terça-feira, 15/07/2025
Raquel Freire e Maria Heloísia, empreendedoras
Duas gerações, a mesma força empreendedora: Raquel Freire e Maria Heloísia

Empreender não tem idade: Histórias que inspiram dos 20 aos 70 anos

Compartilhe:

 

Por Thiago Santos (*)

 

A idade não define sonhos, tampouco é obstáculo para quem deseja empreender com o coração. Entre o brilho nos olhos de uma jovem confeiteira e a fé resiliente de uma senhora que transforma vestidos em memórias eternas, reside a certeza de que empreender é, antes de tudo, um ato de amor. Nesta reportagem, é traçado um retrato sensível e inspirador de duas gerações que constroem seu espaço no mercado com talento, coragem e fé: a juventude inquieta de Raquel Freire, 22 anos, dona da RF Doceria, e a sabedoria determinada de Maria Heloísia, 74 anos, criadora da tradicional Eloá Noivas.

Da escola à confeitaria: a doçura que venceu o luto

A história de Raquel Freire começou de forma tímida, entre os corredores do colégio, onde vendia bolos de pote para colegas e professores. Na época, mal sabia ela que ali nascia o embrião do que viria a se tornar sua marca. Em 2021, em meio à dor pela perda do pai e ao desemprego da mãe, a paixão pela confeitaria reacendeu. Com a força que brota da necessidade e da fé, nasceu a RF Doceria — união das iniciais de sua família e da esperança por dias melhores.

Raquel Freire tem propósito

Raquel não tem só um negócio. Ela tem um propósito. Cada bolo, cada recheio é um pedaço de sonho que entrega aos clientes com o mesmo cuidado de quem prepara um presente. “Não vendo só doces. Eu vendo sonhos. É o brilho no olhar de quem recebe que me move”, diz, com a serenidade de quem encontrou sentido naquilo que faz.

Apesar da pouca idade, Raquel carrega maturidade rara. Conhece a solidão do empreendedor e os desafios que a ansiedade impõe, mas decidiu continuar — mesmo com medo. “Já pensei em desistir, muitas vezes. Mas quando estou na cozinha, vejo que ali é o meu lugar”, confessa. Hoje, divide a rotina entre a doceria e um segundo emprego, enquanto sonha em ter, em breve, sua própria loja física.

“Espalhe amor por onde for” é a frase que carrega como lema. E não é só um bordão: é a essência que adoça cada receita, que inspira seus seguidores nas redes sociais — gerenciadas por ela mesma — e que faz da RF Doceria um negócio com alma.

Dos bordados à superação: o legado de Maria Heloísia

Maria Heloísia, empreendedora
Maria Heloísia: fé, trabalho e resiliência

A trajetória de Maria Heloísia é um épico sergipano de fé, trabalho e resiliência. O negócio que daria origem à Eloá Noivas nasceu de uma urgência: sua filha ia se casar e não havia vestido. Uma tia de São Paulo enviou um modelo simples, mas foi a sensibilidade de uma cliente do salão de beleza — que na época Heloísia comandava — que acendeu uma luz: “Tá tão caro alugar vestido de noiva…” A semente estava plantada.

Mesmo sem nunca ter bordado antes, ela prometeu adaptar o vestido com brilhos e detalhes. Tentou, errou, chorou, mas persistiu. “Foi uma mentira benéfica”, brinca. Aprendeu na marra, bordou com fé. E assim, as noivas começaram a chegar. Primeiro por indicação, depois por nome. Um nome que surgiu por acaso — quando uma cliente confundiu “Eloísia” com “Eloá”. Ela achou bonito e deixou assim. Nascia a Eloá Noivas.

Ao longo de cinco décadas, Maria construiu muito mais que uma loja: edificou uma história de generosidade e superação. “O vestido mais alugado da loja foi aquele que eu vesti em cima da minha cama, num sábado, para uma noiva que só tinha moedas”, lembra, emocionada. O pagamento veio em lágrimas e centavos. O retorno, em bênçãos e reconhecimento. “Era como se eu tivesse recebido mil reais. Foi uma prova de que Deus estava comigo.”

Tecnologia, fé e o desejo de continuidade

Se para Raquel o Instagram é aliado natural, para Maria representa um desafio. A modernização do atendimento exigiu dela a coragem de recomeçar. Hoje, é a filha quem cuida das redes sociais — mas o desejo de aprender ainda pulsa. “Preciso parar e me atualizar. Não gosto de me sentir estacionada.”

Ambas reconhecem a importância de se adaptar. Mas enquanto Raquel sonha em abrir uma loja física e consolidar a marca, Maria deseja ver um de seus filhos dar continuidade ao legado que construiu com suor e oração. “Não quero riqueza. Quero deixar um exemplo de honradez, coragem e perseverança. Meu maior conselho? Não desista no primeiro obstáculo. Persista. A idade está na mente, não no corpo.”

Duas gerações, o mesmo coração empreendedor

Raquel representa o agora: coragem impulsionada por paixão, sensibilidade empreendedora em uma geração que busca propósito e conexão. Maria é a memória viva de um Brasil que empreende com fé, mesmo diante da dor mais profunda — como quando, por quase um ano, cuidou da filha acamada e ainda assim manteve as portas da empresa abertas.

Ambas nos lembram que empreender não é apenas abrir um negócio. É abrir o coração. É cuidar do outro. É sonhar com alguém. É amar o que se faz.

Dos 20 aos 70 anos, as histórias se entrelaçam e provam que empreender é uma escolha de alma — e não de idade.

(*) Estagiário sob supervisão do jornalista Antônio Carlos Garcia

Compartilhe:

Sobre Só Sergipe

Portal Só Sergipe
Site de Notícias Levadas a Sério.

Leia Também

Daniela Sena, no SergipeTec

Daniela Sena, CEO da Continental Corporation, quer aproximar Sergipe do mercado chinês

Por Antônio Carlos Garcia (*)   Ampliar os negócios entre empresários nordestinos e o mercado …

WhatsApp chat