terça-feira, 23/04/2024
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Quem viaja pelo mundo tem que abrir mão de sua zona de conforto Foto: Pixabay

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Luiz Thadeu
Luiz Thadeu (*)

Estou na Flórida, Estados Unidos, e no início da semana recebi uma mensagem da jornalista Verônica Aguiar, do jornal A Tribuna, de Vitória, Espírito Santo. Verônica já havia me entrevistado em 2015, quando fui a Vitória, e havia visitado mais de 90 países. Foi uma matéria grande, de página inteira, muitas fotografias, e chamada de capa.

Desta vez a entrevista seria sobre vantagens e desvantagens de viajar só por esse mundão de meu Deus. Ela pediu que eu gravasse pequenos vídeos, de no máximo dois minutos, pois a matéria seria para um programa de TV que ela apresenta semanalmente.

Gravei o primeiro vídeo no centro de Orlando, lugar que venho pelo menos uma vez por ano, e que por causa da pandemia do coronavírus, deixei de visitar nos últimos dois.

No vídeo, explico que tenho a meta de visitar todos os países do mundo; que na classificação da ONU são 194 países. Nas minhas andanças pelo mundo, desde novembro de 2009 até março de 2020, já pisei juntamente com minhas inseparáveis muletas, em 151 países.

Disse que no início das viagens meu companheiro era meu segundo filho, Frederico, que viajou comigo por 80 países. Hoje advogado, casado, e esperando o primeiro filho para o final do ano, não pôde mais me acompanhar.

Citei como vantagem de viajar só: você faz o seu roteiro, não fica na dependência de ninguém. Eu mesmo monto os meus. Graças às maravilhas da tecnologia, pesquiso no Google: voos, hotéis, passeios, seguros de viagem. Enfim, tudo que preciso para fazer uma boa viagem. Todas essas coisas seriam impensáveis até poucos anos atrás.

Sou de uma época que viajar para o exterior era coisa de ricos ou arremedados.

Com as informações necessárias, você atravessa o mundo, pagando pouco.

Mesmo não sabendo falar o inglês – língua universal -, viajar para o estrangeiro ficou mais fácil graças aos aplicativos disponíveis nos smartphones.

Como exemplo, cito um fato ocorrido em Minsk, capital da Bielorrussa. Em uma manhã gelada, chegando ao hotel onde tinha reserva para três dias, a recepcionista me informou, em russo, que minha reserva fora cancelada. E agora, o que fazer? Das poucas frases em inglês que sei falar é “Do you have wifi?” [Você tem Wi-Fi?],  “Yes”, respondeu ela, me conectando; e a partir daí passei a usar o Google tradutor. Pronto, resolvido.

O segundo vídeo gravei na pequena e bucólica Winter Park, cidade vizinha de Orlando, onde fui de trem. Um passeio imperdível.

Verônica queria que eu falasse sobre custos de viajar pelo mundo. Como eu monto as viagens? Custam muito? Gosto muito dessa pergunta. Nas palestras que ministro, essa é uma das primeiras perguntas que me fazem. “Você é rico? Para viajar muito é preciso ter muito dinheiro?”. Sempre respondo com uma frase que criei, e que vou patentear. “Tenho bolso raso e sonhos profundos”. Nunca soube o que é muito dinheiro. Desde garoto aprendi a ter disciplina com dinheiro. Aprendi que de onde se tira e não se coloca, acaba. Cresci ouvindo dos mais velhos que “dinheiro não aguenta desaforo”. Ou você trata bem o dinheiro, ou ele muda de mãos. Quando você ouvir dizer que dinheiro acabou, não é verdade. Ele escafedeu-se, mudou de mãos. Dinheiro nunca acaba.

A chave para viajar cabendo no orçamento é ‘planejamento’.

O terceiro vídeo gravei em Miami, onde me encontro, e de onde partirei de volta ao Brasil.

A pergunta era sobre “o que é essencial para quem quer viajar sozinho”.

Acho que em primeiro lugar, você deve ser a melhor companhia para você mesmo. Não apenas nas viagens, mas em todos os lugares. Não ter problema de solidão, ou de banzo, saudade forte das coisas ou pessoas que você deixou quando saiu. Quem viaja pelo mundo tem que abrir mão de sua zona de conforto. Já viajei com uma pessoa que dois dias fora de casa queria comer arroz, feijão e farinha. Melhor ficar em casa.

Como sou adaptável, tanto aos locais quanto às pessoas, para mim todo lugar é bom. Caso não goste do lugar onde chego, ou das pessoas que encontro, saio à francesa, sem choro ou reclamações inócuas. Não gasto energia com questiúnculas.

Nas minhas andanças pelo mundo, aprendi que o mundo trata bem quem gosta do mundo. O que mais me fascina no mundo são as pessoas que encontrei pelos lugares por onde andei. Um camponês em um trem na viagem de Casablanca a Marrakech, ou o indiano que passou o dia andando comigo em Mumbai. Ou do missionário australiano que escolheu Ushuaia, Patagônia Argentina, para viver seus derradeiros dias. Pessoas simples, com seus mundos próprios que têm muito a ensinar.

Para melhor andar pelo mundo, é bom andar com pouca bagagem, de mão e interior. Carregar apenas o essencial.

Quanto ao lado ruim de viajar só: não ter com quem dividir um café no final de tarde, vendo um lindo entardecer, ou não ter alguém para lhe fotografar, e ter que pedir para um transeunte que lhe tire a fotografia que condensará para sempre aquele momento que você nunca mais viverá da mesma forma.

Verônica me disse que a matéria irá ao ar na próxima semana, e assim que estiver disponível, disponibilizarei no meu canal @Volta ao mundo de muletas.

Que nunca nos falte boas, inesquecíveis e abençoadas viagens.

 

__________

(*) Engenheiro agrônomo, palestrante, cronista e viajante. O latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes. Autor do livro “Das muletas fiz asas”.

E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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Sobre Luiz Thadeu Nunes

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Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da Terra. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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