Por Antônio Carlos Garcia (*)
Do sítio agroecológico em São Cristóvão para as padarias de Aracaju e, agora, até Santa Catarina. O veterinário e produtor rural Alex Monteiro Gomes Ferreira tem apostado em um produto inovador e sustentável: o “café” de açaí, feito a partir do caroço do fruto amazônico. Natural de Belém, no Pará, ele veio visitar Sergipe e gostou. Depois se mudou para Aracaju, onde reside há 14 anos.
“Eu já usava o caroço como adubo no sítio, mas descobri que podia ir além. Transformar em café resolveu um problema ambiental e gerou valor.” Mas para aprender a fazer o café, Alex voltou ao Pará e participou de um curso.
Ele conta que em Belém são produzidas toneladas de caroço de açaí todos os dias, o que se torna um problema de saúde pública – semelhante ao acúmulo de cascas de coco em centros urbanos, como Aracaju. Aproveitar esse resíduo para criar um produto é uma solução criativa e ecologicamente correta.
O café de açaí leva esse nome pelo processo de produção, similar ao do café tradicional. “Depois que tiro a polpa, o caroço seca por 15 dias. Aí retiro uma fibra, torro, faço a moagem e embalo. Igual ao café mesmo.” Mas, apesar do processo parecido, o sabor é bem diferente: “Não é amargo, não precisa adoçar e não tem cafeína. É uma bebida suave, feita de outro fruto, com outras propriedades”, afirmou.
Estudos da Universidade Federal do Pará e da Universidade Federal do Rio de Janeiro indicam que o café de açaí ajuda no controle da glicemia e da pressão arterial, graças aos compostos presentes no caroço.

A produção de Alex ainda é pequena. O sítio tem sete tarefas e meia, com cerca de 1.500 pés de açaí plantados. Destes, menos de 500 estão produzindo. “Planto de forma escalonada, então cada ano entra uma leva nova em produção”, conta. O açaí leva, em média, quatro anos para dar fruto.
A produção do café, que começou há cerca de um ano e meio, já está presente em empórios, padarias e cafeterias de Aracaju, como a Pandora, Forneria e Empório São Bento. “Estamos começando também em Santa Catarina, com um distribuidor que pediu para vender por lá.”
Açaí fresco
Além do café, Alex também vende polpa de açaí batida no dia. “A gente colhe e processa no mesmo dia. Coloca no Instagram que tem batida do dia e o pessoal já compra. Vai gelado, mas não congelado.”

Durante os três a quatro meses em que não há colheita, a venda é feita com açaí congelado. Mesmo assim, o estoque não sobra: “Graças a Deus, vendemos tudo dentro do próprio ano. Quem prova, não quer mais outro. A diferença é grande.”
Alex também tem trabalhado para divulgar uma forma pouco conhecida de consumir açaí. “Lá no Norte, o açaí é comida, não sobremesa. Você come com peixe, com charque, com camarão. Substitui o arroz e feijão. No nosso Instagram, mostramos essas receitas também.”
Novos horizontes
O Instagram, através do @acairaiz20, é a principal ferramenta de vendas da marca, comandado pela esposa de Alex, que cuida do atendimento e da parte comercial. “A gente posta muita coisa lá. Quando tem batida do dia, a gente avisa. Temos também um grupo de clientes no WhatsApp.”
A empresa já participou de feiras como a Sealba e vem ampliando a divulgação. “A gente não quer trocar o café tradicional pelo de açaí, mas oferecer uma nova opção — saudável, sem cafeína e sustentável.”