Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Finalmente, eu consegui ver o nono (e novo) episódio de Beatles Anthology ou o quarto volume da coleção, lançada originalmente nos anos 90. O fiz pelo canal Disney+, na última segunda-feira. Além de retomar algumas questões tratadas nos outros volumes, este concentra-se na reunião de Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, naquela época, para pôr adiante o projeto e em torno das regravações das canções “Free As A Bird” e “Real Love”, de autoria de Lennon.
Mas, outro aspecto me chamou a atenção e, particularmente, por conta da memória que fazemos esta semana dos 45 anos do assassinato de John Lennon, no dia 8 de dezembro de 1980. Os três discutem a possibilidade de a banda The Beatles voltar a existir e se apresentar em turnê mundo afora, coisa que nunca aconteceu até a presente data e, agora, ainda mais difícil com o falecimento de George Harrison no dia 29 de novembro de 2001.
Ora, a razão, naqueles anos 90 era muito óbvia: a ausência física de Lennon. Embora, se pudesse trabalhar alguma coisa em torno de sua voz ou mesmo de um eventual convite feito a um de seus dois filhos: Julian Lennon, com sua primeira esposa, Cynthia Powell (1963), e Sean Lennon, com Yoko Ono (1975). Aliás, ambos excelentes músicos e cantores, o primeiro, com uma carreira solo destacada nos anos 80, com sucessos como “Too Late for Goodbyes” (1984).
Do ponto de vista comercial, uma reedição dos Beatles com Paul, George e Ringo, certamente, teria sido um sucesso de crítica e, também, de vendas. Mas, eles, em nenhum momento, cederam a essa tentação, permanecendo fiéis à memória de Lennon, sem que para isso não deixassem de mantê-la viva como o fazem até hoje com ele e com Harrison e com a própria banda. Harrison chegou a dizer no documentário que os Beatles existem descolados deles, com eles vivos ou não. E isso é fato!
Com recursos cada vez mais modernos, embora McCartney seja terminantemente contra o uso da IA, os projetos de memória em torno da banda e deles tendem a ser cada vez mais constantes. Tanto é verdade que, passados tantos anos, seguem sendo ovacionados e curtidos por inúmeras gerações, inclusive por aquela que nem existia ainda quando eles estouraram no mundo inteiro.
Sobre o assassinato de John Lennon, assistindo a alguns vídeos e reportagens exibidas essa semana, seja na TV, seja nas redes sociais, fiz um exercício de memória para buscar a primeira notícia que meu cérebro registrou sobre ele e sobre a banda Beatles e, por incrível que pareça, como foi para a minha esposa, não foi a notícia divulgada no Jornal Nacional por Cid Moreira, ou as entrevistas de cantores e artistas brasileiros a respeito.
Naquele mesmo ano, morria também, Vinícios de Moraes, no dia 9 de julho, notícia da qual tenho mais lembrança. Mas, anos depois, ao me tornar beatlemaníaco, tratei logo de saber algo mais sobre aquele fatídico acontecimento que tirou Lennon da cena cultural e percebi que estava diante de alguém que era e ainda está acima do sujeito artista e beatle famoso. Eu conhecia um homem sensível, inquieto e pacifista, capaz de ter empatia com o sofrimento dos outros e, que a exemplo de tantos do mesmo naipe (Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr., por exemplo), teve o mesmo e trágico destino, com suas vidas ceivadas por fanáticos, egoístas e inimigos da paz.
“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!”, afirmou Jesus Cristo (Mt 5,9). Em que pesem os dilemas em torno da religião e do próprio Cristianismo, ele jamais seria reconhecido como tal; mas, tendo em conta o amor misericordioso de Deus, que o legado de John Lennon tenha colaborado para sedimentar ainda mais esta máxima, ainda tão longe de ser alcançada, frente a tantos males bélicos que insistem em afetar o nosso tempo.
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