Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
“Talvez o tempo, por si só, explique a cada um de nós o que é necessário para a felicidade. Talvez a felicidade seja sempre outra coisa, que em cada idade se revela, para que nos esforcemos de novo, continuamente. Há um amor guardado para cada fim. No limite, já não podemos adiá-lo. Temos de amar sem olhar a quem, até que, olhando, o perfeito desconhecido nos seja familiar. Até que se invente uma família, tão pura e fundamental quanto outra qualquer. A felicidade, afinal, é possível, embora se esconda atrás de um mundo de tristezas. Mas nenhuma tristeza nos deve vencer. O destino de cada um é só este: acreditar, mesmo quando ninguém mais acredite. ” — Valter Hugo Mãe, in 𝘖 𝘧𝘪𝘭𝘩𝘰 𝘥𝘦 𝘮𝘪𝘭 𝘩𝘰𝘮𝘦𝘯𝘴.
Cito o escritor português Valter Hugo Mãe, pois recebi de uma amiga querida, Estela Castanheira, residente em Lisboa, o texto acima, após ela ler a crônica “O amor e o humor salvam o mundo”, que lhe enviei na semana passada.
Gosto da escrita de Valter Hugo Mãe, cujo livro O paraíso são os outros li em um voo de São Paulo para Frankfurt, anos atrás.
A preocupação com a passagem do tempo, esse escultor invisível que molda nossa existência, não é apenas o senhor das rugas e da efemeridade da beleza exterior, mas, sobretudo, o pedagogo da alma.
“O tempo ensina, pela dor, que não basta sentir: é preciso elaborar, transformar o sofrimento em sabedoria. Nesse sentido, o pensamento é alquímico: transmuta a angústia em lucidez, o erro em aprendizado, a perda em consciência da finitude. As cicatrizes que carregamos no corpo e na alma são só registros de batalhas travadas, mas, sobretudo, são livros abertos para a leitura da própria condição humana.”
O trecho acima, que transcrevi na crônica anterior, reflete uma inquietação nossa, em qualquer época de nossa existência. Como estamos assoberbados de afazeres, temos a impressão, errônea, de que o tempo acelerou, quando, na verdade, somos nós que estamos passando rápido, envelhecendo.
Para quem leu Cem anos de solidão, obra-prima do colombiano Gabriel García Márquez, publicada em 1967, sabe que ela é muito mais do que uma saga familiar: é uma exploração profundamente alegórica da história da América Latina e da condição humana.
Através da construção de um universo extraordinário em Macondo — cidade imaginária que condensa o real e o mágico — García Márquez transforma o cotidiano em fábula e o fantástico em instrumento crítico.
O conceito de tempo em Cem Anos de Solidão é fundamental para a compreensão da obra. O romance não adota uma linearidade cronológica, mas um tempo circular, no qual os personagens da família Buendía parecem condenados a repetir, geração após geração, os mesmos erros e destinos.
Cem Anos de Solidão é uma obra monumental, pois nos convida a refletir sobre a condição humana em sua dimensão histórica, social e ontológica, através de uma linguagem que, ao desafiar as fronteiras entre o real e o mágico, revela as profundezas do nosso desejo de compreender o mundo e a nós mesmos.
A preocupação com a passagem do tempo vem dos primórdios: “O que fazemos agora ecoa na eternidade”, já indagava o imperador romano, Marco Aurélio, há milhares de anos.
“O tempo seria apenas o número ou a medida do movimento”, pregava o filósofo grego Aristóteles.
“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver”, Dalai Lama, monge budista.
“O tempo só anda de ida. A gente nasce, amadurece, envelhece e morre. Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia. Amarrar o tempo no poste”, Manoel de Barros, poeta mato-grossense.
Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. A vida é curta. O tempo voa, não tem replay e nem rebobina. Então, aproveite cada momento que vier… pois tudo passa.
Só Sergipe Notícias de Sergipe levadas a sério.


