sábado, 20/04/2024

Conceitos e valores sociais

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Edvaldo Amorim Araújo (*)

Meus irmãos, neste mundo conturbado de hoje, especialmente, o Brasil, há muita violência, corrupção e impunidades. Penso que tudo isso se instala pela ausência de alguns valores fundamentais para o equilíbrio do homem em sociedade, como, por exemplo, o caráter, a obediência, a disciplina, a cooperação, a honestidade e honradez, que abordarei, em síntese, para não me prolongar muito neste tempo de estudos.

Antes, contudo, destaco a família, que, como base da sociedade, vem perdendo o seu papel crucial na promoção e formação do homem, cuja estrutura social e familiar está carente de princípios relevantes da boa conduta, como a tolerância, o respeito, o entendimento, a moralidade, a ética, a capacidade de sobrepor o bem pelo mal, o amor à Pátria (por que não?), o respeito às normas constituídas, a retidão de preceitos que abominam todo o tipo de preconceito  e discriminação, a busca pela paz, pelo amor à família, e, principalmente, pelo amor a Deus, o Grande Arquiteto do Universo, o Supremo, que, com Sua sabedoria, dita os caminhos a serem percorridos pela fé, e cabe a nós, terrenos e falíveis, exercitar na prática, Seus ensinamentos.

O caráter é geralmente considerado nos estudos da Psicologia como a feição psíquica da personalidade. A vida no seu aspecto natural é base biológica sobre a qual se apoia o caráter como construção do espírito. Atua nesse campo a vontade, como instrumento de integração da pessoa no ambiente, ou mundo exterior, estabelecendo o que se chama de conduta pessoal, contendo, portanto, a capacidade de decidir e de vincular-se aos valores da personalidade.

O caráter é a marca da personalidade e se revela através do comportamento, entendido este como a linha de conduta traçada segundo a escala de valores adotada.

Pelo visto, o caráter se situa no campo psicológico, fazendo parte do conjunto de elementos que realizam a composição, ou síntese da personalidade. Isso não impede que seja o caráter, padrão individual de moralidade, e esse sentido moral provém de seu papel de orientar a ação para realização de valores da personalidade, assegurando ao homem uma parcela de confiança indispensável para a harmonia da convivência social. O homem moral, o homem com quem podemos contar, põe no caráter o distintivo da sua dignidade e na praticidade de convicções verdadeiras de pessoas do bem.

Obediência é a virtude pela qual acatamos e cumprimos as ordens emanadas da autoridade legítima, inclusive, e, principalmente, quando oriunda de uma autoridade familiar. Obediência não se confunde com a atitude de servil, por interesses vis, ou por covardia, despersonalizar-se a ponto de se tornar um mero instrumento, para o bem ou para o mal, nas mãos de quem comanda. Nem se identifica também como a atitude do “bom menino”, que, como se fosse um pequeno fantoche sem iniciativa pessoal, reproduz maquinalmente os gestos os quais lhe são impostos.

A obediência é uma atitude racional e forte, porque se fundamenta em duas fases sólidas: uma visão esclarecida do princípio da autoridade; uma sensibilidade alerta para as exigências do bem comum. O verdadeiro obediente é aquele que, consciente e responsavelmente, coloca seu poder criador, sua capacidade de inciativa a serviço da comunidade representada na autoridade. A obediência não é assim um processo de esvaziamento da personalidade, mas um fator de integração de seres livres e responsáveis na obra comum. Ela tem um aspecto material e outro formal. O primeiro é a própria execução da ordem; o segundo é o acatamento da autoridade, e a assimilação do seu espírito.

Não obstante, a obediência possa exercer seu papel até por fidelidade à autoridade de modo positivo, a forma mais perfeita da obediência é a obediência filial, que cumpre ordens com amor, não por um apego sentimental aos pais, mas pelo reconhecimento cordial e pela lealdade de sua autoridade visando sempre o bem.

Disciplina, do ponto de vista militar, aplica-se à estrita obediência por parte de oficiais e soldados aos estatutos e regulamentos das corporações a que pertencem, nos quais continham e, ainda hoje, estabelecem deveres, onde as faltas graves são passivas de punições severas, e outras, de acordo com o nível de transgressão. Historicamente prestigiada por estrategistas e homens de Estado, a disciplina regulamentar rigidamente prescrita teve na Renascença até mesmo simpatia de gênios aventureiros e rebeldes.

A disciplina eclesiástica consiste, essencialmente, num conjunto de prescrições adotadas pelas autoridades religiosas, com o objetivo de manter a pureza e a integridade moral dos seus membros. Fundamenta-se nos preceitos do Antigo e do da Igreja. O organismo da Cúria Romana, o Vaticano, que julga os problemas de disciplina eclesiástica, é a Congregação da Disciplina dos Sacramentos.

A disciplina escolar, em sua forma tradicional, procurava a obediência por meio de castigos corporais, o que prejudicava os impulsos criadores dos alunos e as aspirações de suas personalidades. Os educadores da antiguidade usavam métodos através do Antigo Testamento, igualmente, na Idade Média e na Renascença, onde os castigos atingiam até mesmo os universitários. No Brasil Império, o Colégio e Seminário do Caraça, fundado em 1770, e localizado na Serra do Caraça, municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, Estado de Minas Gerais, a metodologia era de persistente severidade disciplinar com regras punitivas rígidas. Lá, estudaram dois ex-presidentes da República, Arthur da Silva Bernardes e Afonso Moreira Pena.

Com a modernização dos sistemas educacionais, a disciplina tornou-se um processo positivo e dinâmico, sobretudo, porque a nova tecnologia tenta promover estímulos aos interesses do indivíduo o do grupo, não havendo, portanto, submissão, e sim, motivação, embora o Estado brasileiro não exerça uma política de maior valorização na educação em geral.

Cooperação se manifesta até nos animais como o fenômeno gregário. Desde os mais remotos tempos, o homem começou a manifestar a necessidade de convivência com seus semelhantes. As tribos e os clãs acentuaram essas tendências com a permanente permuta de favores e obrigações.

No homem civilizado, a cooperação se evidencia desde a mais tenra idade, através dos brinquedos. Nos diferentes estágios de crescimento, vão se aprimorando formas mais evoluídas em grupos organizados, numa interação de esforços para atingir o fim colimado. Ele sucede com povos cada vez mais interligados, à medida que se alargam as fronteiras físicas e sociais e se torna notória a necessidade de serviços básicos comuns. A exemplo disso, as organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), Cruz Vermelha Internacional, Organização dos Estados Americanos (OEA), além de outras entidades que buscam a justiça social e paz no mundo.

Honestidade e honradez – Na origem latina, honestidade tinha um sentido amplo, a ponto de compreender todas as virtudes de uma vida pautada segundo a razão natural. Hoje, o termo tem um sentido mais restrito e refere-se, principalmente, à veracidade da palavra e à lisura nas relações de justiça. O honesto é aquele que não mente, que respeita a palavra dada, incapaz de qualquer apropriação indébita em seus negócios e no exercício de suas atividades públicas ou privadas. Assim, a honestidade é uma virtude moral e cívica, sem a qual é impossível aspiração do subdesenvolvimento. Quando, em um país, homens desonestos se instalam na administração pública, não há recursos que cheguem para o menor programa de desenvolvimento, para a menor melhoria das condições de vida do povo, porque quantias, as mais vultosas, desaparecem por canais ocultos e pelos processos mais habilidosos e corruptos, motivados por uma insaciável sede em acumular enormes fortunas em detrimento do povo e do país.

Um homem honrado é um homem digno e honesto. A honra pessoal é um bem moral que se estabelece sempre na responsabilidade de promover seus atos com lisura e transparência, concentrando ações que possam gerar o seu desenvolvimento pessoal, assim como em gerenciamento promissor de negócios públicos ou privados.

Portanto, caros irmãos, prega-se em nosso país muito sobre cidadania, estado democrático de direito, direitos humanos, entre outros. Nesse último, é notório observar-se seu papel ridículo e ineficaz de seus defensores ao exaltarem direitos de marginais e de  menores delinquentes, esquecem que existem também deveres a cumprir e respeito ao ditames legais, esquecem que essas pessoas devem pagar pelos seus atos criminosos. Mesmo assim, são defendidas por falsos sentimentos de humanidade e solidariedade.

Na verdade, o que se vê, ainda, é uma nítida inversão de valores, em que pessoas, políticos e empresários trilham por caminhos tortuosos, à margem da lei, assistidos por uma impunidade irresponsável, respaldada pela precariedade das normas constituídas, providas de brechas e à mercê de recursos e benefícios imorais aos meliantes, causando sofrimento às famílias e ao povo, carentes de educação e saúde de qualidade e segurança pública digna e eficaz.

Que o Grande Arquiteto do Universo – GADU – abençoe e proteja todos nós.

 

Referência

Enciclopédia de Moral e Civismo/MEC. Rio de Janeiro. 1988

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(*) Agente de Polícia Federal aposentado; Venerável mestre da Loja Lealdade Cotinguibense

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