sexta-feira, 22/03/2024
Milton Andrade: governo estadual não tem planejamento

“Esse é um governo ioiô, biruta de aeroporto”, diz o advogado Milton Andrade sobre o Governo do Estado

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A atitude do governador Belivaldo Chagas, PSD, de revogar o decreto que permitia a abertura de parte do comércio no Estado, provocou uma série de reações por parte do empresariado que não ficou nada satisfeito. Entre eles está o advogado e empresário Milton Andrade que classifica a atual administração estadual como uma “biruta de aeroporto”,  que vive ao sabor do vento, sem direção. “É um governo ioiô, biruta de aeroporto, vai e volta”, reforçou. Ele acrescenta que  não é contra e nem a favor da reabertura do comércio,  considera salvar vidas a tarefa mais importante, mas critica o governo por não ter “nenhum planejamento de como combater o coronavírus no Estado, pois, se tivesse, não teria baixado o decreto em um dia e três dias após, recuado”. Para o empresário, o governo é feito “na base do improviso, porque uma medida que se toma na terça-feira, se efetiva na quarta e na quinta é revogada, é a prova maior de que não há planejamento”, repete.  Também não escapam das críticas de Milton o governo municipal de Aracaju, que, para ele, também não faz nada. Lembra que quando parte do comércio estava aberto, as ruas do centro estavam lotadas.  O empresário também põe em xeque  as declarações do neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador da Comissão Científica do Consórcio Nordeste, por ele ser filiado ao Partido dos Trabalhadores. Numa entrevista à Globo News, o neurocientista disse que estava preocupado com a situação de Sergipe e quando o governou  revogou o decreto, ele o elogiou.  “Ele (Miguel Nicolelis) tem fortes vinculações política com o Partido dos Trabalhadores (PT) e isso já quebra um pouco da imparcialidade da opinião dele”, avalia Milton Andrade, que já foi candidato a governador de Sergipe em 2018, é ex-coordenador do Fórum Empresarial e atualmente é vice-presidente da Câmara Dirigentes Lojistas (CDL).  Esta semana, ele concedeu entrevista ao Só Sergipe. Confira.

SÓ SERGIPE – Como o senhor avaliou a iniciativa do governador Belivaldo Chagas em revogar as medidas de abertura do comércio, devido ao avanço da covid-19 em Sergipe?

MILTON ANDRADE   – O problema não é revogar o decreto que permitiu a abertura. O problema é a falta de planejamento. Não sou a favor e nem contra a reabertura, sou a favor de um planejamento, e esse governo tem mostrado que ele não tem nada disso. Ele é feito na base do improviso, porque uma medida que se toma na terça-feira, se efetiva na quarta e na quinta é revogada, é a prova maior de que não há planejamento.

SS –  Então, qual seria o planejamento ideal na sua opinião? O senhor acha que o fechamento foi de forma precipitada, o ideal seria a partir de agora? O que o senhor pensa a respeito?

MA – Veja, Sergipe estava sem testes e continua com pouco número, mas há 10 dias, o número disponível na rede pública e privada era muito baixo. Isso fazia com que muitos casos fossem subnotificados. Então a explosão de casos em Sergipe, com a chegada dos testes, tanto na rede pública como privada era o esperado. Não porque tem mais pessoas contaminadas, mas pelo simples fato delas estarem sendo testadas. Com o  número de testes aumentando, o  de infectados também aumenta. É uma consequência lógica. O que Sergipe precisa apresentar para a sociedade é qual o plano de restrição e liberação que ele vai ter, de acordo com alguns critérios a serem analisados.

SS – Que critérios são esses?

MA – Primeiro, leitos disponíveis: qual a taxa de ocupação?  Nós temos uma taxa muito baixa, em torno de 15%, tanto na UTI como na enfermagem.  Tem 85%  dos leitos disponíveis. O  governo tem que mostrar quais são os planos. Até 50%, segundo o Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS), é para ter uma flexibilização maior. Sergipe está longe destes 50% na ocupação, e o governo não apresenta o que tem que ser feito. O que precisa ser apresentado? Um plano de ação, de acordo com o número de infectados, número de ocupação de leitos, testagem no maior número possível de pessoas; barreiras sanitárias em locais de grande circulação, como terminais rodoviários e centros comerciais, para que possamos estar distribuindo máscaras, que o governo não fez absolutamente nada. Só disse que é obrigado o uso de máscara, mas nem fomentou a fabricação pelo parque têxtil sergipano, e nem disponibilizou para a população o acesso. Não faz aferição de temperatura, que é tão barata, para saber se a pessoa está febril e, se for o caso, encaminhá-la para testagem.  Com os testes, vamos identificar o quanto antes as pessoas contaminadas, e colocá-las em isolamento para evitar o contágio de outras pessoas. Mas não se faz nada disso: qual a estrutura hospitalar disponível? Se chegar a 70% de ocupação dos leitos, vai  fazer o quê? Vai ter hospitais de campanha? No Rio de Janeiro, em uma semana, fez 100 leitos de UTI. Sergipe faria quantos? Dez, 15, 30 ou 40 leitos. Qual o plano de ação? É uma previsibilidade que falta.

SS –  E nesse mesmo raciocínio do senhor sobre o Governo do Estado, entra também a Prefeitura de Aracaju?

MA – Sim. Todos dois gestores públicos estão totalmente perdidos, na ausência de planejamento. Estão tratando o coronavírus como se fosse uma chuva e fica trancado em casa. E quando passar a chuva, volta para a rua. Mas não é assim: o vírus ficará aí por muito tempo e nós vamos ter que conviver com ele. O que nós precisamos é de estratégia, infraestrutura e planejamento  para que possamos ter o menor impacto possível nesse combate ao coronavírus.

SS – Como, na sua opinião, pode se equilibrar a necessidade do comércio e todos voltarem às atividades laborais, e a importância dos cuidados contra a covid-19 e até ficar em casa?

MA – Salvar vida está sempre à frente do comércio. Primeiro cuidar das vidas. Depois usar as medidas restritivas necessárias para que vidas sejam salvas, mas não errar na dosagem da restrição, para que não se tenha o empobrecimento e a necessidade da população de forma editada. Na quarta-feira, eu dei entrevista para outro órgão de imprensa, e disse que esse decreto estava fadado ao insucesso e que o governador iria  revogá-lo.  Sinceramente, não imaginava que fosse tão rápido. Achei que poderia ser em uma semana, mas o fez em três dias. Por que motivo? Ele liberou setores não essenciais, como joalheira, relojoaria.  E outros setores essenciais como odontologia não foram liberados. A gente sabe que um polo importante de joalheira é Itabaiana e o presidente da Assembleia Legislativa (deputado Luciano Bispo) é de lá. Então não é decisão baseada em estudo, mas em política. E tudo que não é baseado em estudo cai, também, pelo mesmo motivo. Se o governador soubesse o que está fazendo, na primeira pressão que pegasse responderia tecnicamente porque tomou essas medidas. Como não tinha estudo, não conseguiu sustentar as medidas dele. Segundo: proibiu a abertura de lojas em galerias.  Por que motivo? Isso fez com que aumentasse o número de aglomeração nas poucas lojas fora de galeria, em especial as do centro comercial. O centro de Aracaju, na quarta-feira, estava com movimento igual ou superior à da época de Natal. As lojas de galeria e dos shoppings não puderam ser abertas e concentrou toda uma demanda para uma pouca oferta de lojas. O efeito de isolamento não funcionou. E o que Estado e Prefeitura estavam fazendo? Absolutamente nada.

SS – O que precisavam fazer?

MA – Não tinha um controle de fluxo de pessoas no centro, não tinha uma barreira de testagem e aferição de temperatura, não tinha distribuição gratuita de máscaras. Então, esse decreto estava fadado ao insucesso. Foi um decreto natimorto, feito como um Frankstein, um completo armengue cheio de retalhos e, lógico, não tinha como sustentar. Esse é o fato que aconteceu.

SS – Num grupo de WhatsApp, o senhor debateu com o secretário de Estado do Turismo, Sales Neto, e disse que o governo está igual à biruta de aeroporto. O senhor mantém esse raciocínio?

MA – Sim, sustento porque tenho embasamento, ao contrário do governo que não tem e toda hora recua. Mas eu tenho embasamento no que falo. Ninguém pode dizer que voltar atrás de uma medida, um dia depois, é fruto de um planejamento. Não há fato novo que justifique isso.  Se voltasse com 10 ou 15 dias era razoável, porque os fatos mudaram.

SS – Aliás, o governo voltou atrás em algumas ações, recentemente, como foi o caso da contratação do hotel.

MA – O governo contatou o hotel, emergencialmente, mas cancelou. Fez um contrato de manutenção para ar condicionado e cancela.  É um governo ioiô, biruta de aeroporto, vai e volta.

SS – O senhor acha que o governador foi influenciado pelo neurocientista Miguel Nicolelis que, em uma entrevista à Globo News, disse estar preocupado com Sergipe?

MA – Sem dúvida nenhuma. Aquela entrevista teve um impacto muito alto. O governador mencionou na própria live o neurocientista. Mas o fato é que um neurocientista que nem está aqui em Sergipe estava sabendo mais que nossa equipe de saúde. Ou nós não estamos bem equipados de informações. Pois, quem mais poderia ter autoridade no assunto são as pessoas que estão aqui na Secretaria de Estado da Saúde vivenciando a nossa realidade. E não uma pessoa que nem mora aqui, que está de longe. Demonstra mais uma vez que o governador não está cercado de pessoas que saibam o que estão fazendo e nem ele sabe o que está fazendo. Se soubesse, teria contestado o neurocientista que tem forte vinculação política com o Partido dos Trabalhadores (PT) e isso já quebra um pouco da imparcialidade da opinião dele. Mas não quero nem entrar nesse mérito. O que tem de se discutir não é o argumentador, mas o argumento. Se ele (neurocientista) apresentou argumentos técnicos de que foi um erro reabrir, cabia ao governador duas coisas: sustentar o argumento dele, dizer que está correto e apresentar um estudo feito. Ele não apresentou estudo. E não existe estudo. O que existe é improviso, esse é o governo do improviso.

SS – É fato que essas restrições levarão ao sofrimento do ponto de vista econômico.

MD – Não há problema com a restrição. Era necessário que o Estado se planejasse para o enfrentamento do coronavírus.  O problema, volto a dizer, é a falta de planejamento, sem preparação e sem uma previsibilidade do que precisa acontecer para reabrir. Se perguntarmos hoje o que precisa acontecer para reabrir, o governador não sabe responder. Ele vai dizer ‘o vírus ir embora’. Temos que estar prontos para mitigar os riscos do vírus, conviver com vírus por um tempo até que uma vacina chegue. Isso vai ser gradativo, lento. Acho que a forma de como se deu a reabertura do comércio foi irresponsável.

SS – O senhor ao tecer essas críticas ao Governo do Estado, fala como dirigente sindical (vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas) ou como uma pessoa que tem interesse político, já que foi candidato a governador do Estado?

MA – O fato de eu ter sido candidato ao governo do Estado me deu um alcance que eu não tinha. Essas críticas sempre fiz, mas não era ouvido porque não tinha alcance na minha fala. Depois da candidatura isso aumentou. Provavelmente, se eu não tivesse sido candidato ao governo, você não estaria me ligando para saber minha opinião. O fato de ter sido candidato me credenciou para que tivesse mais alcance nas minhas posições. Mas isso não tira, de forma alguma, a minha legitimidade nas críticas porque, em outras oportunidades, elogiei o governo, principalmente o episódio da contratação de hotel que eu defendi. Todo mundo caiu criticando e eu defendi. A diária de R$ 42 não estava cara, mas barata e fazia sentido o hotel ser perto do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse). Faz sentido, tem que isolar mesmo o pessoal da saúde.  Mas o governo não sabe o que está fazendo, pega pressão de qualquer lado, e revogou o contrato.  Não sou governo, mas defendi a contratação do hotel. Eu tenho pautado 100% da minha conduta em ser justo. Quando o governo merece um elogio, ele tem; quando  merece minha crítica, também tem. Essa é a parte boa de ser independente,  parte boa de não fornecer R$ 1,00 para o Estado, de não ter vinculação de cargo comissionado. Isso me dá a independência necessária para que eu possa aplaudir ou criticar aquilo que, na minha opinião, me cabe.

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