mundo. Poucas empresas têm essa mentalidade. Primeiro, porque não é fácil. Depois é muita burocracia, principalmente agora que atuamos no mercado internacional”, frisou.

Foi nesse mercado que a Lumen teve mais abertura lá fora do que aqui no país. “E vem as questões regionais: eu vou para São Paulo com meu sotaque nordestino e sou chamado de ‘paraíba” e questionam se meu produto tem boa qualidade. E oferecem pagar pouco. Mas no exterior é diferente, sou brasileiro e competitivo. Mais até que as empresas de São Paulo, porque meu custo de vida em Aracaju é menor.

Que tal um jogo de sinuca para descontrair?

Na Lumen, a cultura é pensar em equipe. “Falo a todos aqui: se esse prédio pegar fogo, explodir, sem ninguém dentro, é claro, em três ou quatro horas depois a empresa estará funcionando de novo porque tudo está na nuvem. O mais importante são as pessoas. Perder um colaborador é muito mais caro que perder meus equipamentos e ter que refazer tudo. Isso porque, o conhecimento que cada um deles tem é muito importante. Esse foco no colaborador, não é só o horário flexível, a sinuca ou a cerveja. O que ele precisa para desenvolver o trabalho, para se sentir reconhecido? O que precisa para ter certeza de que o trabalho dele vai fazer diferença no projeto? Dar o devido reconhecimento é muito importante”, destacou.

Ele reconhece a importância do dinheiro, do crescimento financeiro, mas diz que isso está embaixo na pirâmide de interesse dos profissionais dessa geração. Claro, ele quer morar só, viver bem, mas isso não é o mais importante. “Ele quer fazer diferença no mundo, quer criar algo que seja significativo. E é isso que vou buscar sempre nesses eventos lá fora. Projetos que possam ser melhores naquele nicho específico”, afirmou.

Não pensa

Pensar fora da caixa

Tiago frisou que hoje, o colaborador pode chegar em qualquer empresa de games e dizer que trabalhou na Lumen, que fez o jogo X e todos reconhecerem. No entanto, disse que “é muito difícil ter isso em Aracaju, uma cidade que não pensa para fora. A gente vê as pessoas  se vangloriarem dos projetos que vão para o Brasil inteiro, mas isso para a gente não é nada”, avisa.

“Não estamos nos gabando, mas porque o mercado brasileiro para o nosso segmento é 4% da indústria, na América Latina inteira. Só os Estados Unidos é cinco vezes maior em tamanho de mercado de consumo que a América Latina. Então, não focamos no Brasil. Nossos jogos são distribuídos no Brasil também, mas o jogo é feito inicialmente em inglês e depois ele é traduzido para o português. Contratamos uma empresa para traduzir. Estamos tão focados em outras coisas, que não paramos para fazer isso”, completou.

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Sobre Antônio Carlos Garcia

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